<i>Vigaristas</i> tira partido de atores premiados com Oscar

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Publicado Quinta, 22 de Outubro de 2009 às 09:56, por: CdB

Em seu longa de estreia, A Ponta de um Crime - inédito nos cinemas brasileiros mas lançado em DVD -, o cineasta Rian Johnson ganhou um Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance de 2005.

Três anos depois, ele assina a comédia Vigaristas, que estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Campinas. Para este segundo longa, o diretor e roteirista conseguiu atrair um elenco de respeito, integrado por Rachel Weisz (dona de um Oscar de coadjuvante por O Jardineiro Fiel), Adrien Brody (Oscar de melhor ator por O Pianista", Mark Ruffalo (que estrelou Ensaio sobre a Cegueira), Robbie Coltrane (o Hagrid da cinessérie Harry Potter) e a atriz japonesa Rinko Kikuchi (de Babel).

Um dos fatores de atração para todos esses talentos foi, certamente, a possibilidade de atuar numa história em que o nível de inteligência é bem acima da média das comédias. Assim, os personagens não passam o tempo tentando ser apenas engraçadinhos, repetindo piadas-clichê ou escorregando em escatologias. Vigaristas tenta ser esperto, mas faz humor para adultos.

O enredo: dois irmãos órfãos passam a infância perambulando de um lar adotivo para outro, sem encontrar parada fixa. Antes que alguém se compadeça da sorte das crianças, é bom saber que se trata de uma dupla de pequenos malandros. Desde pequenos, bolam um jeito de tirar uma graninha dos coleguinhas de escola com altas histórias envolvendo falsos tesouros e outras lendas.

E assim eles crescem, para tornar-se Stephen (Mark Ruffalo), o mais velho e autor intelectual dos golpes, e Bloom (Adrien Brody), o caçula atormentado, mas que vai na onda do irmão. Completa o trio a japonesa Bang Bang (Rinko Kikuchi), que fala muito pouco e é a especialista em explosivos.

A rotina do trio envolve pesquisar quem são os donos da grana, inventar uma falsa biografia para os golpistas entrarem no seu círculo e montar um esquema engenhoso para apossar-se das maiores somas possíveis. O próximo passo é viajar para bem longe do local do último golpe. Por isso, eles andam de Praga a São Petersburgo, de lá para Nova Jersey ou onde mais estiver um capital apetitoso.

O problema é que Bloom está em crise com essa vida instável. Quer viver por si mesmo e sem ter que inventar nomes ou passados falsos. Ele abandona o irmão, refugiando-se em Montenegro, numa casinha com vista para o mar. A paz dura até o dia em que Stephen o reencontra e o convence a entrar num último trabalho.

A missão de Bloom será aproximar-se de uma herdeira jovem, bela e solitária, Penélope (Rachel Weisz). O trio arranja um jeito de ela atropelar Bloom, que anda de bicicleta, um acidente que nem é tão difícil, dada a falta de habilidade de moça na direção. Acontece que ela e Bloom são quase almas gêmeas. E fica cada vez mais difícil para ele dar um aplique em alguém de quem está gostando.

Como sempre, Stephen banca o cínico. Bota dúvidas na cabeça de Bloom sobre o próprio amor e tenta manter sua parceria de sucesso no mundo do crime. Por algum motivo, Bloom é inseguro e dependente desse irmão altamente manipulador, que foi sua única referência familiar. Não que o filme entre num rumo de psicanálise tanto assim. Na verdade, o que perturba o equilíbrio do tom irônico da história é querer acumular peripécias demais. 

Percebe-se também uma preocupação com as referências cinematográficas. O universo de Johnson, ainda um cineasta em formação, passa claramente pelo de Wes Anderson (Viagem a Darjeeling) e o do Steven Soderbergh de Onze Homens e um Segredo, com uma pitada de Guy Ritchie ("Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes"), só que com um senso de humor mais fino e sem tanta violência. Se evoluir para firmar seu próprio estilo, o futuro do diretor de Vigaristas pode ser promissor.

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