Tunísia precisa da solidariedade do Ocidente

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Publicado Sexta, 20 de Março de 2015 às 06:47, por: CdB
Rep/Web     O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, formulou a questão de forma pertinente ao se referir ao atentado terrorista de Túnis: "É um ataque covarde contra todos nós, um ataque a nossos valores comuns enquanto humanidade." Não se trata apenas de palavras diplomaticamente convenientes para um incidente chocante. Elas também contêm uma verdade mais profunda, reveladora dos presumíveis motivos dos agressores. Pois a Tunísia certamente não entrou por acaso em sua mira. Atacá-la é atacar um modelo e uma visão de futuro: a visão de um mundo árabe em que estabilidade não significa repressão, em que democracia, sociedade civil, desenvolvimento e direitos humanos têm uma chance real, apesar de numerosos obstáculos e desafios. A Tunísia é a "mãe" da assim chamada Primavera Árabe, e o único país da região em que os valores desse movimento de libertação ainda contam de forma perceptível. Muçulmanos moderados e diferentes forças seculares se dão ao trabalho de dialogar, em vez de incitar ao ódio e à confrontação. A sociedade civil vive. E os direitos dos cidadãos, em especial das mulheres, são regulamentados de forma exemplar, em comparação a outros países árabes. Não só terroristas, mas também numerosos regimes autoritários da região não têm interesse em tal modelo, que compete com suas próprias ideologias e projetos de sociedade. Por isso, o atentado ao Museu Nacional do Bardo não é apenas um ataque contra a herança pré-islâmica tunisiana, que os salafistas radicais gostariam de ver erradicada tanto lá como na Síria e no Iraque. Eles veem também na Tunísia contemporânea uma "criança mimada do Ocidente", que cabe combater de forma consequente; querem impedir a todo custo que a nação se torne um exemplo regional de sucesso político e econômico. O assalto ao Museu Nacional de Túnis ameaça agora fazer retroceder o país em seu progresso, ao mesmo tempo em que abre os olhos para os numerosos desafios sociais e de política de segurança com que a pequena nação do Magrebe se defronta. Sua situação econômica é opressiva; o setor turístico, de extrema importância nacional, deverá sofrer um impacto ainda maior depois desse atentado. Opressivamente elevado é igualmente o desemprego juvenil. Muitos jovens tunisianos não veem para si nenhuma perspectiva de vida realista. Não são poucos os que emigram clandestinamente para a Europa ou embarcam – ofuscados pela ideologia ou simplesmente por um soldo atraente – no "jihad" da Síria ou do Iraque. Em termos percentuais, a Tunísia é um dos países árabes de onde mais acorrem guerrilheiros para as alas do "Estado Islâmico" (EI) e outras organizações radicais semelhantes. Há muito, grupos terroristas estão ativos no próprio país, sobretudo nas zonas de fronteira. Quando o chefe da diplomacia alemã diz que foi "um ataque contra todos nós", ele quer dizer igualmente que o ataque foi também contra a política externa e de desenvolvimento da Alemanha e da União Europeia, que têm apoiado fortemente o avanço da Tunísia em direção a uma sociedade civil democrática. Steinmeier também poderia ter dito: "Nós somos a Tunísia", da mesma forma que a campanha que sucedeu aos atentados de Paris – da mesma forma como precisamos nos solidarizar, em todo o mundo, com as vítimas da violência. Mas não se deve permanecer só nas palavras. Além de mais cooperação econômica e para sua sociedade civil, a Tunísia precisa, ainda, de mais auxílio concreto no setor de segurança, por maiores que sejam os riscos que isso acarrete. E também merece mais apoio do próprio mundo árabe. Pois a visão que está em jogo na Tunísia não é "ocidental": ela é a visão de uma síntese de democracia, desenvolvimento e cultura árabe-islâmica condizente com a atualidade. Vale a pena lutar por ela.   Rainer Sollich, da redação árabe da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW).
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