O governador sem votos

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Publicado Quarta, 30 de Agosto de 2017 às 04:45, por: CdB

O golpe que levou Temer ao governo central acabou criando uma nova categoria no mundo da política: os governantes sem votos

Por Eron Bezerra - de Brasília:

Esse fenômeno, por outros meios, acaba de se repetir no Amazonas, com a eleição de Amazonino Mendes que se elegeu com apenas 33% dos votos do Estado. A eleição suplementar desse domingo decorreu da cassação, por compra de votos, do então governador José Melo (PROS).

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A eleição suplementar desse domingo decorreu da cassação, por compra de votos, do então governador José Melo

Amazonino, quando foi governador, se notabilizou por ter sido o governador do Norte que coordenou a compra de votos de parlamentares para votar na reeleição de FHC e por ter aplicado um conjunto de medidas privativas e de desmonte do serviço público.

Dentre estas medidas estão a privatização do Banco do Estado (BEA), da companhia de agua (Cosama) e do porto de Manaus. Além de ter extinto a Secretaria de Produção Rural e a polícia civil do estado.

Como prefeito de Manaus (2009-2012) foi tão mal avaliado que não pôde concorrer a sua própria reeleição. Nesse período se notabilizou por mandar, aos berros; uma senhora humilde morrer, diante da teimosia da popular em permanecer numa ocupação precária.

Eleição

Como esses fatos são relativamente recentes, é plausível admitir que as pessoas lembram perfeitamente; o que não lhes impediu de votarem nele para ser governador pela 4ª vez. Mas, por outro lado, explicam porque ele teve apenas 33% do eleitorado a seu favor.

De um eleitorado de 2.338.886 pessoas, Amazonino obteve 782.933 votos (33,47%) e Eduardo Braga ficou com 539.318 votos (23,06%). O grande vitorioso foi a somatória de abstenção, branco e nulo, que totalizou 1.016.635 votos (43,47%).

Mas a estatística tem dessas coisas. Permite que uma derrota seja apresentada como vitória ou uma vitória como derrota, a depender da forma como se manuseei esses dados.

TRE

O que o TRE divulga é o percentual obtido pelos candidatos apenas dos votos válidos e, nesse caso, os percentuais ficam obviamente inflados.

Sua vitória, portanto, talvez decorra do fato de que a população não conseguiu enxergar uma alternativa plausível na disputa que acaba de se encerrar.

Tudo indica que a criminalização da política cobrou e vai cobrar ainda mais seu preço. O primeiro preço é o reforço a política de Temer. Cujos apoiadores estavam, no geral, dando sustentação a Amazonino. Não por acaso o primeiro compromisso do governador eleito é uma audiência com Temer.

 

Eron Bezerra, é professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

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