Suíça também dispõe de indústria de autopeças

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Publicado Quarta, 07 de Março de 2012 às 01:02, por: CdB

O Salão Internacional do Automóvel em Genebra é palco para novidades da indústria. Porém nas máquinas apresentadas também se encontra tecnologia suíça.

O setor de autopeças emprega no país 34 mil pessoas. Porém poucos sabem o que elas produzem. São várias as razões para isso.

"A Suíça não produz carros completos. As autopeças fabricadas aqui desaparecem no sistema global e são, por isso, menos visíveis. Não é possível fazer - como é o caso da Intel e computadores - escrever 'Aqui se encontra peças da Georg Fischer'", explica Anja Schulze, chefe do departamento de pesquisa automotiva na Escola Politécnica de Zurique (ETH, na sigla em alemão).
 
Além disso, as firmas helvéticas atuam em diferentes setores. Elas produzem de simples parafusos até eixos de manivelas, sistemas de automação, revestimentos, sistemas de controle, cabos de alta tecnologia, válvulas, componentes eletrônicos e peças específicas de alumínio para módulos complexos.
 
Eficiência energética, redução das emissões de gás nocivos, novas tecnologias de propulsão, segurança ativa melhorada, sistemas de assistência, conexão com tecnologias de informação e também construções leves: esses são os grandes temas com os quais os departamentos de desenvolvimento da indústria automobilística se ocupam atualmente.

Redução de peso 

Construções leves empregam materiais de massa reduzida, mas com igual ou mais estabilidade que os convencionais. "São materiais que exigem alta tecnologia e muito trabalho de pesquisa", acrescenta Schulze. "Eles nos levam em direção ao futuro". Não apenas em construções leves, mas também em outras áreas de complexas tecnologias as empresas suíças são líderes. Seus produtos podem ser encontrados em praticamente todos os automóveis das montadoras alemãs de carros de luxo, mas também nos veículos populares.

Sem perfil específico 

A indústria suíça de autopeças é composta por 310 empresas. No total empregam 34.000 funcionários. Em comparação: a indústria relojoeira do país ocupa aproximadamente 50 mil pessoas.
 
O fato de a Suíça ser conhecida como centro da produção e manufatura de relógios, mas não como centro da indústria de autopeças, se explica "pelo fato da maioria dessas empresas atuarem em diferentes setores ao mesmo tempo", explica Schulze. "Em parte são ativas na área de técnica medicinal ou na produção de máquinas para a indústria têxtil". Por isso não são vistas como fabricantes de autopeças.
 
Além de produzir peças eletrônicas ou leves de alta tecnologia, os fabricantes helvéticos também atuam na produção em massa de peças baratas. Foi o que mostrou, em 2008, um estudo realizado pelo departamento de pesquisa automotiva da ETH em Zurique.

Muitas encomendas 

"Queríamos saber como funciona o setor. Por não ter encontrado nada, decidimos então nós mesmos realizarmos esse estudo", lembra Anja Schulze, responsável pelo projeto. "Finalmente juntamos todos os dados através de entrevistas diretas. Não existe na Suíça um órgão representativo como a Associação Alemã da Indústria Automotiva.”
 
Na época, o setor de autopeças, assim como a própria indústria automotiva, estava em crise. Porém atualmente ela já foi esquecida. "Os fabricantes suíços conseguiram muito bem superá-la, pois a sua quota de capital próprio era relativamente elevada", analisa Schulze. Por essa razão houve poucas falências e, no contexto geral, pode se dizer que o setor permaneceu estável.
 
Atualmente a carteira de encomendas dessas empresas está repleta. "Elas chegam a não saber como organizar tantos turnos para poder fornecer as peças que a indústria precisa. Ninguém imaginava que a recuperação fosse tão rápida e nessas dimensões."
 
Os resultados publicados para o ano de 2011 mostram como o setor de autopeças conseguiu superar a crise. "Em comparação com as outras duas áreas em que atuamos, a parte de autopeças cresceu muito mais rapidamente", revela Beat Römer, porta-voz da Georg Fischer AG, acrescentando que o fabricante suíço lançou diversas inovações no setor de construções leve, "que ao final reforçaram essa tendência de crescimento que vivemos."

Concorrência asiática 

A percentagem elevada de produtos de massa constatada no estudo pode ser explicada pela alta precisão suíça, como explica Schulze. Porém ela se questiona se as empresas helvéticas poderão se manter por muito tempo com preços elevados por unidade frente à forte concorrência asiática.
 
Outro ponto crítico é o fato de que muitos fornecedores suíços não saberem em que marcas de automóveis seus produtos estão sendo montados. "Quando um fornecedor entrega as peças diretamente à montadora, isso não é um problema. Porém estrategicamente perigoso é quando uma empresa fornece exclusivamente para outro subcontratante, seja em eletrônica ou caixa de câmbio. Então não sabe de qual cliente principal ele é dependente e não pode reagir se este se encontra em dificuldade", afirma Schulze.

Redução de custos 

Basicamente os diferentes estudos preveem expectativas saudáveis de crescimento para os fabricantes de autopeças. Eles baseiam sua avaliação no número crescente de peças eletrônicas utilizadas hoje em dia no automóvel e na necessidade crescente de materiais, não apenas em termos de peso, mas também de durabilidade.
 
Simultaneamente os produtores de automóveis encontram-se há anos em forte competição predatória. Eles são obrigados a melhorar permanentemente seus modelos, adaptá-los ao desenvolvimento tecnológico e, ao mesmo tempo, reduzir os custos. A consequência é que os fabricantes não desenvolvem nem produzem eles próprios todas as peças, mas preferem delegar parte desse trabalho aos fornecedores. 

Andreas Keiser, Zürich, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele

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