Publicado Quinta, 18 de Agosto de 2016 às 11:39, por: CdB
O imbroglio aumenta ainda mais quando o Uruguai, segundo Prado, “não altera em nada a sua posição de seguir no apoio à Venezuela para ocupar a Presidência pro-tempore do Mercosul”
Por Redação - de Brasília
A polêmica inaugurada por um convite mal colocado na visita do chanceler provisório, José Serra, ao Uruguai, está longe do fim. O senador tucano paulista bem que tentou, na noite passada, colocar um ponto final na acusação de que teria tentado subornar o governo uruguaio com uma série de contratos comerciais, caso a nação cisplatina deixasse de reconhecer o direito da Venezuela à Presidência pro-tempore do Mercosul. Serra disse que o seu equivalente em Montevidéo ligou, com um pedido de desculpas pelas críticas, formuladas publicamente contra a proposta de Serra, depois de publicar nota na qual assinala “um mal entendido” na questão.
O chanceler Nin Novoa, do Uruguai, segue no apoio à Venezuela para a Presidência pro-tempore do Mercosul
A reportagem do Correio do Brasil, no entanto, apurou junto ao adido de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do Uruguai, Geraldo Prado, que oficialmente a conversa por telefone pode não ter existido.
— Não temos confirmação de que o chanceler Nin Novoa teria ligado para o senador José Serra — afirmou Prado, com exclusividade ao CdB.
O imbroglio aumenta ainda mais quando o Uruguai, segundo Prado, “não altera em nada a sua posição de seguir no apoio à Venezuela para ocupar a Presidência pro-tempore do Mercosul”.
— O Uruguai deixou clara sua posição, tanto agora quanto na visita do senador Serra — acrescentou Prado.
Impasse desconfortável
Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), em nova distribuída nesta manhã, “o impasse no Mercosul está sendo causado pelo Brasil. Também por Paraguai e Argentina, mas coordenado pelo Brasil”. Pimenta comentou a nota divulgada na noite anterior, pelo Itamaraty, na qual o ministério respondeu a informação sobre a suposta proposta do ministro das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, de trocar apoio comercial ao Uruguai pelo "voto" do país contra a Venezuela no Mercosul. Segundo o comunicado oficial, "o governo brasileiro tem buscado, de maneira construtiva, uma solução para o impasse em torno da presidência pro-tempore do Mercosul".
Em requerimento protocolado na Câmara, o deputado Afonso Florence (PT-BA) pede a convocação de Serra para prestar “pessoalmente”, na Câmara dos Deputados, explicações sobre a suposta proposta brasileira ao governo uruguaio, noticiada pelo jornal El País, de Montevidéu.
— A receita que usaram no Brasil, de rasgar a Constituição e a democracia para tentar colocar um projeto golpista no poder, é a mesma que agora tentam utilizar no Mercosul — comentou Pimenta.
O parlamentar afirmou, ainda, que considera "extremamente grave" não apenas a informação do diário uruguaio como a própria gestão de Serra, que, em 5 de julho, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a Montevidéu, onde se reuniram com o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, e o chanceler Rodolfo Nin Novoa. O objetivo foi tentar postergar a passagem da presidência do Mercosul ao governo venezuelano de Nicolás Maduro.
— É incomum que um ministro, Serra, tenha pego um avião da FAB, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e se deslocado ao Uruguai para uma agenda bilateral, não prevista, no sentido de solicitar ao Uruguai que não passasse a presidência do Mercosul para a Venezuela. Esse fato por si só não é normal em relações exteriores. O que Fernando Henrique estava fazendo lá? — questionou.
Segundo o petista, as petroleiras norte-americanas "não têm nenhum interesse em ter a Venezuela no Mercosul".
— Vieram a público, através de denúncia do WikiLeaks, trocas de mensagens do Serra com a Embaixada dos EUA e representantes das petroleiras norte-americanas revelando uma total intimidade do Serra tratando questões estratégicas do petróleo — disse.
Em 2009, segundo o WikiLeaks, o atual ministro brasileiro teria prometido a uma representante da petroleira Chevron que, se vencesse as eleições em 2010, mudaria a legislação que rege as regras do pré-sal.
— Há uma forte compreensão de nossa parte que o pano de fundo dessa história é o fato de que a Venezuela é um país que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, que são estatais, como a grande maioria dos países, num momento em que o Brasil está abrindo as suas reservas através do projeto do Serra, do pré-sal, para exploração das empresas multinacionais — desconfia Pimenta.
Para Pimenta, "tudo isso é parte de um contexto mais amplo, em que o Serra age como representante das petroleiras norte-americanas e tenta fazer no Mercosul o que estão fazendo no Brasil, que é um golpe para vender nossas riquezas e enfraquecer o Mercosul".
Golpe no Mercosul
Não satisfeito com a repercussão de sua visita a Montevidéo, o chanceler provisório disse, noite passada, que a Venezuela "entrou no Mercosul a partir de um golpe".
A declaração ocorreu após o encontro entre Serra e o deputado venezuelano Luís Florido, presidente da Comissão Permanente de Relações Exteriores, Soberania e Integração da Assembleia Nacional da Venezuela; Carlos Vecchio, coordenador político do partido opositor Vontade Popular; e Lilian Tintori, esposa do opositor venezuelano Leopoldo López, condenado a 13 anos de prisão por incitação à violência que deixou mortos e feridos durante protestos antigoverno em 2014 pelo país.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, a entrada do governo venezuelano no bloco foi "um golpe" porque se deu graças à suspensão temporária do Paraguai, comandado na época por Federico Franco, único opositor no Mercosul à entrada de Caracas.
Em 2012, Hugo Chávez, então presidente da Venezuela, solicitou a adesão ao bloco. O pedido foi aceito por Brasil, Argentina e Uruguai. O Congresso paraguaio, porém, bloqueava o pedido. Assim, quando a nação foi suspensa do bloco devido a um golpe parlamentar contra o presidente Fernando Lugo, os outros países-membros aprovaram a entrada venezuelana.
Serra voltou a afirmar que a Venezuela não cumpriu os pré-requisitos necessários para a adesão ao bloco – afirmação negada pela chancelaria venezuelana na última segunda-feira.
– Foram dados quatro anos para que cumprisse e não cumpriu (os pré-requisitos de adesão). A Venezuela não tem condições de assumir a Presidência pro-tempore. A Venezuela não vai assumir o Mercosul – disse.
Para o ministro brasileiro, outro fator que impediria a Venezuela de ocupar o cargo temporariamente seria seu governo, o qual classificou de “regime autoritário”.
— A Venezuela é um regime autoritário. Tem presos políticos. A Venezuela está sem rumo neste momento. Nós reiteramos nossa preocupação com essa situação e desejamos ardentemente que seja realizado um referendo revogatório do presidente Nicolás Maduro. Todos os países devem pressionar a Venezuela a realizar o referendo o mais breve possível — conclui Serra.
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