Especialistas que se debruçaram sobre dados a respeito de vacinações contra a varíola realizadas no passado, nos Estados Unidos, concluíram que o vírus usado na vacina pode provocar casos de vacínia por contato – a propagação do vírus vacínia passado de alguém recentemente vacinado para alguém que não o foi.
A vacínia, uma forma menos virulenta da varíola, é o vírus vivo usado em vacinações contra a varíola.
Pessoas com problemas de pele, como eczema, podem espalhar o vírus por sua própria pele e potencialmente infectar outros que não foram vacinados.
O vírus da vacínia pode causar rash cutâneo, febre e dores de cabeça e no corpo.
Os pesquisadores, liderados pelo Dr. John Neff, ex-pesquisador do Programa de Erradicação da Varíola do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, discutiram o que encontraram em artigo publicado na quarta-feira, na Journal of the American Medical Association.
Sua pesquisa concentrou-se em campanhas de vacinação em massa realizadas nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Suécia, entre 1947 e 1968.
De modo geral, nos estudos norte-americanos, o índice de transmissão da vacínia por contato foi de dois a seis casos para cada 100 mil vacinações.
A maioria dos casos – dos quais alguns poucos resultaram em mortes – ocorreu em crianças com eczema, um problema de pele caracterizado por coceira, vermelhidão e até pústulas, nos casos mais graves.
E a doença foi mais propensa a se espalhar entre pessoas com história de eczema, embora elas não tivessem lesões ativas na pele.
A distribuição por idade dos casos nos Estados Unidos mostra que pessoas jovens são mais vulneráveis a contrair vacínia por contato.
– Menores de 1 ano: 25 casos
– De 1 a 4 anos de idade: 113 casos
– De 5 a 19 anos de idade: 40 casos
– Com 20 anos de idade ou mais: 44 casos
Isso significa que 62 por cento dos casos ocorreram em crianças de 5 anos ou menos e quase 20 por cento em pessoas com 20 anos ou mais, segundo o estudo.
A maioria dos casos aconteceu em casa, com muitas das vítimas tendo contraído o vírus de membros vacinados da família ou colegas. Em raros casos, a transmissão aconteceu de uma enfermeira vacinada para um paciente.
“O risco (de contrair a vacínia) não é grande. Esse risco precisa ser posto em perspectiva”, escreveram os pesquisadores.
Mas eles realmente admitem que, atualmente, estamos mais suscetíveis do que as gerações passadas. Por quê?
– Como as amplas vacinações contra a varíola foram interrompidas, em 1972, quase ninguém nascido desde então tem imunidade à vacínia, segundo os autores. Se vacinado, esse grupo poderia espalhar o vírus por até 19 dias. Mesmo aqueles que chegaram a receber uma dose da vacina no passado poderiam abrigar maior quantidade do vírus e por um período de tempo mais longo, dependendo de quando foram vacinados e quantas doses receberam ao todo. Em resumo, a maioria das pessoas nascidas antes de 1972 recebeu somente uma dose da vacina contra a varíola. Estas pessoas provavelmente reagiriam como se nunca tivessem sido vacinadas.
– O eczema – também chamado de dermatite atópica – é mais prevalente hoje em dia. Nos Estados Unidos, as taxas cresceram de três a seis por cento para seis a 22 por cento nos últimos 30 anos, segundo os pesquisadores.
– Hoje existem mais pessoas com o sistema imunológico debilitado. Os autores teorizam que isso pode se dever à propagação do HIV e ao amplo uso de drogas para suprimir o sistema imunológico de pacientes de câncer e daqueles que recebem transplantes de órgãos, por exemplo.
“A contaminação da vacínia nessa população poderia ser especialmente séria”, escreveram.
Uma política de vacinação cuidadosa é a chave para manter a vacínia sob controle, caso as vacinações em massa contra a varíola voltem a se tornar realidade, segundo o artigo.
Os pesquisadores recomendam que os responsáveis pela saúde pública procurem cuidadosamente por pessoas com história de eczema e por aqueles