Sexta-feira 13, a guerra voltou à Europa

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Publicado Sábado, 14 de Novembro de 2015 às 00:51, por: CdB
Por Rui Martins, de Genebra
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Jiadistas lançam guerra de atentados aos infiéis europeus
Já tive oportunidade em outras colunas, aqui neste Direto ou no anterior, de comentar o que era ainda um risco iminente do jiadismo trazer a guerra de atentados à Europa. Esses horríveis e covardes atentados desta Sexta-feira 13 de novembro assinalam o começo de uma longa e dolorosa guerra desfechada pelos fanáticos islamitas jiadistas aos infiéis europeus em nome de Alá, por um califado fiel a uma leitura e aplicação literal do Corão. Alguns ensaios e ameaças tinham sido feitos na Bélgica e, faz dez meses, houve o ataque e assassinato dos redatores da revista Charlie Hebdo com um objetivo bem definido : punir os humoristas desenhistas autores das caricaturas de Maomé. Apesar da grande manifestação pela liberdade de expressão e solidariedade às vítimas dos censores islamitas, uma parte do objetivo foi atingida : muitos caricaturistas não se atreveram mais a brincar com a imagem do profeta Maomé e muita gente, inclusive de esquerda, passou a defender a idéia de que os símbolos religiosos devem ser respeitados. Os atentados desta Sexta-feira 13 não tinham um objetivo específico mas visavam aglomerações de pessoas, fosse num estádio de futebol como numa casa de espetáculos ou bares e restaurantes com a intenção de matar cegamente a desconhecidos. O atentado clássico – matar para provocar pânico e impor pelas balas de metralhadoras o respeito senão o medo à religião do profeta, que na sua época, seis séculos depois de Cristo, impunha seu credo pela espada aos países invadidos. De onde saíram esses novos bárbaros que se comprazem em transmitir imagens de brutalidade e ódio na guerra missionária em que estão empenhados ? Da Caixa de Pandora aberta pelos Bushs americanos ao atacarem e destruírem o Iraque de Sadam Hussein, único Estado láico existente na época no Médio Oriente. Aprendiz feiticeiro, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy quis imitar Bush, enquanto o inglês Cameron quis imitar Tony Blair e assim abriram outra Caixa de Pandora destruindo a Líbia de Kadhafi. Embora venerados por certos esquerdistas, tanto Hussein como Kadhafi eram ditadores implacáveis, mas asseguravam um certo equilíbrio dentro do mundo árabe-muçulmano xiita ou sunita. Esse equilíbrio acabou, instalou-se a luta entre os muçulmanos xiitas (o Irã não é árabe mas persa) e os sunitas, uns subvencionados pela Arábia Saudita outros pelo Irã, surgindo primeiro a Al Qaída e a seguir com autonomia própria, o Estado Islamita ou Daesch. Infelizmente, a primavera árabe, que muitos imaginavam levar o mundo árabe à democracia, provocou o caos ao deixar entrarem fundamentalistas islamitas entre as legiões de combatentes internacionais na luta contra o ditador sírio Assad. Assim, entraram na Síria brigadas vindas do Estado Islamita que, ao participarem da guerra na Síria, provocaram a fuga de milhões de pessoas para a Europa, fracionando a União Européia na questão do dar ao não refúgio a esses fugitivos. E procuraram conquistar jovens das periferias européias, marcados pela estigmatização e exclusão social, incitando-os a  se tornarem voluntários na luta contra Assad com o objetivo de lhes darem treinamento militar para, ao regressarem à Europa, criarem o clima de terror entre os infiéis europeus. Assim mais de quatro mil jovens  revoltados, filhos de imigrantes do Magreb (Argélia, Marrocos,Tunísia e Líbia) nos países europeus, encontraram sua fé no fundamentalismo islamita literal do Corão, onde os conceitos de solidariedade e humanidade foram substituídos pela aplicação dos preceitos de uma religião exigente e cruel. Alguns já foram mortos em combate pela bandeira negra do terror, mas algumas centenas estão regressando aos seus países, depois de um aprendizado prático da guerra como o saber matar sem ter medo de morrer. Não há nessa luta um objetivo social ou político, nos moldes das antigas lutas de libertação contra o colonialismo, mas o retorno a objetivos de domínio religioso comparáaveis ao que o Ocidente viveu na Idade Média. Esses jovens estão de volta e diluídos na população, escondidos e disfarçados entre seus familiares religiosos moderados, irão por em execução sua missão de desestabilizar a União Européia com séries períódicas de atentados. Difíceis de localizar, podendo agir em conjunto mas preferivelmente como células independentes, os jiadistas lançaram nesta Sexta-Feira 13 seu primeiro grande e simultâneo ataque. Alguns eram kamikases, e ao se explodirem com a promessa de irem ao céu de Alá, não deixaram pistas, os outros fugiram e serão difíceis de localizar. Esses atentados feitos por uns poucos fanáticos serão suficientes para instaurar o caos e desestabilizar a União Européia. Hoje a Europa deixa de viver seus longos anos de paz desde 1945, para entrar numa outra época – a da guerra intestina, de atentados ou guerrilhas, que provocarão a insegurança nas populações dos diversos países a começar pela França. Essa guerra irá fortalecer os movimentos racistas de extrema-direita que elegerão parlamentos e governos.Hoje a Europa mudou, nada mais será como nestes últimos anos, a insegurança vai se juntar à crise econômica e de desemprego. Como os ovos do Alien, eles serão chocados pelos próprios europeus. Rui Martins, jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, pela recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e rádios RFI e Deutsche Welle. Editor do Direto da Redação.
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