O que há de errado no ufanismo?

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Publicado Sexta, 10 de Setembro de 2004 às 09:26, por: CdB

"Em matéria de amor à Pátria, como em carinho filial, que se peque por excesso, nunca por deficiência"
Conde Afonso Celso

Não fui à Esplanada dos Ministérios assistir ao desfile de 7 de Setembro. Preferi ver pela televisão. Não é a mesma coisa. Tenho certeza de que grande parte das 50 mil pessoas que enfrentaram o sol e a seca para ver a parada cívica sentiu a emoção arrepiar a pele ao ver o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima ser saudado como um campeão olímpico, um guerreiro que tão bem representou o país na principal prova dos Jogos Olímpicos de Atenas.

Deve ter sido emocionante, também, assistir de perto a alunos com deficiência auditiva e vocal representando o Hino Nacional com a linguagem dos sinais. Para alguns, talvez tenha sido mais emocionante ver pela primeira vez um grupo de bailarinos mostrando a arte da dança no asfalto. Ou a passagem dos 98 integrantes da delegação brasileira das Paraolimpíadas. A Banda dos Fuzileiros Navais, as exibições de combate ou a apresentação da esquadrilha da fumaça.

O que não consegui entender foi o uso do substantivo "ufanismo" para qualificar com ênfase negativa o espetáculo, que desde o ano passado - quando estive presente - perdeu a característica de simples parada militar para se transformar em uma festa cívica, com o nítido objetivo de despertar no povo o sentimento patriótico, adormecido nas últimas décadas. Não se transforma em Nação um povo que não ama sua cultura, sua história e seus símbolos. E a Independência é o símbolo do nascimento da Nação brasileira.

Inconformado, fui ao dicionário Houaiss procurar o significado da palavra "ufanismo". Encontrei o seguinte:

Acepções
■ substantivo masculino
Regionalismo: Brasil.
1 atitude de quem se orgulha de alguma coisa com exagero
1.1 Derivação: freqüentemente.
orgulho exacerbado pelo país em que nasceu; patriotismo excessivo
Etimologia
ufano + -ismo, voc. alusivo ao espírito de Por Que Me Ufano do Meu País (1900), livro do conde Afonso Celso.

Que mal há em ter orgulho pelo país em que nasceu, ainda que exagerado? Pesquisando no Google, descobri algumas coisas sobre esse conde que "inventou" a raiz da expressão. Era um patriota extremado, que escreveu o seguinte no prefácio de um de seus livros: "Em matéria de amor à Pátria, como em carinho filial, que se peque por excesso, nunca por deficiência".

Não satisfeito, continuei pesquisando, meio sem saber direito o que buscava. Encontrei em um artigo do professor Antonio Cândido sobre a instabilidade da palavra "nacionalismo" ao longo da história brasileira a seguinte referência: "O famoso livro do conde Afonso Celso, 'Por Que Me Ufano do Meu País' (1900), exprimia no grau de máxima exaltação e máxima ingenuidade essa visão tola e perigosa, que só mais tarde seria ironizada com o nome de ufanismo".

O hiperlink na palavra Ufanismo remetia a um glossário apócrifo. A explicação exaustiva, que satisfez minha inquietude, compartilho neste espaço, na expectativa de que ilumine algumas consciências.

Ufanismo
O vocábulo "ufanismo" deriva do verbo ufanar-se, que significa ter ufania, jactar-se, vangloriar-se. Ufania é o estado ou qualidade de ufano, vaidade exacerbada, jactância, orgulho que representa uma atitude ou sentimento adotado por aqueles que se vangloriam exageradamente das riquezas ou belezas naturais do Brasil, bem como de suas realizações em vários campos (economia, artes etc). Tendo como base o panorama literário que corresponde o final do século XIX, alguns autores como Oliveira Viana, Nina Rodrigues, já lastimavam o atraso brasileiro resultante da inferioridade étnica, enaltecendo a raça superior branca que constituíra a Europa. É no início do século XX, após a consolidação da República, que começam a surgir as correntes nacionalistas que se remetem às riquezas do país. Como representação sólida desse movimento temos a obra: P

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