O partido político da mídia e as eleições na Venezuela

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Publicado Segunda, 22 de Outubro de 2012 às 08:25, por: CdB

Excelente o artigo do embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, publicado neste domingo (21.10) na Folha de S. Paulo, sob o título “Conheçam a Venezuela”. Uma análise precisa, muito bem feita, sobre a cobertura da mídia das eleições de outubro no país e da vitória de Chávez que obteve 8 milhões de votos.

Para Maximilien – e concordo com ele – o principal desafio posto ao governo Chávez é vencer o desconhecimento sobre o que ocorre hoje na Venezuela. Desconhecimento, obviamente, estimulado por esta imprensa abertamente contrária ao presidente Chávez.

Exemplos disso não faltam e Maximiliam cita vários, como o fato da vitória de Chávez, apesar dele ter obtido 8 milhões de votos, ser atribuída pela mídia a um “populismo” do presidente “caudilho” e  um suposto uso da máquina pública e abuso do tempo de propaganda televisiva”.

Para a imprensa não importa que o governo Chávez tenha reduzido à metade a pobreza no país nos últimos 13 anos. Por essas e outras, impera ainda uma ideia completamente equivocada da Venezuela e de seu povo que de passivo e despolitizado não tem nada.

Cerca de 80% dos eleitores venezuelanos foram às urnas, e veja que lá o voto não é obrigatório. Um povo, lembra o embaixador, que usufrui e constrói a cada dia mais mecanismos de participação direta na vida política do país, estimulados inclusive pelo governo.

A contrário da ideia que se quer passar, na Venezuela a imprensa é livre. Livre e francamente oposicionista, no caso da imprensa e dos meios de comunicação privados. Se alguém tem alguma dúvida, faça uma experiência zapeando os canais venezuelanos para comprovar o que escreve o embaixador venezuelano no Brasil.

Propaganda de Chávez: 12% do tempo nos meios privados

Maximilien conta, ainda, que o opositor de Chávez nesta eleição, Henrique Capriles, vem de uma família dona de uma cadeia de comunicação e que contou com 88% do tempo de propaganda eleitoral na televisão privada. Chávez teve apenas 12% nesses veículos. O embaixador traz, assim, dados importantes que contestam gritantemente o mais do mesmo que vemos na mídia – inclusive na nossa – sobre o presidente venezuelano.

“Grande parte das reportagens e editoriais priorizou ressaltar as críticas ao governo Chávez, deu exagerada importância a uma minoria de pesquisas que apontavam o empate ou a vitória de Henrique Capriles e ainda alardeou um caos político que viria da não aceitação do resultado das urnas por parte do governo, supostamente, "ditatorial" de Chávez”, aponta Maximilien.

Entrevista no blog

Aliás, além deste artigo na Folha, aos que ainda não leram recomendo que vejam a entrevista que Maximilien concendeu ao nosso blog (clique aqui). Nela o embaixador lembra que Chávez chegou ao poder na Venezuela em um momento em que o sistema político estava praticamente desintegrado e que as elites e os setores mais conservadores tiveram como último respaldo a mídia. A mídia lá chamou para si esse papel político e “de maneira visceral”, conta Maximilien.

Mas não é só nos momentos em que os partidos conservadores estão em baixa que a mídia age como partido político. Ela faz isso também com eles estão com a bola toda, como fizeram no golpe de 64, aqui no Brasil.

Como sempre vimos ao longo da história, no Brasil e na América Latina como um todo, a mídia utiliza do seu poder para fazer política. Funciona como um aparato que joga junto, no mesmo time, dos partidos conservadores. Na América Latina, não precisamos dizer isso, vocês já sabem, a mídia é conservadora em suas entranhas. E mais: conservadora e golpista, como os eventos da nossa história demonstram.

Clique aqui e leia o artigo de Maximilien Arvelaiz na Folha.

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