Metade das oficiais dos EUA sofreu assédio sexual em guerras

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Publicado Sábado, 29 de Dezembro de 2012 às 06:48, por: CdB

Cerca de metade das oficiais norte-americanas enviadas para a guerra do Iraque ou do Afeganistão relataram terem sido assediadas sexualmente durante as operações. Uma em cada quatro afirma que foi vítima de violência sexual, incluindo estupro.
Esses dados alarmantes foram resultado de uma pesquisa do Departamento de Veteranos dos Estados Unidos, citada por jornais do país, aonde mais de mil militares que serviram nas zonas de guerra nos últimos anos foram entrevistadas.

Em condição de anonimato, essas oficiais revelaram que a grande maioria dos agressores também faz parte da corporação militar. Em pouco mais da metade dos casos, esses oficiais eram de patente mais alta e por vezes, da alta hierarquia das Forças Armadas dos EUA.

Os resultados finais indicam que 48,6% das entrevistadas sofreram assédio sexual e 22,8%, violência sexual enquanto serviam em operações no Iraque e Afeganistão. No entanto, das 20 mil oficiais nos países, apenas 115 reportaram casos de abusos para os órgãos competentes no último ano.

Além de indicar o silêncio das militares violentadas, o estudo inédito aponta para a maior ocorrência de abuso sexual contra oficiais norte-americanas em zonas de guerra do que em bases militares no país.

Abusos: "traumas de guerra"

A conclusão dá nova vida para os resultados de uma pesquisa desenvolvida com mulheres que serviram em combate entre 2001 e 2004. Segundo os dados, a probabilidade de oficiais em zonas de guerra serem violentadas é 2,5 vezes maior do que a de outras militares.

De acordo com os especialistas envolvidos na pesquisa do Departamento de Veteranos, essa questão não recebe a devida atenção das autoridades do país e deve também ser classificada como um “trauma de guerra” ao lado dos consequentes a exposição ao combate.

Uma em cada três oficiais já foi estuprada

O alto índice de ocorrência do estupro dentro da corporação militar norte-americana é conhecido pelas autoridades do país e se estende para além das zonas de guerra.

No início deste ano, dezenas de oficiais em uma base da Força Aérea no Texas denunciaram que estavam sendo abusadas sexualmente por seus instrutores.

Um general do Exército está sendo julgado por má conduta sexual com oficiais de patentes mais baixas enquanto servia no Iraque e no Afeganistão.

De acordo com dados do Departamento de Defesa, pelo menos uma em cada três mulheres entre as 207 mil do corpo militar norte-americano já foi vítima de estupro e/ou outros abusos sexuais. O índice de ocorrência é o dobro do que ocorre, em média, na sociedade do país, onde uma em cada seis mulheres já sofreu violência sexual.

Entre outubro de 2010 e setembro de 2011, cerca de 3,2 mil estupros dentro das Forças Armadas dos EUA foram denunciados, mas o Pentágono calcula que dentro deste período, pelo menos 19 mil abusos sexuais entre colegas aconteceram. Apesar de autoridades explicarem que a violência não acontece apenas contra mulheres, o grupo feminino representa a grande maioria.

Isso significa que o risco de uma militar norte-americana ser estuprada no período de um ano dentro das Forças Armadas é 180 vezes maior do que o de ser morta em combate no período de onze anos no Iraque ou no Afeganistão, informou o Huffington Post.

Sexismo é cultural

O secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, já reconheceu o problema e ordenou em setembro deste ano uma mudança no treinamento militar das diferentes corporações que compõem as Forças Armadas.

Um de seus objetivos é o de prevenir a violência sexual dentro dos quartéis, que atinge níveis preocupantes em algumas localidades. Não é a primeira vez, no entanto, que o governo tenta acabar com o problema.

Em 2005, o então secretário de Defesa Donald Rumsfeld também exigiu a reformulação dos programas de formação militar. "A meta do Departamento de Defesa é uma cultura livre de abuso sexual, por meio de um ambiente de prevenção, educação e treinamento, de apoio à vítima e de responsabilização apropriada", afirmou o órgão na época.

“Tudo se resume à cultura", explica a representante democrata Jack Speier citada pelo jornal USA Today. "A cultura não mudou, não importa o que os generais ou o secretário de Defesa dizem sobre a tolerância zero. Eles não conseguiram tirar o sexismo do militar", acrescenta ela que luta pela investigação dos casos de abuso sexual contra mulheres nas Forças Armadas.

Fonte: Opera Mundi

 

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