Correio do Brasil - O que o governo brasileiro pretendia quando criou a Base de Alcântara? João Pedro Stédile - A base de lançamentos foi criada como parte do programa de desenvolvimento espacial brasileiro. Em sua origem, os objetivos estavam corretos. A idéia era termos uma área de pesquisa espacial, necessária ao desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer nação independente. E a Base estava acoplada a outros setores de pesquisa, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Aeronáutica brasileira. CDB - Qual a sua importância estratégica? João Pedro Stédile - A partir do momento em que existe intercâmbio entre a Base, universidades, ITA e programas de controle de clima, é possível conhecer melhor o Brasil a partir do espaço. CDB - De que forma a Base foi utilizada até o momento? João Pedro Stédile - O governo investiu mais de US$ 500 milhões em sua construção e no desenvolvimento do programa espacial brasileiro. A maior conquista foi o desenvolvimento de uma tecnologia própria, independente do veículo de lançamento de foguetes, que permite realizar diversas pesquisas espaciais. CDB - Quais seriam as conseqüências da concessão da Base aos EUA? João Pedro Stédile - Primeiro, faz parte do acordo que o Brasil deixe de ter um programa espacial próprio. Ou seja, os Estados Unidos estão proibindo que continuemos pesquisando nessa área. Segundo, a Base poderá ser transformada em militar, já que será permitido o lançamento de artefatos militares. Além disso, o acordo proíbe convênios com nações amigas. Enfim, entregaríamos tudo a eles. CDB - Qual a explicação do governo brasileiro sobre a assinatura do acordo que passa a Base para o controle americano? Qual foi a moeda de troca? João Pedro Stédile - O governo FHC assinou um acordo que, segundo o deputado Waldir Pires, atenta contra a inteligência de nosso serviço diplomático. Assinar um documento como esse - que afronta a Constituição, a soberania e o desenvolvimento tecnológico por US$ 34 milhões anuais, que não poderiam ser usados em pesquisa espacial - é no mínimo subserviência. Para não dizer vende pátrias. O governo FHC deve ser julgado por algum tribunal por essa traição. CDB - Por que a Comissão de Ciência e Tecnologia, da Câmara dos Deputados, apresentou parecer favorável ao acordo? João Pedro Stédile - Primeiro o governo enviou o acordo para a Comissão de Relações Exteriores, onde foi vetado por maioria absoluta. Apenas um deputado, Bolsanaro, votou pela nulidade completa. Em seguida, o governo o reencaminhou para a Ciência e Tecnologia, onde tinha maioria. Dessa forma, fez uma manobra parlamentar para produzir dois pareceres e levar para plenário da Câmara. CDB - Uma vez com a Base de Alcântara, de que forma os EUA poderiam avançar seu controle militar sobre a Região Amazônica? João Pedro Stédile - Os Estados Unidos têm bases militares em outros países, justamente na Região Amazônica dessas nações. Eles colocaram bases na Bolívia, no Equador, no Panamá e na Colômbia. Faltava apenas no lado leste da Amazônia. Daí, o ponto estratégico da Base de Alcântara. E os Estados Unidos têm ainda acesso às informações do Sivam. Todos sabem que a empresa que forneceu o programa tem vínculos com o serviço de inteligência do exército americano. CDB - O favorecimento de americanos(as) na licitação do projeto do Sivam significa que terão acesso a informações sobre o monitoramento por radar e sinais de satélites da Amazônia brasileira? João Pedro Stédile - É uma vergonha. Os oficiais brasileiros não têm controle, até hoje, sobre todos os dados que o Sivam levanta. A empresa americana codificou muitas informações que somente ela tem acesso. Com relação ao tema, caberia uma auditoria do povo brasileiro e suas entidades para verificar a ingerência da CIA e do exército norte-americano. CDB - Além da questão da biodiversidade, que outros fatores estariam em jogo tanto no caso do Sivam, quanto no caso da Base? João Pe
Rio de Janeiro, Sexta, 29 de Março de 2024
Stédille acusa EUA de tentar ocupar a Amazônia
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Publicado Segunda, 12 de Agosto de 2002 às 07:09, por: CdB
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