Martha Medeiros lota auditório da Bienal

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Publicado Quinta, 19 de Abril de 2012 às 09:48, por: CdB

Autores e escritores interagem em bate-papo discontraído

Secretaria Cultura

Em assuntos como amor, mulher e cotidiano, não há como não se lembrar de Martha Medeiros. Em bate papo com o organizador da I Bienal Brasil de Livro e Literatura, Nilson Rodrigues, a escritora e colunista falou ontem, quarta-feira, sobre sua trajetória, seu processo criativo e a conversão de impressões e episódios do dia-a-dia em seu principal material literário, as crônicas. “Empresto minha visão pessoal ao que é tido como banal”, afirma.
 

 

Para uma plateia lotada de fãs e curiosos, a autora de sucessos como Divã, Doidas e Santas e Fora de Mim, livros adaptados para teatro e cinema, conta que há 25 anos escreve para tentar se entender. “Escrever é uma maneira de organizar o pensamento, de dialogar consigo mesmo”. Martha credita, em parte, a qualidade do seu texto “mais objetivo, com humor e poesia” a seu exercício como publicitária, no início de sua carreira. “Não desprezo a época que trabalhei em agência. Isso foi fundamental para o meu treino pessoal”.

 

A escritora confessou que não imaginava que se transformaria em cronista, muito menos que obteria o sucesso que tem hoje: “comecei com poesia. Tive a sorte de meu primeiro livro (Strip-tease) ter integrado a coleção ‘Cantadas Literárias’” – série lançada nos anos 80 pela Brasiliense e que reunia nomes como Caio Fernando Abreu, Ana Cristina César. “Comecei cometendo poemas e, de repente, me vi escrevendo no Zero Hora, no mesmo jornal que Luís Fernando Veríssimo”, segundo ela, “na época, uma audácia”.

 

Martha revelou sua primeira e definitiva fonte de inspiração: “quem me ajudou a me formar em literatura foi Marina Colasanti. O que li dela aos 20 anos resultou em minha marca hoje”. Nesse sentido, outro nome que reconhece como importante referência pessoal é o cineasta Woody Allen, justamente “por tratar, com naturalismo, inteligência e humor, as relações humanas. É encantador”, declara.

 

Aos possíveis novos escritores, Martha aconselha: “para ser escritor é preciso coragem e muito treino. Adoraria ser atriz ou cantora, mas isso exige preparo. Já escrever, em princípio, todo mundo sai da escola sabendo”. Para a autora, leitura e paciência também são fundamentais, já que “hoje há milhares de pessoas escrevendo nos mais diversos meios”.

 

A escritora aproveitou o debate para fazer uma confissão e um alerta quanto ao uso indiscriminado e descuidado de seus escritos. “Fico muito chateada com a apropriação indevida do que escrevo e também assustada com a falta de vigilância do leitor. A má-fé é algo que me perturba”, diz. “Me incomoda muito ver meus textos publicados e alterados sem nenhum pudor. Realmente me esforço para manter estilo, identidade. Sou preciosista com cada palavra, frase e, de repente, me deparo com uns finais romantizados, melosos, coisa que jamais escreveria”. Declarou ainda que “preferiria ser lida por menos gente, em livro ou jornais, com seu texto mantido na íntegra, do que correr esses riscos que o mau uso eletrônico traz”.

 

Em relação às fraudes e confusões autorais, lamentou um “perigoso equívoco” que circula na internet, atribuindo, por engano, a Pablo Neruda um poema. “Confundiram o meu poema Morre devagar com o de Neruda, Morre lentamente. Para Martha, “isso é uma espécie de pichação. Seria uma necessidade de o leitor ser também autor? Hoje para você existir tem que existir publicamente. A era tecnológica incrementa isso”.

 

Martha também falou de sua relação com o leitor, afirmando que não pode ser responsável pelo leitor que se sente magoado e “até rompe ligações” com ela quando se sente “pessoalmente atingido”. Respondendo a uma pergunta, declarou: “a gente não conhece o leitor, mas ele acaba nos conhecendo. Isso cria uma espécie de intimidade. Até o dia em que escrevo sobre algo que ele não goste. Quando a confiança é quebrada, isso vira uma mágoa pessoal”, aproveitando para acrescentar que o que pretende é apenas compartilhar visões e impressões para que cada um extraia sua opinião.

 

Após declarar que tem mais liberdade hoje aos 50 anos do que aos 18 e reiterar que a leitura é o principal insumo para o ofício da escrita e o fazer literário, o bate-papo foi encerrado com uma surpresa preparada por Nilson Rodrigues, responsável pela adaptação de crônicas da escritora na peça Duas ou três coisas que eu sei sobre amor. Os atores Alexandra Medeiros e André Reis encenaram parte do textoPromessas de casamento para a autora e um atento e reverente público de centenas de pessoas que lotaram o Café Literário. (Luciana Barreto)

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