Rio: número de baleados aumenta 290% em hospital

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Publicado Quarta, 02 de Maio de 2007 às 07:07, por: CdB

Situado numa área onde traficantes travam confrontos quase diários, o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, no Rio de Janeiro, registrou em abril aumento de 290% na quantidade de atendimentos a baleados, em comparação ao mês anterior. De acordo com dados divulgados pelo secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, dez feridos foram socorridos na unidade em março, enquanto no mês passado o número pulou para 39. Há uma semana, um tiroteio entre facções provocou a morte da universitária Juliana Pereira da Silva, que passava de carro na hora, e, domingo, deixou o frentista Francisco Eudes Martins ferido, enquanto trabalhava em um posto de gasolina.

Segundo Côrtes, o hospital atendeu 12 baleados em janeiro e 27 em fevereiro. - Dos 88 feridos este ano, 84 foram salvos - afirmou. Desde o ano passado, traficantes rivais da favela do Batan, em Realengo, aliados a criminosos da vila Vintém, em Padre Miguel, tentam invadir o Conjunto do Fumacê, em Realengo. Durante confronto no último domingo, foram lançadas sete granadas, e paredes de casas e prédios ficaram perfuradas.

A assessoria da Secretaria Estadual de Segurança informou que vai analisar dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) para traçar estratégia para a região. Os estudos do mês de março ainda não foram concluídos.

Situação do hospital

Os dados sobre os atendimentos foram divulgados em entrevista coletiva do secretário e do diretor-geral do Albert Schweitzer, Cesar Fontes. Os dois apresentaram justificativas sobre problemas recentes provocados pela falta de estrutura e de equipamentos na unidade.

Côrtes afirmou que o tomógrafo que está encaixotado há três anos no hospital,  será consertado pela Siemmens. A empresa aguarda apenas o pagamento de consertos de outros sete equipamentos. A falta do aparelho obrigou que o frentista Francisco fosse removido para fazer o exame no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande.

Em Campos, o governador Ségio Cabral afirmou, com base em informações da Secretaria de Saúde, que o equipamento seria da fabricante Toshiba e que estaria em funcionamento dentro de 60 dias. Mais tarde, a secretaria admitiu que o aparelho do Albert Schweitzer é da Siemmens. Cabral fez questão de elogiar a direção da unidade. - Eles acabaram com as macas nos corredores - referiu-se à superlotação da Emergência.

Côrtes disse ainda que o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital terá 30 leitos e anunciou a contratação de novos profissionais e a compra de materiais para a unidade. O secretário afirmou ainda que 25 cirurgiões vasculares já foram convocados para trabalhar na rede e um ficará na Zona Oeste. Mas não está definido se esse profissional ficará no Albert Schweitzer ou no Hospital Pedro II, em Santa Cruz.

Internado desde domingo no Albert Schweitzer, o frentista Francisco Eudes Martins Caxias, 30 anos, baleado no peito durante confronto entre traficantes da favela do Batan e do Conjunto Fumacê, em Realengo, está traumatizado e vai deixar o Rio. - Eu já pensava em sair da cidade porque está muito perigoso viver aqui. Mas, depois que isso aconteceu comigo, não tenho mais dúvida. Assim que me recuperar, assim que minha saúde estiver boa, vou embora o mais rápido possível. Não dá para viver no Rio com essa violência toda. Vou voltar para minha cidade no Ceará - contou.

Abalado, Francisco recebeu ontem visita de uma psicóloga do hospital, onde se recupera, ainda sem previsão de alta. Se não houver infecção no ferimento, o frentista não precisará de cirurgia, mas terá que passar por nova tomografia - no exame feito domingo, no Hospital Rocha Faria, o laudo não foi emitido. - Quando levei o tiro e fui trazido para cá, não me saiu da cabeça o que aconteceu com a universitária. Tive muito medo de tudo se repetir - disse.

 

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