O melhor para o Brasil é Dilma renunciar

Arquivado em:
Publicado Segunda, 23 de Março de 2015 às 12:45, por: CdB
DIRETO-RUI-MARTINS2.jpg
Para o bem do Braqsil e para evitar maiores estragos, o melhor seriam novas eleições
Eles não sabem o que fazem, foi mais ou menos assim a manchete do principal site dos blogueiros petistas, lembrando uma frase evangélica "perdoa-lhes porque não sabem o que fazem", comentando a manifestação do dia 15 contra a presidente Dilma. Os manifestantes, um milhão ou mais de 200 mil, na avenida Paulista, em São Paulo e cerca de outro milhão na soma das manifestações em outras cidades brasileiras, seriam um bando de ingratos e desmemoriados imbecis. Mas não são só ingratos como igualmente golpistas, como são chamados os manifestantes por outros blogueiros fiéis ao governo. Seja o que for, esses quase ou mais de dois milhões de manifestantes são um número bastante suficiente para provar haver uma grande insatisfação no Brasil. Insatisfação detetada pelos correspondentes estrangeiros e publicada com destaque no Exterior, sem falarem em qualquer tipo de golpismo mas num movimento de insatisfação dentro do quadro normal das democracias. Entretanto, é verdade, o inesperado grande número de manifestantes nas ruas e o alto índice de desaprovação do governo colhido em sondagens levanta a questão se a presidente Dilma terá condições para governar nos quase quatro anos que lhe restam. Não se trata de uma insatisfação só dos eleitores do candidato derrotado nas ainda recentes eleições, esse descontentamento engloba uma parcela importante de gente de esquerda, como este colunista, e mesmo de petistas, desencantados com a presidente Dilma já no seu primeiro mandato. Esse desencanto se reforçou com a constatação de ter havido uma campanha eleitoral mentirosa montada pelo marqueteiro João Santana, vendendo uma Dilma com promessas eleitoreiras irreais, ocultando uma situação de pré-crise econômica no Brasil. Promessas abandonadas tão logo Dilma obteve esse novo mandato, no qual quer governar com o programa do adversário derrotado e com um banqueiro, quando era isso que mais criticava na insidiosa campanha contra Marina. Pode-se falar, neste caso, em credibilidade do governo? Pelo que tenho lido nos textos dos correspondentes por aqui publicados, a resposta é "não". A outra razão, ainda mais forte, são as denúncias de corrupção reveladas pela justiça federal na Operação Lava Jato, envolvendo propinas substanciosas com dinheiro público como é o da Petrobras, beneficiando participantes do esquema partidário no qual se apóia a presidente Dilma, a base aliada, assim como seu próprio partido. Não há mais confiança e as manifestações do domingo, 15 de março, quiseram transmitir essa mensagem à presidente. Sem esquecermos as prováveis astronômicas multas que serão aplicadas à Petrobras nos processos agora acionados, no Exterior, pelos seus acionistas por se sentirem lesados. Nada a ver com as manifestações de março de 1964 contra o governo Goulart, quando o governo janguista era alvo de ataques por estar empenhado na concretização das reformas de base, que iriam mudar a estrutura política e social brasileira. A insatifação atual é também resultado da adoção de medidas que vão minar e retirar uma parte das ajudas prestadas à população pobre, permitindo-lhe sair da miséria, mas sem terem sido feitas as grandes reformas necessárias. E um dos setores mais decepcionados inclui o Movimento dos Sem Terra, cansado de esperar por uma reforma agrária sempre adiada e agora impossibilitada com a presença de uma ministra do agronegócio no Ministério de Dilma. Supondo-se que a presidente Dilma insista em permanecer, como irá reagir às manifestações dos descontentes, sem o apoio da verdadeira esquerda, apoiada apenas em alguns fanáticos incapazes de ver a realidade ou sentindo-se obrigados a repetir a cartilha do poder que insiste em martelar haver golpe no ar, sem querer admitir haver em Brasília um governo fantasiado de esquerda mas insensível às verdadeiras reformas. O Brasil não só perdeu a oportunidade de realizar uma justa e plena reforma agrária, mas se submeteu aos caprichos dos ditadores da monocultura, denunciada pela esquerda há quase um século. Pior ainda, para favorecer essa monocultura que vai de encontro ao desenvolvimento sustentável, permitiu e permite o desmatamento, a apropriação das terras indígenas pelos plantadores de soja. Como um trator, o governo - eleito com o aval da esquerda - não tem a sensibilidade da negociação com a população indígena, como ocorreu na barragem de Belo Monte. Insensível aos novos desafios em termos de novas tecnologias, o governo Dilma não viu e não vê que o Sol, hoje olhado como ameaça de seca por falta d´água, poderia ser a fonte de novas riquezas dentro de um quadro de proteção ambiental e de um relançamento de nossa economia interna, se tivesse sido lançado um programa de aproveitamento da energia solar. Na sua torre de marfim braziliense, Dilma não viu o avião suíço Solar Impulse iniciar sua volta ao mundo sem combustível e só com a luz solar acionando suas hélices, com o objetivo de chamar a atenção do mundo para o uso da energia solar. O Brasil perdeu, por falta de arrojo e falta de cientistas no Ministério, o desafio do futuro e isso vai significar em alguns anos, ficarmos de novo no final do pelotão dos países emergentes, quando até a antiga Birmania quer sair de sua posição no quarto-mundo, para se lançar no uso intensivo da energia solar. O Brasil, ao contrário da Europa, não relançou as vias ferroviárias e continua poluindo e poluindo-se com o petróleo. Em matéria de Relações Exteriores, a atual política externa é nula, depois da passagem do clã Patriota, quando sob Celso Amorim o Brasil tinha sabido se fazer respeitar. Embora estivessem entre os manifestantes saudosos da ditadura militar, eles eram minoria diluída entre os decepcionados por estes dois meses e meio de governo claudicante, que recorre a resjustes fiscais sem tocar nas fortunas, nos bancos ou nos direitos de sucessão dos milionários, governo ao mesmo tempo rejeitado pela própria direita depois de a ela recorrer esperando achar apoio com as últimas medidas econômicas, numa manobra suicida que lhe está custando a perda das bases populares. A ridícula expressão da presidente, ao prometer manter as leis trabalhistas e aumentar o apoio à educação "nem que a vaca tussa", se tornou ainda mais ridícula, pois "a vaca tossiu!". Diante desse quadro, sujeito a se agravar nos próximos meses, com a inflação e as implicações do processo Lava Jato, talvez o melhor para se relançar a economia e a política social seja a hipótese de uma renúncia de Dilma, seguida de novas eleições. Será menos prejudicial ao Brasil do que se esperar para ver no que vai dar. Não se trata de golpe, temos de reconhecer tudo ser um irremediável gol contra. Rui Martins, jornalista, escritor, editor do Direto da Redação
Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo