Quando as bruxas eram torturadas e queimadas

Arquivado em:
Publicado Quinta, 06 de Outubro de 2011 às 01:51, por: CdB

Cinco mil pessoas foram julgadas por bruxaria na Suíça até 1782. Dois terços delas morreram na fogueira após confessar sob tortura um pacto com o Diabo.

Esse é o tema de uma exposição do Castelo de Chillon, a conhecida atração turística do país às margens do lago Léman.

Um nariz adunco sob um chapéu pontudo, sentada em cima de um cabo de
vassoura. É assim que a imagem popular retratava as bruxas na Idade Média. Elas chegariam ao número de 100 mil em toda a Europa, homens e mulheres, mesmo se estas últimas formassem a grande maioria dos suspeitos (70%). Através da figura de Eva, mulheres são vistas como grandes pecadoras, fonte de todas as doenças...
 
Além da caricatura, que banaliza o drama dessas vítimas da ignorância e do sadismo dos juízes, tanto os laicos como os religiosos, católicos ou protestantes, a acusação poderia cair sobre quaisquer pessoas como explicam os organizadores da exposição intitulada "A caça às bruxas no Pays de Vaud" (a região localizada a oeste do país).

A tortura das mulheres suspeitas de práticas de bruxaria era comum. (SP)

A "marca do Diabo"

A partir do século 16, uma novidade foi introduzida: além das confissões, os juízes procuravam a "marca do Diabo" nos corpos dos suspeitos e, mais frequentemente, da suspeita. Ela ocorria no início do processo como uma etapa preliminar à tortura.
 
Sem roupas, geralmente raspada em todo o corpo, o(a) acusado(a) era entregue a um especialista (carrasco, cirurgião, barbeiro ou parteira) encarregada de "sondar" ao picar com uma longa agulha as diferentes partes de seu corpo, frequentemente as mais íntimas, como relatam as gravuras de época.
 
A marca diabólica poderia ser uma mancha de vinho, uma simples pinta na pele, uma verruga, uma protuberância na pele, uma particularidade física ou ser até mesmo algo praticamente invisível: "Na falta de dor ou escoamento de sangue, os especialistas concluíam a existência de uma ou várias marcas de origem diabólica", revela Martine Ostorero, comissária da exposição.
 
Segundo seus estudos, essas práticas humilhantes começaram a ser frequentes a partir de 1534, inicialmente no Pays de Vaud e em Genebra, regiões que tinham passado há pouco pela Reforma Protestante, assim como na Savóia e no Franco-Condado vizinhos. Os autos revelam: em 1651, Jeanne Tissot, da comuna de Isle, foi "visitada" para ver se ela havia sido marcada pelo Diabo. A marca foi encontrada sobre o braço esquerdo depois de ter sido "bem testada e analisada". A procura da marca do Diabo conduziu ao desenvolvimento de todo um arsenal de instrumentos, passando por agulhas para perfurar, pinças e até lâminas de barbear.
 
Os historiadores consideram que os anos que conheceram importantes picos de repressão correspondiam, frequentemente, aos períodos de crises econômicas, epidemias, fomes ou guerras. Dessa forma, em 1599, ano durante o qual 74 pessoas foram condenadas ao carrasco no Pays de Vaud, foi um ano de peste.
 
Por vezes as bruxas eram acusadas de ter espalhado a peste durante a noite, ao passar nas portas gordura dada por Satanás. Em 1613, Lausanne criou uma patrulha adicional de dois homens para remover o perigo causado pelos "meliantes que passam gordura à noite".
 
Será necessário esperar até a República Helvética de 1798 para acabar com a prática. A última bruxa da Suíça, a empregada doméstica Anna Göldi, foi decapitada em 1782. Um processo de reabilitação foi aberto pelo cantão de Glarus, que terminou a inocentando em 2008. Já era tempo.

Olivier Grivat, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo