Tribunal Ético condena EUA por militarismo e crimes de guerra

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Publicado Quarta, 01 de Junho de 2011 às 06:55, por: CdB

“Os Estados Unidos são culpados de intervenção e agressão militar, de ingerência nos assuntos internos de países soberanos” e outros crimes conexos contra o direito internacional e os direitos humanos. Nisto se resume o veredito do Tribunal Ético sobre as bases militares estrangeiras na América Latina e Caribe, realizado na tarde desta terça-feira (31), em Buenos Aires, na sede da Faculdade de Direito da Universidade Nacional da Argentina.O tribunal foi presidido pelo Dr. Beinusz Szmukler, presidente do Conselho Consultivo da Associação Americana de Juristas e tinha entre seus membros Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz e presidente do Serviço de Paz e Justiça, o bispo Aldo Etchegoyen, copresidente da Assembleia Plenária pelos Direitos Humanos e membro do Conselho Mundial das Igrejas, Marta Vázquez, presidente da organização Madres de La Plaza de Mayo (linha fundadora) e Rosa Roisimbrit, vice-presidente da organização Abuelas (Avós) de la Plaza de Mayo (linha fundadora).

Secretariado por Miguel Monserrat, copresidente da Assembleia Plenária pelos Direitos Humanos e Rina Bertaccini, presidente do Movimento Paz e Solidariedade (Mopassol), o tribunal ouviu o depoimento de uma dezena de peritos e testemunhas.

Entre eles, pronunciaram-se a escritora Stella Calloni, o coronel da reserva Horacio Ballester, o sociólogo Atílio Borón, a antropóloga estadunidense Adrienne Pinea, a advogada Dra. Mirta Mántaras, Nora Cortiñas das Madres de La Paza de Mayo, Enrique Daza, secretário-executivo da Aliança Social Continental, o jornalista brasileiro José Reinaldo Carvalho, diretor do Cebrapaz e Ernesto Alonso, do Centro de Ex-combatentes das Ilhas Malvinas.

Todos fizeram depoimentos contundentes com denúncias vivas dos crimes de guerra do imperialismo estadunidense e das violações à soberania dos países e povos onde estão presentes as suas bases militares, que totalizam mais de mil distribuídas em mais de uma centena de países. As guerras da Bósnia e do Kossovo (ex-Iugoslávia), do Iraque, Afeganistão e Líbia mereceram a enfática denúncia dos peritos e testemunhas, que também alertaram para os perigos que representam para os países latino-americanos e caribenhos as bases militares espalhadas na região.
 
O veredito

O corpo de jurados, integrado por ativistas dos direitos humanos, dos movimentos pela memória, verdade e justiça, acadêmicos e lideranças de movimentos sociais, foram unânimes na condenação do imperialismo estadunidense. O veredito assinala, entre outras coisas: “Os Estados Unidos são culpados por realizar uma política de intervenção e agressão militar; por instalar bases militares em todos os continentes; por ingerência nos assuntos internos de países soberanos; por violação dos direitos humanos, do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e da Convenção Interamericana de Direitos Humanos”. O tribunal condenou ainda os Estados Unidos por “atentado contra a paz e incitação à guerra”.

Na sessão final, o presidente do Tribunal Ético reiterou que o intervencionismo militar dos Estados Unidos “tem caráter agressivo e constitui uma ameaça à paz mundial e à auto-determinação dos povos”. Ao rechaçar as políticas militaristas e belicistas do imperialismo estadunidense, o Tribunal Ético decidiu instar os parlamentos e governos nacionais, assim como as Nações Unidas a condenar o intervencionismo militar dos Estados Unidos e exigir o fechamento das bases militares estrangeiras.

O Tribunal Ético conclamou as organizações dos movimentos sociais e populares a reforçarem a campanha “América Latina, Região de Paz. Não às Bases Militares Estrangeiras”, impulsionada por mais de uma centena de movimentos pela paz e a solidariedade entre os povos nas Américas do Sul, Central, do Norte e Caribe, destacadamente os movimentos filiados ao Conselho Mundial da Paz na região, como o Cebrapaz do Brasil, o Mopassol da Argentina e o Movpaz de Cuba.

Ventos de esperança

O Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, fez o discurso de encerramento. Apelou à “elevação da consciência democrática e pacifista”. Em sua opinião, “muitas coisas ocorrem porque os governos permitem e existe uma forte dominação no plano cultural e do pensamento”.

Esquivel condenou as bases militares e também os exércitos privados (forças mercenárias) e disse ser necessário expor à opinião pública o poder hegemônico imperial. O Prêmio Nobel da Paz se disse convicto da justeza do veredito anunciado pelo Tribunal Ético. “Com isto, ajudamos a uma tomada de consciência”.

Finalmente, declarou-se otimista com os novos fenômenos da atualidade: “Não há situações estáticas no mundo, há forças sociais, intelectuais, científicas para enfrentar os problemas”. Mencionou, entre os fatores de otimismo, a nova situação na América do Sul: “Pela primeira vez no Cone Sul, através da Unasul, se reuniram há poucos dias os ministros da Defesa e as Forças Armadas, com uma nova mensagem”, revelando que “começam a soprar ventos de esperança e unidade continental”.


Da Redação do Vermelho, em Buenos Aires

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