ONU elabora plano de ação para Iraque após guerra

Arquivado em:
Publicado Quarta, 05 de Março de 2003 às 05:20, por: CdB

A ONU (Organização das Nações Unidas) já traçou um plano de ação detalhado para um governo pós-Saddam Hussein no Iraque, segundo os jornais britânicos The Times e The Guardian. A existência do documento - que estaria sob a supervisão da canadense Louise Fréchette, vice do secretário-geral da ONU, Kofi Annan - foi confirmada pela organização, mas os detalhes não foram divulgados oficialmente. A estratégia delinearia - em um calhamaço de 60 páginas - a condução do país, três meses depois de uma invasão liderada pelos Estados Unidos, na direção de um governo autônomo nos moldes do que foi feito no Afeganistão. De acordo com o The Times, o plano seria aplicado pela ONU mesmo que os americanos ataquem o Iraque sem o respaldo da organização e recomenda que um alto funcionário seja nomeado coordenador dessa estratégia imediatamente. Presunções No entanto, segundo Stephane Dujarric, um porta-voz de Kofi Annan, isso não significaria que a instituição já está admitindo a guerra como certa. "Nós não estamos assumindo nada. Não há presunção de guerra", disse Dujarric, ao The Guardian. Segundo os detalhes revelados pelo The Times, a ONU evitaria assumir totalmente a administração do país, como foi feito nos casos do Timor Leste e de Kosovo, e como quer o governo britânico. Em vez disso, seria criada a Missão de Assistência no Iraque (Unami, na sigla em inglês), que guiaria o país durante o processo de desenvolvimento de uma administração autônoma. O documento recomenda que a ONU evite tomar o controle do petróleo iraquiano e barrar a participação de altos funcionários iraquianos por suas relações com Saddam ou mesmo que organize eleições sob a ocupação americana. Segundo o The Times, Fréchette teve uma reunião de uma hora e meia com o general reformado americano Jay Garner, que deve ser nomeado pelos Estados Unidos administrador do Iraque pós-guerra. O militar é o diretor do Escritório para Assuntos Humanitários e de Reconstrução do Pentágono, criado em janeiro e que já está articulando um governo provisório com exilados iraquianos e conselheiros americanos para assumir os principais ministérios e empresas públicas do Iraque. Afeganistão Durante a reunião, Garner teria afirmado que os Estados Unidos pretendem repassar o governo do país à ONU "o mais rápido possível", segundo o Times. O cargo de administrador interino da Unami, segundo fontes entrevistadas pelos jornais britânicos, seria o algeriano Lakhdar Brahimi, que organizou a criação do governo do Afeganistão. A estratégia prevê ainda a participação dos outros países membros do Conselho de Segurança no governo interino. "A opinião ponderada do grupo de pré-planejamento é que, apesar de as declarações públicas garantirem que as forças de coalizão serão responsáveis pelas administrações civil e militar no período imediato ao conflito, a probabilidade de um envolvimento mais substancial da ONU na fase de transição (período seguinte aos três primeiros meses) não pode ser descartada", diz o documento, segundo o The Times. O documento chega a considerar uma administração da ONU no Iraque, mas afirma que não seria possível para a organização governar um país 33 vezes maior do que o Timor Leste. "O grupo chegou à conclusão que, apesar de uma administração de transição liderada pela ONU parecer mais palatável do que uma administração das forças de ocupação, há obstáculos para um administração de transição: a ONU não tem a capacidade de assumir a responsabilidade de administrar o Iraque", conclui o documento.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo