Um terço do mundo ainda segue pessimista em relação à crise

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Publicado Quarta, 09 de Setembro de 2009 às 09:25, por: CdB

Estudo do IBOPE Inteligência, em parceria com a rede global de pesquisas Worldwide Independent Network of Market Research (WIN), divulgado nesta quarta-feira, mostra os resultados da terceira onda da pesquisa global sobre a percepção da população mundial em relação à crise econômica. Intitulado Barômetro Mundial sobre a Crise Financeira, o estudo ouviu 21.088 pessoas em 22 países, sobre o futuro de seu país, de sua renda e a confiança no governo, nos bancos e nas ações de mercado.

A pesquisa, inédita, aponta uma redução do pessimismo na população mundial, movimento diferente ao da população brasileira, onde o pessimismo apresentou variação de 14% para 15%. O brasileiro é um povos dos mais otimistas no mundo, perdendo somente para Arábia Saudita e o Líbano. No cenário internacional, o grupo dos pessimistas tem perdido força. Na primeira onda, somavam 49% da população, na segunda 43% e, agora, chega à casa dos 31%. Da mesma forma, houve crescimento gradual na fatia dos otimistas, cuja soma variou dos 12% na primeira onda para 16% na segunda, chegando agora à marca de 19%.

Entre os maiores países da América Latina - Brasil, México e Argentina - destaca-se o otimismo dos brasileiros. A situação irá melhorar para 29% dos brasileiros, 14% dos mexicanos e 11% dos argentinos. Ou, ao contrário, os pessimistas somam 41% na Argentina, 32% no México e 15% no Brasil.

Otimismo brasileiro

No Brasil, o otimismo em relação à situação econômica do país é um pouco maior em alguns segmentos da sociedade, principalmente na população mais carente (menor renda e escolaridade) e nas regiões norte, centro-oeste e nordeste. Vale observar que a população mais velha está mais pessimista e que o otimismo é maior entre homens e na faixa etária de 30 a 39 anos.

No tocante à expectativa quanto à renda familiar, os indicadores apresentam poucas alterações desde dezembro de 2008. Os cidadãos continuam menos negativos em relação a sua própria situação financeira do que com a situação financeira da sociedade: enquanto 31% acreditam que a situação econômica vai piorar, somente 23% acreditam que a sua renda familiar vai diminuir nos próximos 12 meses.

No entanto, de forma semelhante ao visto nas previsões econômicas, a maior parte da população global não acredita em alterações em sua renda: 48% acham que a renda da família se manterá a mesma nos próximos 12 meses.

No Brasil, foi verificada queda no otimismo quanto à renda familiar, mas também nesse indicador, o país se mantém entre os mais otimistas do mundo. Até março, o índice no Brasil estava completamente fora do padrão global. Na pesquisa atual, o percentual de otimismo brasileiro sofre uma forte queda, se equiparando ao padrão global. Fica, portanto, a impressão de que a reação do Brasil está defasada ou atrasada em relação aos demais países pesquisados.

Segundo a diretora executiva de atendimento e planejamento do IBOPE Inteligência, Laure Castelnau, o Brasil ficou mais tempo otimista que a média mundial, indicando que a população demorou mais a se dar conta dos efeitos da crise. “Mesmo assim, o país ainda é um dos mais otimistas do mundo”, afirma.

A respeito dos segmentos brasileiros, há maior otimismo com relação ao aumento da renda familiar na região nordeste, nas classes AB, entre os jovens e entre homens, de acordo com a gráfico abaixo.

Bancos, governo e ações

De maneira geral, a confiança global nos governos, nos bancos e no mercado de ações situa-se próxima à média da escala. Observa-se, ainda, que há mais confiança nos bancos do que nos governos. E, no tocante ao mercado de ações, é possível verificar uma recuperação da confiança, sinalizando um período de maior tranqüilidade, com repercussões importantes no mercado financeiro.

O Brasil apresenta uma redução no índice de confiança no governo, de 6,4 para 6,1, mas ainda está entre os países mais confiantes, junto com China (7,2), Índia (6,3) e Arábia Saudita (6,4). Apesar da queda no índice brasileiro, a média do BRIC se eleva de 5,8 para 6,2.

Na média global, o nível de confiança na solidez e estabilidade dos bancos se manteve inalterada desde dezembro de 2008. Chineses (7,1), canadenses (6,4) e hindus (6,3) expressam os mais altos níveis de confiança nos bancos enquanto alemães (4,0), espanhóis (3,8) e ingleses (3,3) apresentam os menores níveis de confiança. Na Espanha, nota-se uma forte e constante queda no nível de confiança. O índice de confiança brasileiro está estável, sendo, no entanto, inferior à media atual do BRIC (5,8 versus 6,2).

Quanto ao mercado de ações, a média global de confiança na sua solidez e estabilidade não apenas está aumentando como é o maior índice desde dezembro de 2008. Entre março e julho de 2009, poucos países apresentam queda na confiança no mercado de ações, sendo estes: Espanha, Islândia e Arábia Saudita. O índice brasileiro de confiança no mercado de ações é estável e superior à média global e à média do BRIC.

Diferente da média global, no Brasil há mais confiança no governo do que nos bancos. Novamente o Brasil apresenta uma tendência inversa em relação à média global. Tanto os indicadores de otimismo quanto os indicadores de confiança estão em declínio, seja porque os índices estavam elevados demais até março deste ano, seja em função de uma reação atrasada dos brasileiros em relação à média mundial.

Mercado imobiliário

Na média global, 40% da amostra não acredita que este seja um bom momento para comprar um imóvel. Os países onde há maior propensão a compra de imóvel nesse momento são Suiça, Austrália, Canadá, Áustria, Holanda e, surpreendentemente, os EUA.

Por outro lado, Austrália, EUA, Canadá e Coréia também apres entam cerca de 1/3 de suas respectivas populações como “inseguras” quanto a comprar uma casa nesse momento. Outro indicador com importante impacto é a diminuição significativa do pessimismo global com relação ao mercado imobiliário, que contava com 43% das pessoas em dezembro e, atualmente, reúne 34%.

Os países que apresentam a maior redução de pessimismo são: Holanda, Índia, China, Argentina e Rússia. No Brasil, aproximadamente metade da população ainda não acha que seja um bom momento para comprar um imóvel.

Uma parcela significativa dos entrevistados nos países estudados já fizeram cortes de gastos nas categorias avaliadas. Globalmente, as categorias relacionadas à tecnologia parecem ser as menos afetadas por cortes, como celular, TV por assinatura e internet. Vestuário, calçados, lazer e eletrodomésticos são as categorias mais atingidas pelos cortes.

Os países que apresentam maiores cortes de despesas são México, Islândia, Argentina, EUA e França. Por outro lado, holandeses, suíços e austríacos são os que menos efetuaram cortes nos gastos.

De março para julho de 2009 aumentou a parcela de brasileiros efetuando cortes de despesas, mantendo uma média total próxima à média mundial, em mais um movimento que confirma a reação “tardia” dos brasileiros.

As categorias que mais sofrem cortes no Brasil seguem a tendência mundial, com exceção da telefonia móvel: 47% da população brasileira tem cortado gastos com celular, contra 33% na média mundial.

Considerando aqueles que fizeram cortes em pelo menos uma das 11 categorias pesquisadas, vemos que 80% dos brasileiros já efetuaram algum corte, proporção bastante superior àquela de março deste ano (67%).

A pesquisa Barômetro Mundial sobre a Crise Financeira foi realizada entre junho e julho de 2009. As entrevistas foram feitas por internet, telefone ou pessoalmente. A amostra de cada país é representativa da população em termos sóciodemográficos. Os tamanhos das amostras garantem análises muito precisas, com margens de erro que variam de 2,5 a 4,9 pontos percentuais.

Participaram desta pesquisa os seguintes países: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Islândia, Itália, Japão, Líbano, México, Reino Unido, Rússia e Suíça.

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