Recessão, crédito e descrédito no governo

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Publicado Quarta, 28 de Outubro de 2015 às 13:00, por: CdB
Por João Sicsú, do Rio de Janeiro:
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Política econômica do governo um tanto caótica e é responsável pela recessão
É preciso lembrar que o governo cria a recessão com suas políticas monetária e fiscal, que depois tenta remediar. O governo está lançando “pacotes” creditícios de juros abaixo do mercado através dos bancos públicos para grandes empresas – para que possam enfrentar as dificuldades do ambiente recessivo. A contrapartida é que as empresas tomadoras do crédito não poderão demitir trabalhadores. É algo anunciando como se fosse uma novidade. Primeiro, é preciso lembrar que o governo faz a recessão com suas políticas monetária e fiscal e, ao mesmo tempo, lança com a outra mão pacotes creditícios. O governo eleva os juros da taxa Selic. Isso faz com que empresários prefiram o investimento financeiro ao produtivo. Compram títulos públicos e não compram máquinas. Mais: o governo corta quase 80 bilhões de reais de gastos previstos no seu orçamento. Isso gera desemprego de forma imediata. O governo deveria fazer o que foi feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise de 2008-9, fazer políticas expansionistas. Por exemplo, reduzir os juros Selic (para ter folga orçamentária), reduzir os juros dos bancos públicos para os trabalhadores e ampliar seus programas sociais, principalmente o programa Minha Casa Minha Vida, que gera milhares de empregos formais na construção civil. A presidente Dilma, desde 2011, mudou a política econômica do segundo mandato de Lula. Em um quadro de grave crise internacional, a economia cresceu 4,5% ao ano entre 2007 e 2010. A presidente Dilma, em 2011, deixou de fazer políticas econômicas expansionistas, tal como fez Lula. Passou a fazer políticas que os economistas chamam de políticas pelo lado da oferta para melhorar a “competitividade” da economia brasileira. Em outras palavras, reduzir o “custo Brasil”. O governo Dilma reduziu o seu investimento e das estatais também. Além de não valorizar o consumo das famílias. O governo, no período 2011-2014, reduziu drasticamente os juros de programas do BNDES, fez mais de 100 bilhões de reais em desonerações para as empresas, reduziu tarifas de energia para a indústria etc. E nada disso funcionou. É simples, políticas pelo lado da oferta somente funcionam quando a economia está crescendo e as expectativas são positivas. Com a economia desacelerando, como era o caso, têm apenas o feito de transferir renda aos empresários. O pacote creditício agora anunciado faz parte do mesmo tipo de política já feito de 2011 a 2014: busca estimular empresários desanimados. Se isso desse resultado positivo, ótimo. Mas não deu e nunca dará. Mas, mais grave é que esse governo não faz políticas expansionistas desde 2011. E isso representa uma mudança de concepção cujo ministro Joaquim Levy representa apenas a continuidade do modelo e não uma mudança que ocorrera em 2015. (Publicado originalmente no Brasil de Fato e Carta Capital) João Sicsú é professor do Instituto de Economia da UFRJ, foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011. Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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