Papel da imprensa não é só montar palco para confrontos

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Publicado Segunda, 22 de Outubro de 2012 às 08:14, por: CdB

A ombudsman da Folha, Suzana Singer, focou neste fim de semana (domingo) num tema crucial que há três semanas estamos propondo seja efetivamente discutido, que é a mudança do modelo e formato dos debates no rádio e TV entre os candidatos no Brasil a cada eleição.

Temos comentado sobre isso aqui no blog e não há como não concordar com a ombudsman em sua crítica ao tédio e ao engessamento que marcaram o debate entre os candidatos José Serra e Fernando Haddad na 5ª feira passada na Rede Band.

Suzana está coberta de razão quando chama a atenção em sua coluna para as mil exigências dos marqueteiros e dos candidatos que vão a esses debates pisando em ovos, cercados de mil restrições e cerceamentos acertados previamente, para que não lhes sejam feitas perguntas que julgam inconvenientes.

Modelo atual cerceia liberdade do mediador


A ombudsman lembra que essa situação simplesmente restringiu o papel do mediador Bóris Casoy, na Band 5ª feira passada, a repetir a monótona frase "com a palavra o candidato tal...para fazer a sua pergunta...réplica... e tréplica", e a pedir silêncio e que a plateia evitasse manifestações.

Ela encarece a necessidade de mudar esse modelo de debate e cobra que a própria mídia se conscientize de que o seu papel não é apenas montar um palco para estes confrontos. A ombudsman lembra que foi  num debate em outro formato, completamente livre, que o mesmo Bóris Casoy pode perguntar ao então candidato a prefeito de Sampa em 1985, Fernando Henrique Cardoso, se ele acreditava em Deus.

FHC vacilou na resposta, disse que não esperava aquela pergunta e os efeitos todos se recordam - Jânio Quadros explorou  questão e ganhou a eleição. Da análise da Suzana no fim de semana, só discordo em um ponto: na sua crítica à mídia que, segundo ela, não fez um  agenda propositiva para levar os candidatos a discutir projetos, programas, metas, obras, etc., e dedicou páginas e páginas à campanha homofóbica.

Papel da mídia

Em parte até cabe à mídia cumprir este papel, mas apresentar e discutir projetos, programas, metas, obras, etc. é um dever principalmente dos candidatos e de suas campanhas.E não foi a mídia que fez a campanha descambar para a homofobia. Ela só reproduziu e deu espaço ao que o candidato José Serra e seu braço direito e principal aliado neste tema, o pastor evangélico Silas Malafaia desencadearam.

José Serra até gosta e veicula essa mesma versão dos fatos, pois ela tira dele a responsabilidade  por ter levado a campanha para questão de genero, como levou a de 2010 para o tema do aborto e disse a mesma coisa: que não foi ele, que isto foi inserido por outros na campanha.

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Edição digital

 

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