Para Sharon, acabar com Arafat tornou-se uma obsessão

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Publicado Sábado, 21 de Setembro de 2002 às 23:04, por: CdB

A reação do primeiro-ministro Ariel Sharon à explosão suicida em Tel Aviv, na quinta-feira (19), foi simples e imediata: Iasser Arafat "precisa ser removido, de uma vez por todas". Sharon, novamente, foi freado por seus oficiais militares e pelos americanos. O primeiro-ministro teve que concordar com apenas mais um ataque destrutivo ao quartel-general de Arafat em Ramallah, reduzindo o domínio do líder palestino a algumas salas. Em sua reação, Sharon demonstrou que estava obcecado com a destruição de seu antigo inimigo, independentemente de quão contraproducente ou ilógica pudesse ser essa decisão. Não importa se Arafat parece já ter perdido o controle sobre os palestinos, ou que a retaliação tenha alcançado o que os militantes islâmicos esperavam ao despachar suicidas. Não importa que a destruição do ícone palestino levaria os palestinos moderados a se reunirem em torno de um líder que queriam dispensar. Para Sharon, Arafat é o verdadeiro inimigo, e sua presença no território é intolerável. É símbolo de tudo que o velho guerreiro israelense tentou esmagar com sua ocupação incansável de territórios palestinos. Muitos ministros de direita e oficiais militares são da mesma opinião. Eles alegam que a paz não será possível caso Arafat não seja derrubado e a Autoridade Palestina totalmente destruída. "Os críticos de Sharon à esquerda o criticam por não ter aproveitado o recente intervalo de ataques para fazer avançar o processo político com os palestinos", escreveu Hemi Shalev no jornal Maariv. "No entanto, em conversas privadas, Sharon diz que está energeticamente envolvido nesse esforço, apesar de não dar detalhes. Ao menos enquanto Arafat estiver na ativa, negociações políticas serão percebidas pelo gabinete do primeiro-ministro como fraqueza. Sua única resposta é impor cada vez mais força". Para muitos israelenses, essa postura os faz sentir "revendo um filme ruim" --velho ditado israelense, que muitos invocavam nas ruas de Tel Aviv depois do bombardeio. Não é que os israelenses tenham simpatia por Arafat. Mas as explosões suicidas seguidas, de quarta e quinta-feira, vieram depois de semanas de calmaria. A ausência de ataques dentro de Israel e várias iniciativas de israelenses e palestinos criaram o que Shalev descreveu como a "doce ilusão" de que o pior teria passado. Não era uma ilusão. Palestinos moderados e líderes israelenses tinham conseguido negociar uma retirada modesta em Belém, na Cisjordânia; alguns líderes palestinos começaram a exigir publicamente um fim dos ataques suicidas; o Conselho Legislativo Palestino tinha preparado uma espécie de golpe contra a liderança de Arafat; e líderes políticos e militares israelenses estavam começando a dizer que seus ataques incansáveis estavam pesando nos militantes palestinos e fornecendo um pouco de segurança. Os ataques suicidas foram uma brutal volta à realidade. Em retrospectiva, israelenses sabiam que era somente uma questão de tempo até que os militantes conseguissem encontrar uma forma de ultrapassar o cordão de isolamento e a lógica inexorável do conflito fosse reafirmada. Agora que o encanto foi quebrado, israelenses sabem que mais ataques virão. Sharon concentrou sua fúria sobre Arafat e enviou tanques para destruir mais prédios em Ramallah. Enquanto isso, começou-se a questionar se a fé do governo na força não servia apenas para garantir uso de mais força da próxima vez. Israelenses com contatos no governo disseram que Sharon ainda estava determinado a exilar Arafat e talvez usasse o próximo ataque a israelenses para fazê-lo. Houve também considerável especulação que o governo estava planejando entrar em Gaza para caçar líderes do Hamas. "A conclusão é clara: é só uma questão de tempo até o próximo ataque terrorista", escreveu Yaov Limor em Maariv. "Tudo o que precisam é de uma pequena chance, duas horas de suspensão do toque de recolher, para despachar um terrorista. Isso força Israel a uma escolha impossível, entre estrangular a popula

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