Woody Allen une tragédia e comédia em novo filme

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Publicado Sábado, 18 de Setembro de 2004 às 08:50, por: CdB

A fronteira clara entre tragédia e comédia é feita em cinzas pelo cineasta americano Woody Allen, em seu mais recente filme, Melinda & Melinda, uma história que se divide em duas narrativas e que abre, nesta sexta-feira, a 52ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián.

"A vida é uma comédia ou uma tragédia, depende do ponto de vista que se use", diz o cartaz promocional do filme, resumindo o roteiro em que uma mesma história é contada consecutivamente do ponto de vista cômico e trágico.

No entanto, para Woody Allen a vida só pode ser trágica, como ele mesmo reconheceu na longa entrevista coletiva que atraiu uma multidão de jornalistas depois da exibição do filme, aplaudida pelo público presente no Teatro Kursaal de San Sebastián.

"Eu tenho uma perspectiva muito, muito pessimista (da vida), devido à minha filmografia anterior. Para mim, pessoalmente, ou é trágica ou é extremamente trágica", disse o cineasta, famoso pelos filmes dominados por personagens neuróticos, caso de uma das duas Melindas, nome que ele disse ter escolhido porque era fácil de teclar quando escreveu o roteiro.

Protagonizado pelas atrizes Radha Mitchell (Melinda), Amanda Peet e Chloë Sevigny, todas presentes na entrevista coletiva, o filme aplica, em muitos momentos, a frase de um dos personagens: "os momentos de humor (existem) num contexto trágico generalizado".

Uma frase que Allen não hesitou em aplicar ao presidente americano, George W. Bush, cuja reeleição disse que seria uma "tragédia automática". "Olhar e acompanhar (Bush) de perto poderia render muitas gargalhadas, mas este é um exemplo perfeito de ilhas de momentos cômicos com um fundo trágico", afirmou o cineasta.

A presença de Woody Allen é um sonho feito realidade para os organizadores do Festival de San Sebastián, que em várias oportunidades tentaram contar com o consagrado cineasta nova-iorquino, a quem na noite de abertura do evento, nesta sexta-feira, receberá das mãos do diretor espanhol Pedro Almodóvar o prêmio Donostia pelo conjunto de sua obra.

"O público espanhol sempre apoiou meus filmes e queria, com a minha presença, fazer um gesto de reciprocidade. Dizer obrigado ao público espanhol", disse o diretor, a quem o festival de San Sebastián homenageia com uma retrospectiva sobre toda a sua obra.

Woody Allen também antecipou a disposição de continuar filmando no exterior (atualmente está rodando seu novo projeto em Londres), diante dos entraves que sofre como conseqüência da intromissão dos diretores da indústria cinematográfica.

"A indústria cinematográfica americana não é a mais sensível do mundo e (...) com o filme Melinda & Melinda tive muita sorte (...) tive uma liberdade artística total, mas isto nem sempre acontece nos Estados Unidos", afirmou, antes de explicar que tem que lutar para evitar a intromissão de "executivos de estúdio".

Com seu característico gestual, que manteve durante toda a entrevista coletiva, inclusive em suas respostas mais irônicas que levaram os assistentes às gargalhadas, Allen se defendeu dos que dizem que seus filmes sempre se repetem.

"Para mim são muito diferentes. E isto é o mesmo que podemos dizer da comida chinesa nos Estados Unidos, que tem centenas de pratos, mas que ao final é tudo comida chinesa. Assim, a mesma mentalidade está por trás de todos estes filmes e embora eu as veja como muito diferentes, é possível que um espectador as veja como procedentes da mesma pessoa, como similares", disse.

Dezesseis filmes disputam a Concha de Ouro de melhor filme nesta edição 2004 do Festival de San Sebastián, que se estenderá até 25 de setembro.

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