Duas visões: Uma contemporânea, do professor Nelson Basic Olic, da revista quinzenal Pangea, sobre o Paquistão. A outra, do professor alemão Friedrich Engels, sobre o Afeganistão e a derrota dos ingleses naquele território, no século XIX, oferecem uma idéia do panorama geopolítico daquela região. O ponto em comum nestes dois momentos é, sem dúvida alguma, a tenacidade e a coragem daquele povo.
PAQUISTÃO: o país onde nasceu o talebã
Por NELSON BASIC OLIC
Com cerca de 800 mil km2 de extensão, pouco menor que a Região Sudeste do Brasil e aproximadamente 140 milhões de habitantes, o Paquistão tem um papel importantíssimo no contexto geopolítico do subcontinente indiano e das áreas adjacentes (Oriente Médio e Ásia Central). Isto decorre não só por conta de seu envolvimento em problemas de países vizinhos, especialmente em relação à Índia e ao Afeganistão, mas também por causa de suas tensões étnicas e religiosas internas.
O Paquistão surgiu como país independente em agosto de 1947, como resultado da bipartição da colônia britânica da Índia. A idéia de se criar o Paquistão esteve ligada à oposição dos muçulmanos do subcontinente indiano em passarem a integrar uma Índia plurireligiosa e laica.
A própria palavra que designa o país é relativamente recente e foi “inventada” por jovens intelectuais muçulmanos que estudavam na Grã-Bretanha durante a década de 1930. O termo Paquistão, cujo significado é “o país dos puros”, tem uma origem singular. Cada letra que compõe o nome do país – Pakistan em inglês – tem um significado geográfico: cada uma delas refere-se a uma das regiões que integram o país. Assim, a letra P é de Punjab, o A é de Afegânia, o K é de Kachemira, o S é de Sind e as três últimas letras (TAN) referem-se à área meridional do país, conhecida como Baluquistan.
Desde o início, os jovens líderes muçulmanos fizeram questão de fazer valer a idéia de que a colônia britânica da Índia era composta por duas entidades políticas distintas: o Paquistão e a Índia.. Afirmavam eles que o Paquistão era uma nação com cultura, língua, literatura, leis, códigos, costumes e calendário próprios. No final das contas, o aspecto que acabou prevalecendo foi o religioso: o Paquistão, diferentemente da Índia pluriétnica e plurireligiosa, fez do islamismo o fundamento de sua identidade nacional.
Isso, contudo, não evitou que o Paquistão, no momento da independência, acabasse formado por dois territórios distintos separados por mais de 2.000 km.: o Paquistão Ocidental (atual República Islâmica do Paquistão) e o Paquistão Oriental (que, em 1971, se separaria de seu “irmão ocidental” dando origem a um novo país, Bangladesh) . Também não evitou que permanecesse em território da Índia uma numerosa minoria muçulmana que, embora perfaça aproximadamente 11% do efetivo total do país, representa atualmente em números absolutos mais de 100 milhões de indivíduos.
A geografia regional do Paquistão
A federação paquistanesa agrupa vários áreas com estatutos político-administrativos distintos: existem as províncias, (Punjab, o Sind e o Baluquistão), os territórios tribais (localizados junto à fronteira afegã), os “Territórios do Norte” (Gilgit, Baltistão) administrados diretamente pelo governo federal e, por fim, o Azad Cachemir (Cachemira Livre) que goza de uma situação muito particular. Esta complexa construção administrativa mostra o caráter diverso e, até certo ponto artificial, do Paquistão.
Do ponto de vista geográfico podem ser distinguidas no Paquistão duas grandes unidades regionais: o centro-sul e o norte-noroeste. A primeira delas compreende mais de três quartos do território do país, abriga cerca de 80% do efetivo populacional e pode ser subdividida em três diferentes áreas:
a) o Punjab, com mais de 200.000 km2, cerca de 60 milhões de habitantes, cuja cidade principal é Lahore;
b) o Sind, com mais ou menos 150.000 km2, mais de 25 milhões de pessoas, tendo como principal cidade Carachi;
c) o Baluquistão, pouco menos