A possível utilização do Palácio Gustavo Capanema em sede do Comitê Organizador dos Jogos e da Autoridade Pública Olímpica pode esbarrar na falta de espaço para abrigar as equipes e depende de reformas a serem feitas no prédio. O imóvel, construído entre 1936 e 1945, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e abriga diversos órgãos dos ministérios da Cultura e da Educação.
A ideia partiu do ministro do Esporte, Orlando Silva, e foi logo divulgada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, durante a viagem de ambos a Londres, na semana passada, mas o Ministério da Educação têm planos de transformar o local em um centro de pesquisas em parceria com a Unesco.
O superintendente regional do Iphan, Carlos Fernando Andrade, afirmou que não havia sido comunicado oficialmente do projeto e levantou dúvidas sobre a viabilidade.
– Eu fiquei sabendo disso pela imprensa e me parece que é uma ideia ainda embrionária. Não temos informações sobre qual a metragem quadrada que eles vão necessitar e se é possível de acomodá-los no prédio, que já tem diversas repartições funcionando, sendo utilizado em toda a sua plenitude. Me parece um pouco difícil, pois já são 16 andares ocupados, mas se for uma área viável, poderá ser bom para todo o mundo –, disse Andrade.
O superintendente do Iphan ressaltou que o prédio é tombado e passa por um processo de início de reconhecimento como de patrimônio da humanidade pela Unesco, o que vai demandar obras de restauração - incluindo sistema de proteção contra incêndio, parte elétrica e esquadrias - que poderiam ser, pelo menos em parte, financiadas pelo Comitê Organizador da Copa.
– Toda ideia que pode gerar recursos é boa. Neste momento estamos encomendando projetos na ordem de R$ 1 milhão em restauração, exatamente para poder cumprir o dossiê a ser apresentado à Unesco. E eu imagino que a gente vai precisar de uns R$ 35 milhões. Mas a ocupação imediata fica prejudicada porque nós temos diversos problemas no prédio, inclusive de elevadores e falta de ar-condicionado –, disse Andrade.
A presidente da Associação dos Servidores e Trabalhadores da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Isabel Costa, afirmou que não é contra a utilização do prédio para acomodar os comitês olímpicos, mas frisou que dificilmente haverá espaço no Palácio Gustavo Capanema.
– O prédio não está ocioso, pois aqui nós temos, além do Ministério da Educação, repartições de três grandes instituições do Ministério da Cultura: a Funarte, Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional e o Iphan. Todos os andares estão ocupados –, disse.
Segundo ela, outra dificuldade é a necessidade de reformas prévias no imóvel.
– Agente considera que o prédio não é o ideal para abrigar repartições públicas, não foi projetado para isso. A iluminação não é adequada, não tem ar-condicionado e a divisão de setores é precária, pois é uma improvisação.
A presidente da associação considera positiva a ideia de investimentos no prédio em troca de abrigar organizações esportivas, como forma de legado olímpico, mas questiona se haverá necessidade de remoção de funcionários que trabalham no espaço atualmente.
– Os funcionários não são contrários à ideia. Em princípio, estamos abertos a negociações. O que a gente desconhece é o tamanho deste Comitê Olímpico e se é possível uma convivência simultânea no prédio –, explicou.
O Palácio Gustavo Capanema é o marco das transformações da arquitetura brasileira do século vinte e considerado a primeira obra em que os princípios do modernismo foram aplicados em escala monumental. Foi projetado por Lúcio Costa e construído entre 1936 e 1945 para ser a sede do Ministério da Educação e Saúde.