Preço das ações da Repsol causa guerra de informações

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Publicado Quarta, 18 de Abril de 2012 às 10:12, por: CdB

Preço das ações da Repsol causa guerra de informaçõesEm conversa com a Carta Maior, o diretor da empresa de consultoria Douglas Westwood, que assessora investimentos petroleiros em mais de 70 países, colocou em dúvida a informação de que a estatal chinesa Sinopec teria feito uma oferta de 15 bilhões de dólares pelas ações da Repsol na YPF na última sexta-feira. “É difícil saber se estes informes são precisos. Possivelmente, é uma tentativa da Repsol para justificar seu pedido de indenização”, assinalou Steve Robertson. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

Marcelo Justo - Direto de Londres

Londres - A batalha pelo preço das ações da Repsol na YPF segue a todo vapor. Nesta quarta-feira, o Financial Times e a Reuters dedicaram amplo espaço a uma suposta oferta do grupo chinês Sinopec, que teria sido feita na sexta-feira passada e bloqueada pelo anúncio da nacionalização da companhia. A agência de notícias britânica citava o site chinês Caixin, segundo o qual, “fontes de Sinopec” asseguravam que a petroleira estatal chinesa teria acordado pagar 15 bilhões de dólares “por 57% das ações em poder da Repsol”.

Em conversa com a Carta Maior, o diretor da empresa de consultoria Douglas Westwood, que assessora investimentos petroleiros em mais de 70 países, colocou em dúvida a solidez dessas informações. “É difícil saber se estes informes são precisos. Muito possivelmente, é uma tentativa da Repsol para justificar seu pedido de indenização. A ideia de uma oferta sobre a mesa validaria essa pretensão”, assinalou Steve Robertson.

Na terça-feira, o presidente da empresa, Antonio Brufau, assinalou que houve uma oferta “muito séria” que a companhia usaria em seu pedido de ressarcimento econômico. “O que posso dizer-lhes é que tivemos ao menos uma oferta, muito séria, e que isso constará em um documento sobre o valor da YPF”, indicou.
O interesse de empresas chinesas na América Latina não é novo. A própria Sinopec tem 40% das operações da Repsol no Brasil, adquiridas em 2010 por mais de 7 bilhões de dólares. Mas, segundo o Financial Times, por esta mesma razão, não faz muito sentido que a Sinopec tenha feita uma oferta pelo Repsol YPF “na sexta-feira passada” quando se aproximava o desenlace da tormentosa relação entre a empresa espanhola e o governo de Cristina Fernández. “Com o descobrimento offshore que fizeram no Brasil, por que iriam investir em uma empresa que podia ficar enredada em uma batalha legal. Ao mesmo tempo, por que a Sinopec estaria conversando com a Repsol sobre o tema. Por acaso pensava que a Argentina não nacionalizaria a empresa?”, assinala o artigo do Financial Times.
Uma possível resposta a esta pergunta é que a Sinopec poderia estar se posicionando para chegar a algum acordo com o governo de Cristina Fernández com o olho voltado para a formação de Vaca Muerta, em Neuquén. Este campo coloca a Argentina como terceiro país em reservas de hidrocarbonetos não convencionais. “A China sabe que sua demanda interna vai crescer e sabe que sua produção não é suficiente. Com as descobertas do ano passado, há um grande interesse pela Argentina”, disse Robertson à Carta Maior.
A formação de Vaca Muerta tem um problema: o custo. Em fevereiro, a Repsol calculava que seriam precisos 25 milhões de dólares por ano durante uma década para explorá-la a fundo. Entre as críticas à nacionalização na imprensa internacional o tema do investimento é uma delas: quem vai investir agora em um recurso tão caro sem garantias? “É evidente que haverá um pouco de nervosismo entre as companhias pelo temor que esse anúncio causa em nível de estabilidade e garantias futuras ao investimento. Ao mesmo tempo haverá companhias dispostas a investir em uma reserva tão importante”, assegurou Robertson.
Enquanto isso, o Reino Unido está aproveitando para levar água ao seu moinho. A chancelaria britânica criticou a nacionalização e se apresentou como primeiro aliado da Espanha no tema. “Esta é a última de uma série de medidas de comércio e de investimento adotadas pela Argentina, que afetam os interesses empresariais e prejudicarão a economia argentina. Trabalharemos com a Espanha e nossos sócios europeus para que as autoridades argentinas cumpram seus compromissos internacionais”, disse o chanceler William Hague. O City A.M., diário da City londrina, citou um analista que opinava que a nacionalização unificaria a oposição internacional ao pleito pelas ilhas Malvinas. “Isso, que é uma má notícia para os investidores na Argentina, poderia ser, no longo prazo, uma boa notícia para os que investem nas Falklands”, assinalou Ian Mc Lelland, diretor da Unidade de Petróleo e Gás da Edinson Investment Research. Em rio revolto, os pescadores tentam lucrar com a tempestade.


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