Soldado dos EUA diz a revista que foi incentivado a torturar

Arquivado em:
Publicado Domingo, 29 de Agosto de 2004 às 08:33, por: CdB

Um soldado dos Estados Unidos que deverá declarar-se culpado de acusações de abuso de prisioneiros iraquianos disse a uma revista alemã que se arrepende profundamente de seus atos, mas que os abusos foram incentivados pelos serviços de inteligência militar.

O sargento Ivan Frederick disse à revista Der Spiegel que as condições na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, eram um "pesadelo", sem uma linha de comando clara e ordens conflitantes sobre soldados sem treinamento suficiente.

"Eu não sabia quem estava no comando", disse, de acordo com uma tradução alemã de suas declarações. "O batalhão queria uma coisa de você, a companhia queria outra coisa e o serviço secreto tinhas suas próprias idéias. Era o caos", disse.

O abuso e a tortura de prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib causaram polêmica mundial quando as fotos dos incidentes apareceram, neste ano.
Uma investigação especial do exército reconheceu na semana passada que houve tortura e mais soldados poderão enfrentar julgamento, apesar de até agora somente Frederick e outros seis reservistas da polícia militar que serviram em Abu Ghraib terem sido acusados.

Frederick disse depois de uma audiência pré-julgamento na última semana, na Alemanha, que vai se declarar culpado de algumas acusações, incluindo ataque, crueldade e atos indecentes, na corte marcial marcada para 20 de outubro.

"Quero me desculpar às vítimas e suas famílias. E no julgamento vou aceitar a responsabilidade por minhas ações. Mas espero que outros sigam o meu exemplo", afirmou.

Ele disse que o famoso incidente em que ele esteve envolvido quando prisioneiros iraquianos nus foram fotografados empilhados aconteceu depois que uma soldada dos EUA foi atingida no rosto por um prisioneiro com uma pedra.

"Primeiros revistamos, tiramos suas roupas e depois fizemos as pirâmides -- e então tudo saiu do controle", disse. "Um dos métodos era humilhá-los para que quebrassem e falassem."

"Hoje eu sei que estava errado. Por um lado eu estava com muita raiva porque o prisioneiro feriu a soldada. E eles me disseram para humilhá-los. Do outro lado, ninguém me explicou em detalhes como deveria fazer isso."

Frederick, que é autoridade de prisão na vida civil, disse que não recebeu tratamento especial para lidar com prisioneiros militares e que foi incentivado por autoridades de inteligência a preparar os prisioneiros para interrogatórios através de quaisquer meios.

"O serviço secreto não colocou nenhum limite. O importante eram resultados concretos e não estavam interessados em como conseguiriam", disse, acrescentando que muitas outras pessoas deveriam ser responsabilizadas pelos abusos em Abu Ghraib. "Definitivamente há mais pessoas responsáveis pelo o que aconteceu em Abu Ghraib, e muitas delas não foram acusadas."

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo