Nasce um novo movimento social

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Publicado Sexta, 01 de Agosto de 2003 às 07:42, por: CdB

 
Brasília, 29 de junho de 2003, é criado o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). Mais de 800 pessoas reunidas na III Plenária Nacional de Economia Solidária – representando empreendimentos, organizações de assessoria e gestores públicos de 18 estados da federação – constituem o FBES** como espaço plural e democrático de construção de uma agenda comum no campo da economia solidária.

O FBES irá articular a diversidade de práticas que hoje se valem da cooperação e da autogestão como forma de gerar trabalho e renda – cooperativas, grupos de produção, consumo, crédito e trocas. A importância dessa articulação está na identificação dos desafios comuns aos empreendimentos e de políticas públicas capazes de superá-los. Importância ainda maior quando o governo federal institui, apenas quatro dias antes do nascimento do Fórum, a Secretaria Nacional de Economia Solidária, sob o comando de Paul Singer. Não foi mera coincidência, já que a Secretaria é resultado direto da mobilização social que antecedeu a criação do FBES e Singer compareceu à Plenária para dizer que teria no Fórum seu interlocutor principal.

Entre os(as) presentes à Plenária estavam representantes da Usina Catende da Zona da Mata pernambucana e do Banco Palmas, do Conjunto Palmeiras de Fortaleza, importantes símbolos da economia solidária no país. No caso da Catende, mais de 2 mil trabalhadores e trabalhadoras assumiram em 1995 o controle da massa falida de uma usina de cana, com mais de 20 mil hectares, retirando com as próprias mãos as raízes profundas da desigualdade e exploração no Brasil, ali fincadas em nosso longo passado colonial. A diversificação produtiva alavancada pela cana e as oportunidades que se abrem de integração com outras economias do entorno tornam a Catende um modelo de desenvolvimento sustentável para a região.

Já a Associação de Moradores da Favela do Conjunto Palmeira (Asmoconp) inicia em 1998, após anos de luta por melhorias nos serviços públicos, o Banco Palmas como instrumento de geração de trabalho e renda na comunidade. A partir da combinação de diferentes instrumentos – microcrédito, cartão de crédito solidário (Palmacard), feiras, lojas, compras coletivas, clube de trocas com moedas sociais e incubação de empreendimentos – a associação vem incentivando os(as) moradores(as) a produzirem e consumirem no próprio bairro, articulados(as) em rede.

Talvez o desafio do FBES seja de duas ordens. De um lado, retirar os empreendimentos de economia solidária da invisibilidade pública, procurando consolidá-los via reconhecimento legal, barateamento do crédito público e privado, qualificação e tecnologia adequadas. De outro lado, o de construir, a partir das potencialidades contidas nos empreendimentos, estratégias de desenvolvimento local e regional que constituam redes de produção, comercialização e consumo em bases solidárias.

O enfrentamento desses desafios será orientado pelo diálogo entre os acúmulos de cada segmento que compõe o Fórum (empreendimentos, assessorias e gestores), bem como pela integração das iniciativas locais, estaduais e nacionais. O diálogo entre os segmentos da economia solidária e a integração regional representam o caminho a ser trilhado pelo FBES para se avançar no desenho de políticas públicas para a economia solidária.

Pode-se dizer que hoje temos no país um novo e vigoroso movimento social. Sua singularidade e força política estão em reivindicar a cidadania para os mecanismos de produção e distribuição da riqueza. Não se trata de ter acesso subordinado e precário a postos de trabalho e ao consumo de bens e serviços, mas do direito de ser sujeito do próprio trabalho e das trocas que se estabelecem no mercado.

A cooperação e autogestão se apresentam como condição para o exercício desse direito, à medida que combatem os exclusivismos, assegurando a distribuição eqüitativa da riqueza produzida ou trocada. O movimento da economia soli

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Edição digital

 

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