Santa Filomena: Famílias despejadas protestam no IHRU

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Publicado Terça, 20 de Novembro de 2012 às 19:23, por: CdB

Duas dezenas de moradores despejados pela polícia esta segunda-feira na Amadora dirigiram-se ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, ocupando as instalações e exigindo uma resposta. Mas do lado do IHRU veio apenas o silêncio. Com as casas demolidas e sem alternativa, voltaram a passar a noite na rua. Artigo |21 Novembro, 2012 - 02:02 Demolições na segunda-feira no bairro de Santa Filomena. Foto: Plataforma Gueto

Foi só ao fim da tarde de terça-feira que os moradores do bairro de Santa Filomena deixaram uma mensagem no livro de reclamações do IHRU, dirigida ao seu presidente, depois de durante todo o dia não estar disponível para os receber. Os moradores foram despejados na manhã de segunda-feira e muitos ficaram apenas com a roupa que tinham vestida.

"A nossa casa foi demolida sem que tivéssemos oportunidade de tirar nada. Nem a minha medicação, nem nada. Sou uma pessoa doente. Desde ontem que estou a dormir na rua. As minhas coisas estão na Câmara. Sou uma trabalhadora. Respeito o Estado e o Estado não me respeitou a mim. Um animal está em melhores condições que eu (chora). Sou uma trabalhadora. Desconto para o Estado", lamentou  Isabel Lopes, ao lado do marido, citada pelo Jornal de Notícias.

"Às nove da manhã o meu filho ligou para mim. Que estavam a dormir, quando chegou a Polícia e um fiscal da Câmara. Que os mandou vestir. E que depois ficaram (as crianças) na rua, porque a casa ia abaixo", contou Cristina Coelho, de 35 anos e mãe solteira, ao JN.

Nas seis habitações destruídas por retroescavadoras no bairro de Santa Filomena viviam sete famílias. "Uma senhora que estava acamada foi despejada com um lençol apenas no corpo, pela Polícia. Entretanto o lençol caiu e a idosa ficou exposta, nua e acabou por ter um AVC. Neste momento está internada no Hospital Amadora-Sintra", disse Rita Silva, do coletivo Habita, que também participou na ocupação das instalações do IHRU, onde os jornalistas estiveram proibidos de entrar.

"Ontem foram despejadas 18 pessoas sem que lhes tenha sido dado uma solução de alojamento. Muitas dormiram na rua ou em carros. Hoje queríamos saber o que o IHRU tem a dizer sobre estes desalojamentos", acrescentou Rita Silva à agência Lusa. Ativistas e moradores continuam a contestar a política de realojamento, que apenas prevê solução para as famílias inscritas no PER em 1993, sem pensar em alternativas para quem vive desde então nos bairros afetados pelo Programa Especial de Realojamento.

SOS Racismo: Despejos são "atentado à dignidade humana!"

Em comunicado, a associação SOS Racismo acusa a Câmara Municipal da Amadora e o Governo, "pelo falhanço do PER e através das repetidas actuações humilhantes e desproporcionais da Policia" e diz que estas instituições "não podem assobiar para o lado". "Numa conjuntura como aquela em que vivemos e ainda, numa das comunidades mais fustigadas pelo desemprego e pela precariedade quase total, a violência das demolições em Santa Filomena não só ultrapassa os limites da decência, como é um atentado à dignidade humana!", prossegue a associação.

A SOS Racismo diz que a centena de agregados familiares residentes no bairro de Santa Filomena vive numa situação de "precariedade gritante" e a maioria não ficou abrangida pelo PER. "São cerca de três centenas e meia de pessoas, entre as quais pelo menos, mais de 100 crianças e jovens de menos de 18 anos", diz a associação, acrescentandoque o rendimento médio não ultrapassa os 300 euros por mês. "Não é aceitável e é, no limite, criminoso que a Camara Municipal da Amadora atire as pessoas para rua sem lhes garantir alternativa nenhuma, pondo em causa o elementar direito cidadão a um tecto", afirma a associação.

 

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