Uma Igreja fora da realidade

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Publicado Quinta, 10 de Maio de 2007 às 17:07, por: CdB

Acabo de ler uma entrevista com o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, e me pergunto se a Igreja Católica romana chegará ao fim deste século. Diante da falta de discernimento de seus inspiradores, tem-se a impressão de viverem ou num outro planeta ou num outro século. Uma coisa é certa - se continuarem ignorando a realidade acabarão tendo fiéis cada vez mais infiéis e acabarão por ficar com as igrejas vazias.

Há cerca de quatro anos, um importante clérigo católico, ao arrepio do que afirmam postos de saúde, médicos e a própria Organização Mundial da Saúde, disse, no Brasil, que os preservativos não são seguros e que o virus da Aids pode pasar por seus interstícios. Uma grossa bobagem, na mesma linha da Terra é plana ou centro do Universo, da Idade Média.

Naquela época, falei imediatamente com o dr. Paulo Teixeira, então, encarregado da UNAIDS, que desmentiu as informações pseudo-científicas do responsável católico, com bastante diplomacia para não criar problemas com a Igreja.

Como o Papa estará chegando hoje aí no Brasil, acostumado que sou a meter a mão em vespeiros, me permito algumas palavras de boasvindas ao ex-cardeal Ratzinger, conhecido na época pelo conservadorismo com que defendia os dogmas e as doutrinas católicas. Não vou nem de longe mexer na história da adolescência militar de Ratzinger, hoje Bento XVI, pois alguém me lembraria que disso nem o escritor Gunter Grass escapou.

O que me deixou preocupado ao ler a entrevista de dom Geraldo Majella foi saber da disposição da Igreja de se mobilizar contra a legalização do aborto no Brasil, em nome da defesa da vida. Uma pena que essa tão grande preocupação em assegurar o nascimento dos fetos, geralmente no ventre de mães pobres e destinados a serem moleques de rua ou morrerem de má nutrição, não seja acompanhada de orfanatos, escolas grátis para esses filhos desejados pela Igreja.

Vejam só, Portugal sempre foi considerado como tendo uma das mais reacionárias igrejas católicas da Europa, que vivia de braços dados com o salazarismo. Portugal saiu da ditadura tão abençoada e se modernizou com a União Européia. E, aprovou, enfim, uma lei do aborto que vai evitar prisões e mortes de mães desesperadas por terem um filho não desejado ou que não poderia dar uma vida decente.

Faz muito tempo, em 1975, a França aprovou a legalização do aborto como corolário do movimento da emancipação feminina - o direito de ser dona do seu ventre. Os padres de Portugal foram contra, mobilizaram tudo quanto podiam, mesmo se sequer saibem o que é uma família, por guardarem mais mal que bem o celibato.

O abade Pierre, fundador da comunidade de Emaús, que protege os excluídos sociais, pediu a um de seus amigos para entregarem ao Papa uma carta póstuma, em favor do casamento dos padres. O abade Pierre tinha sucumbido, na juventude, ao prazer da carne e, durante sua longa vida, constatou ser um enorme erro o de se impedir aos padres ter uma família normal. O Papa até hoje não comentou essa carta, porque o celibato é tabu. Um tabu que acabará enterrando a Igreja, pois sem padres casados a Igreja vem sendo vítima de esterilidade, pois não existem mais vocações clericais.

Ouvi, ainda hoje, uma correspondete da rádio Europa 1, falando sobre a Igreja católica no Brasil, domesticada pelo Vaticano, depois de terem sido punidos ou marginalizados os padres da teologia da libertação, como Leonardo Boff. Uma Igreja que não tem mais nada a ver com a

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