Temer garante equilíbrio para o sistema de senhores e vassalos

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Publicado Sábado, 05 de Agosto de 2017 às 14:02, por: CdB

Desde sempre, uma imensa parcela da população brasileira reproduz o sistema colonial em que o país foi construído. A perversidade da escravidão persistiu por aqui até não poder mais porque havia o reinado. Corte. Vassalos. Criadagem.

 

 

"Se esperarmos pela Revolução, ela nunca vai acontecer".
The Strain - Guilhermo Del Toro

 

 

Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro

O Brasil chegou a termo. Com a constatação de que a maioria do Congresso foi adquirida por cerca de R$ 14 bilhões, para evitar que o presidente de facto, Michel Temer, chegasse às barras do Supremo Tribunal Federal (STF), há o sol a pino da certeza quanto aos objetivos da quadrilha que tomou de assalto os Três Poderes. Diante de qualquer pífia imprecisão quanto ao interesse real de se conduzir os destinos dos brasileiros ao matadouro dos direitos civis, não resta mais sombra de dúvida.

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Um dos principais vassalos de Temer pede 'nudes' durante sessão do Congresso

Desde sempre, uma imensa parcela da população brasileira reproduz o sistema colonial em que o país foi construído. A perversidade da escravidão persistiu por aqui até não poder mais porque havia reinado. Corte. Vassalos. Criadagem. Mucamas, de leite e sexo. Classe dominante. Poder feudal. Por imposição estrangeira, a muito custo, fundaram a República. Mas o fizeram apenas para que os interesses senhoriais fossem preservados. Com algumas escaramuças, prisões ilegais, torturas e deportações, o status quo mantém-se intacto, há séculos.

E isso não acabou, seja no imaginário daqueles que detêm os meios de produção ou de grande parte da força de trabalho. A Fiesp, os donos de terras e engenhos, os abastados, estes formam partidos políticos e, seja nas urnas, com os votos obtidos no cabresto do dinheiro, ou na via de fato, em golpes de Estado, eles asseguram a permanência do sistema. Para oferecer um verniz de apoio popular à sedição, pagam alguns esbirros para montar movimentos “com Deus e pela liberdade”, promovem umas passeatas ao som de panelas, vestem-se de verde-amarelo, e voilà! Está pronto o caldo de cultura para o sublevação que, hoje, se escancara na cleptocracia.

Escumalhas

Lá se foram os direitos trabalhistas e, até outubro, preparam o cepo para degolar as aposentadorias. O Estado encontra-se quebrado, economicamente, e jogará outros milhões de cidadãos à miséria. Quem se importa? Desde que o estrato social esteja preservado, com os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, ou mantidos naquela faixa em que é pobre mas, diante da miséria, ainda é melhor permanecer quieto na autodenominada ‘classe média’, a doutrina está preservada, sob as bênçãos das igrejas e o beneplácito das forças armadas. Melhor isso do que o “flagelo do comunismo”, garantem os arautos da Tradição, da Família e da Propriedade.

Este é o termo a que o Brasil chegou. Daí não passa. A nódoa da subserviência e da vassalagem está impregnada no DNA dos nacionais mais comezinhos. Nada explica este fato melhor do que a exploração dos miseráveis por outros paupérrimos. Basta o dono da venda se juntar com outros donos de vendas, com mais ou menos notas no caixa, para formar um sindicato patronal. O resto é história:

Elegem dois terços do Congresso e legislam para que os seus servos passem a almoçar em meia hora; ao invés da uma hora acordada nos idos de Getúlio Vargas. Isso, após duas revoluções. E o pior, com o apoio de imensa parcela dos empregados que – respeitadas as raríssimas exceções – formam centrais sindicais numerosíssimas na arrecadação do imposto sindical, mas lideradas por uma dúzia de pelegos. Todos prontos a seguir o modelo de subserviência ao capital, aos barões empedernidos, escumalhas que são de seus suseranos.

Republicana e covarde

“Enquanto houver garrafa, enquanto houver barril”, a turba segue moderada e a mídia conservadora cuida do restante. Qualquer opinião diferente, deixa que globos, googles e feicibuques tratam de jogar para debaixo do tapete. O juízo que vale é aquele que concorda com o establishment. Fora disso, baixa o relho. Joga o Rafael Braga Vieira no fundo de um cárcere imundo porque foi “flagrado com uma garrafa de desinfetante”, em meio a uma manifestação popular. Enquanto isso, o Rodrigo Rocha Loures corre com mala de propina e, hoje, descansa tranquilo em sua mansão em Brasília; com uma tornozeleira emprestada do Estado de Goiás.

Se imaginam, os patetas, que haverá eleições livres, limpas e diretas no ano que vem, diriam os latifundiários do café ainda no Século XVIII: “tratem de tirar o cavalo da chuva”. Esse mesmo Congresso aí, que protagoniza cenas de envergonhar até as putas mais devassas em surubas monumentais, pedindo 'nudes' por telefone, já fala em parlamentarismo. Obviamente, para que possa eleger, pela via indireta, o primeiro-ministro do bordel. E, novamente, sob o olhar cândido da esquerda esfarrapada, dominada pela vaidade e o orgulho de pertencer a este “Estado democrático e de Direito”. Republicana ao extremo. Covarde até os ossos.

Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.

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