Papa Francisco é uma marca de humildade na Igreja

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Publicado Sexta, 13 de Novembro de 2015 às 12:00, por: CdB
Por Mailson Ramos - de São Paulo: Em 26 de agosto de 1978, os cardeais da Igreja Católica, reunidos na Capela Cistina, em conclave, elegeram o sucessor do Papa Paulo VI: era o cardeal patriarca de Veneza, Dom Albino Luciani, que escolheu ser chamado de João Paulo, em homenagem aos dois papas que o antecederam. Luciani viveu apenas trinta e três dias após sua eleição.

Poderia ser pouco tempo para determinar a importância do pontificado de João Paulo – chamado depois de João Paulo I, porque seu sucessor adotou o mesmo nome –, mas as características de Luciani e a resistência que encontrou no conservadorismo do Vaticano nos remete ao momento em que vive seu terceiro sucessor, o Papa Francisco.

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Os romanos se referiam a Luciani como il papa che non vuole essere re (o papa que não quer ser rei). Mesmo vivendo no Palácio Apostólico, no pouco tempo de duração de seu pontificado, João Paulo I dispensou algumas formalidades tradicionais como a coroação papal. Até ali nenhum papa havia rejeitado este cerimonial. Isso causou verdadeiro furor entre os cardeais tradicionalistas. O papa passou a ser ridicularizado em seus discursos, por sua posição muito parecida a de um simples pároco e não do Bispo de Roma.

Luciani arquitetava também uma reforma administrativa no IOR (Banco do Vaticano), mas no dia 28 de setembro sucumbiria em seu próprio leito, vítima de infarto do miocárdio.

Não se pode dizer que o Papa Francisco esteja vivendo as mesmas pressões que viveu João Paulo I. A Igreja Católica passou pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), e a chegada de Francisco foi o resultado desta abertura à modernidade. Não se pode, contudo, deixar de frisar que a Igreja é a mais antiga instituição do mundo; que muitos dos seus papas foram antes monarcas e não propriamente sacerdotes; que instituições arcaicas costumam caminhar um passo atrás da sociedade.

Os custódios da tradição católica são religiosos muito importantes e que exercem influência direta e indireta sobre o pontífice romano. Esta representação tradicionalista adquire forma na Cúria Romana, formada pelos cardeais, bispos e arcebispos que assistem o papa.

O problema não está na humildade de Francisco; está na opulência de alguns membros da Igreja. Não é coincidência, portanto, o fato de que o Cardeal Tarcisio Bertone surja novamente nas crônicas de corrupção do clero. Isso tudo vai de encontro à personalidade simples do papa.

Um pontífice romano que escolheu viver numa hospedaria dentro do Vaticano (Casa Santa Marta) e que sonha com uma Igreja pobre não deve ser precisamente o papa dos sonhos de um cardeal abastado. O tempo dos príncipes não mais existe. Os cardeais o escolheram justamente para combater a distância entre a Igreja e o fiel, para combater a pedofilia dentro do clero. Francisco deveria mostrar que a Igreja é pobre e para os pobres, um sonho de humildade que remete a instituição aos primórdios de sua fundação.

A condição do Papa Francisco pode ser parecida com os primeiros momentos de João Paulo I. Mas o argentino é um homem forte; ainda que possua alguma debilidade, mesmo física, não a demonstrou. É diferente de todos os seus predecessores. Sua visão social é muito mais ampla.Ele nasceu numa terra de desigualdades e, diferente dos papas europeus, conhece a realidade na pele. Por isso deve ultrapassar as barreiras do tempo e da tradição extremada do Vaticano para garantir ao seu pontificado seu matiz moral que é a humildade dos pobres de espírito.

Mailson Ramos, é colunista do portal Nossa Política, http://nossapolitica.net/
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