Retirada de Ciro mantém quadro eleitoral equilibrado e polariza as próximas eleições

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Publicado Sábado, 24 de Abril de 2010 às 10:09, por: CdB

A saída do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) da corrida presidencial já começou a reorganizar o tabuleiro da política nacional. Enquanto parcela do eleitorado conservador acredita que a retirada de peça importante no xadrez eleitoral tende a beneficiar o pré-candidato José Serra (PSDB), setores da esquerda vêem de forma positiva o caráter plebiscitário que a sucessão presidencial adquire com a polarização entre a pré-candidata petista, Dilma Rousseff, e o representante tucano, José Serra.

Para o diretor do instituto Datafolha, o sociólogo oMauro Paulino, o comportamento do eleitor, a ser medido na próxima pesquisa, em maio, vai depender das atitudes de Ciro no período, principalmente de sua provável declaração de apoio a Serra ou a Dilma Rousseff (PT).

– Há uma predisposição dos eleitores de Ciro de votar em Serra, pela análise dos dados de segundo turno – disse Paulino à agência inglesa de notícias Reuters.

Ele explica que, na pesquisa mais recente, divulgada em 19 de abril, dos eleitores que citaram Ciro no primeiro turno (9%), 57% indicaram Serra no segundo turno e 33%, Dilma. Mas Paulino rechaça o conceito de que, sem Ciro, nas pesquisas de primeiro turno, seus votos migrariam para Serra. Ao contrário. Ele disse que os votos do deputado se distribuem proporcionalmente entre os demais candidatos, levando em conta ainda que a margem de erro é de dois pontos percentuais.

Sem o deputado, Serra cresce 4 pontos (de 38% para 42%), Dilma aumenta 2 pontos (de 28% para 30%), enquanto Marina Silva (PV) também sobe 2 pontos (de 10% para 12%). Os opositores devem procurar atrair também os 14% de Ciro na região Nordeste, onde Dilma ganha de Serra. Segundo o diretor do Datafolha, o eleitor acumula informações e se Ciro oscilar em apoiar Serra ou Dilma, suas opiniões podem ser vistas como contraditórias e devem servir mais para confundir o eleitor.

– Não dá para prever – disse.

Polarização

Defensor de uma escolha plebiscitária, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aposta no crescimento da candidata de sua escolha, Dilma, e trabalhou vigorosamente para tirar o pré-candidato socialista, Ciro, do páreo. Mas não pretende parar por aí na tentativa de levar o primeiro turno das eleições a uma disputa franca entre o PT e o PSDB.

– Com o Ciro afastado, após um acordo de cooperação política fechado entre Lula e os governadores do PSB, na quinta-feira, não pensem que ele (Lula) não está trabalhando agora para convencer Marina Silva, sua amiga pessoal de longa data, a juntar-se à aliança, nem que seja no segundo turno – disse um parlamentar peemedebista ao Correio do Brasil, na manhã deste sábado.

A decisão de polarizar a campanha foi tomada ainda no início do ano, quando os institutos de pesquisa precisaram admitir que a popularidade do presidente, em torno de 86%, começava a se transferir para Dilma, o que elevou seus índices de aprovação junto ao eleitorado a menos de seis pontos percentuais do adversário tucano, Serra.

Pesquisa CNI/Ibope, divulgada em março, já indicava um cenário cada vez maior de polarização entre os prováveis candidatos às eleições  presidenciais de outubro. De acordo com o levantamento, Serra permanecia na liderança da disputa, mas a vantagem em relação a Dilma havia caído para cinco pontos percentuais, em um cenário no qual ainda apareciam Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV).

Os números apontavam um avanço de 13 pontos percentuais da candidata do PT em relação à última pesquisa CNI/Ibope, divulgada em dezembro do ano passado, quando Serra aparecia isolado na liderança, com 38% das intenções contra apenas 17% de Dilma Rousseff.

No cenário em que Ciro não concorre à Presidência, a diferença entre Serra e Dilma permanecia de cinco pontos percentuais, com o governador de São Paulo somando 38% da preferência dos entrevistados e Dilma, 33%. Já a candidata Marina Silva teria 8% das intenções neste cenário.

Efeito Lula

A pesquisa também perguntou qual seria a influência de Lula na intenção de voto da população. Entre os entrevistados, 53% afirmaram que prefeririam votar em um candidato apoiado por Lula, enquanto 10% afirmaram preferir votar em um candidato da oposição. No entanto, 42% dos entrevistados admitiram desconhecer qual é o candidato apoiado pelo presidente.

Outros 33% afirmaram que não levarão em conta o apoio do presidente Lula na hora do voto.

Na pesquisa espontânea, em que uma lista com os candidatos não é apresentada ao entrevistado, o presidente Lula – que não pode concorrer a mais um mandato – aparece com 20% das intenções de voto, seguido por Dilma Rousseff, com 14%, e José Serra, com 10%. Neste tipo de levantamento, no entanto, 42% dos entrevistados dizem não saber em quem votar.

Palavras duras

Na entrevista que concedeu ao portal IG, nesta sexta-feira, segundo os entrevistadores, Ciro estava sereno, mesmo quando declarou que “Lula está navegando na maionese”. Ainda segundo o portal, "na conversa, assumiu pela primeira vez que sua candidatura à presidência da República chegou ao fim. Oficialmente, aguardará a decisão da executiva do partido, marcada para o dia 27 de abril, terça-feira da semana que vem".

Citando nominalmente o presidente nacional do partido, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, Ciro disse que os líderes pessebistas “não estão no nível que a História impõe a eles”.
 
Ciro também admitiu que pode largar a política partidária ainda neste ano. Ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, ex-ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes fez até agora uma carreira política de sucesso. Aos 53 anos, no entanto, poderá se ver obrigado a fazer uma parada técnica e ficar de fora da política por dois anos se se dispuser a voltar na condição de prefeito, ou até quatro anos, se quiser voar mais alto. Terá então 57 anos, jovem para padrões políticos.
 
As palavras mais duras, no entanto, foram guardadas para o presidente Lula. Ele o acusou de agir de maneira desmedida na tentativa de eleger a candidata Dilma:

– Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz – afirmou.
 
Ciro Gomes afirma que Lula tem a popularidade que merece ter, pois seu governo tem realizações.

– Mas ele não é Deus – acrescentou.

Ciro criticou a interferência direta do Palácio do Planalto no debate interno do PSB e aquela que ele classifica de subserviência partidária:

– Tiraram de mim o direito de ser candidato. Mas quer saber? Relaxei. Eles não querem que eu seja candidato? Querem apoiar a Dilma? Que apoiem a Dilma. Estou como a Tereza Batista cansada de guerra. Acompanho o partido. Não vou confrontar o Lula. Não vou confrontar a Dilma – conformou-se.
 
Ainda na entrevista ao portal, Ciro Gomes diz que sua presença na eleição cumpriria uma missão.

– Trata-se de uma missão estratégica, que não será desempenhada por mais ninguém – disse.

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