PF desarticula quadrilha de cartões clonados em cinco Estados

Arquivado em:
Publicado Quinta, 04 de Março de 2010 às 08:06, por: CdB

A Polícia Federal executa nesta quinta-feira, a Operação Ícaro nos Estados de Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, contra organização criminosa voltada à clonagem de cartões bancários e utilização em compras de passagens aéreas, entre outros produtos. Estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e nove mandados de busca e apreensão expedidos pela 3ª Vara Criminal da comarca de Governador Valadares/MG.

Segundo a PF, as investigações se iniciaram em novembro do ano passado a partir de denúncia de empresa aérea que percebera divergências no faturamento do aeroporto de Governador Valadares, principal área de atuação da quadrilha. A empresa verificou que apesar da alta freqüência de passageiros nos seus vôos, o faturamento e lucro haviam caído vertiginosamente, tendo em vista o uso de cartões de credito clonados para pagamento das passagens.

Após comunicação dos fatos à Polícia Federal esta investigou e chegou a identificação de 28 integrantes da quadrilha com vinculo efetivo e permanente nas atividades criminosas, os quais foram indiciados pela Autoridade Policial nos crimes previstos no art. 171 (estelionato), art. 180, §1º (receptação qualificada), art. 155, §4º, II (furto qualificado) e art. 288 (formação de quadrilha).

Ainda segundo a PF, o modus operandi da quadrilha consistia basicamente na obtenção fraudulenta de números de cartões de credito de terceiros e sua utilização indevida para compra de diversos produtos oferecidos e à disposição pela internet, especialmente passagens aéreas. A quadrilha era bem dividida, sendo que cada grupo tinha uma função pré-determinada.

A primeira parte do grupo, sediada em Belém/PA, era responsável pela captação dos números de cartão de credito, o que se dava de duas formas: a primeira através de empresas terceirizadas de editoras que vendiam assinaturas de revistas e assim tinham acesso a informações dos cartões de clientes. A segunda era através do ato de "malhar cartão", que na gíria dos criminosos consistia em ligação efetuada para a casa das pessoas, fazendo-se passar por funcionários do centro de qualidade das administradoras Visa/Mastercard dos clientes. Nesse segundo caso, os alvos preferenciais eram os idosos.

A quadrilha efetuava essas ligações através de linhas telefônicas conseguidas de forma ilícita, cadastradas em nome de terceiros, com os quais eles montavam o que chamavam de verdadeira "central telefônica clandestina" em suas residências e escritórios, aproveitando a oportunidade para dar telefonema para clientes de qualquer lugar do Brasil.

A segunda parte do bando, também sediado em Belém/PA, era responsável pela compra desses números de cartões de credito conseguidos pelo primeiro grupo. Em média, cada cartão de crédito era negociado entre R$3,00 e R$150,00, a depender da quantidade de dados disponíveis, do limite de crédito, da validade e da confiabilidade. Ou seja, aqueles cartões em que constassem apenas o número, a data de validade e o código de segurança, sem qualquer indicativo do limite ou dados como titular, seu CPF, endereço de cobrança etc. valiam a bagatela de R$3,00.

Em contrapartida, aqueles cartões com os dados completos, com limite alto comprovado, contendo todos os dados do seu titular e nunca antes usado na atividade criminosa, era vendido por até R$ 150,00 cada. A partir desse momento, os integrantes desse grupo, de posse dos cartões de crédito, partiam para as compras fraudulentas através da internet.

A terceira parte do bando, sediado em Belém/PA, Governador Valadares/MG, Belo Horizonte/MG e Rio de Janeiro/RJ, tinha a função de conseguir os compradores dos produtos de crime. Esses produtos variavam de acordo com o cliente: a quadrilha vendia passagens aéreas, inclusive internacionais, com destinos para o Paraguai, Estados Unidos e Europa; diárias em hotéis de luxo principalmente na grande São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro; ingressos em camarote para shows como da cantora internacional Beyonce em sua apresentação na cidade de São Paulo; e ainda produtos dos sites de compras da internet. Por essa intermediação, os integrantes dessa quadrilha ganhavam comissões dos valores vendidos.

Na região de Governador Valadares, os integrantes da quadrilha vendiam qualquer passagem aérea no Brasil ao valor de 50% do preço original que continha no site, independente do dia, da quantidade e do destino.

Como exemplo, durante os dois meses de investigação, a Polícia Federal identificou mais de 500 passagens aéreas fraudadas, a um prejuízo superior a R$ 250.000,00 com a utilização de mais de 200 cartões de crédito fraudados. Estimativas da PF indicam que ao longo do ano de 2009, a quadrilha tenha dando um rombo no faturamento das empresas aéreas em valor superior a 2 milhões de reais. Como a maioria dos números dos cartões de crédito não era vendida com os dados completos dos seus titulares, os criminosos utilizavam nomes fictícios para fornecer durante a compra nos sites.

Dentre os passageiros identificados pela Polícia Federal, estão médicos, dentistas, funcionários públicos, entre eles integrantes da Prefeitura Municipal de Governador Valadares/MG onde um dos integrantes havia trabalhado, Autoridades Públicas como Juízes, Promotores, Procuradores Federais e políticos que compraram passagens em princípio sem conhecimento da fraude. Os seus nomes estão sendo analisados pela PF a fim de determinar a exata participação e culpabilidade deles em todo o esquema. Um dos presos da operação foi recentemente detido em flagrante por agentes federais do Pará durante a execução da terceira fase do vestibular daquela Universidade Federal, ocorrida no último dia 11 de fevereiro de 2010, quando utilizava documento de identidade falsa em nome de terceiro (candidato), fazendo-se passar por este durante a prova.

Além dos 28 integrantes do esquema criminoso, foi indiciada também a gerente-geral da CEF de Governador Valadares/MG pelo crime previsto no art. 325, §2º do Código Penal, em razão do vazamento, durante os trabalhos investigativos, de conteúdo sigiloso da operação que tinha conhecimento exclusivamente em face do cargo público que ocupa.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo