Manifestantes querem instalação de Comissão da Verdade universitária

Arquivado em:
Publicado Terça, 06 de Novembro de 2012 às 09:43, por: CdB

Ato pede que USP investigue crimes cometidos contra “subversivos” durante a última ditadura militar (1964-1985). Entre as denúncias a serem apuradas, está a delação de funcionários, estudantes e professores aos militares pelas Congregações das Faculdades

 

06/11/2012

 

Aline Scarso,
Da Redação

 


      

Dos 475 mortos e desaparecidos reconhecidos pelo Estado brasileiro,
pelo menos 47 tinham ligação com a Universidade de São Paulo
- Foto: Reprodução

Estudantes, funcionários e professores da Universidade de São Paulo (USP) realizam um ato nesta quarta-feira, às 17h30, para entregar à reitoria milhares de assinaturas que pedem a instalação de uma comissão da verdade na USP. O Fórum Aberto Pela Democratização da Universidade é quem organiza a iniciativa. Ele pede que a USP instale uma comissão autônoma, independente e paritária para investigar os crimes cometidos contra os uspianos considerados “subversivos” pela última ditadura militar (1964-1984).

De acordo com investigações do Fórum, dos 475 mortos e desaparecidos reconhecidos pelo Estado brasileiro, pelo menos 47 pessoas tinham ligação com a Universidade. O Fórum conta com a participação de dezenas de centros acadêmicos, coletivos políticos e entidades de representação de classe de alunos, funcionários e docentes e exige a apuração de denúncias como a suposta delação de uspianos aos militares pelas Congregações das Faculdades. 

O ato desta quarta-feira acontece no Auditório do Instituto de Oceanografia da USP e deve contar também com a participação de familiares das vítimas da ditadura. “A ideia é entregar o abaixo-assinado para que a reitoria tome providências. Enviamos um convite para ela, mas até o momento não temos um posicionamento definido da sua participação no ato”, explica a professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Elisabetta Santoro, integrante do Fórum.

De acordo com ela, a abertura de uma comissão na USP tem o apoio da Comissão da Verdade nacional e estadual. “Queremos colaborar de forma efetiva com essas investigações e contribuir com as comissões municipal, estadual e nacional. Então, se a comissão uspiana não for feita com rapidez pode existir um descompasso”, acrescenta, lembrando que a Universidade de Brasília (UnB) já instalou sua própria comissão.

Em ato no dia 17 de outubro, a integrante da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, endossou o pedido da Comissão Estadual da Verdade para que a USP reveja a demissão da professora Ana Rosa Kucinski. A professora foi demitida em outubro 1975 por “abandono de função”, no entanto estava desaparecida desde 1974 após ser presa por militares. 

Reitoria

Indagada sobre o interesse da reitoria em promover esse debate na Universidade, a professora Elisabetta Santoro se mostra cética. “Se nós acreditássemos que o reitor poderia fazer isso de sua iniciativa, não teríamos feito uma campanha tão forte. Esperamos que todo o esforço desses últimos meses seja suficiente para pressionar a instituição a passar o passado a limpo”, explica.

O atual reitor da USP, João Grandino Rodas, quando era integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) da ditadura militar, votou contra a culpabilidade do Estado em dez casos, incluindo o da estilista Zuzu Angel e do secundarista Edson Luís de Lima Souto. Por diversas vezes, teve voto igual ao do general do exército Oswaldo Pereira Gomes.  

Rodas firmou um convênio que permitiu o livre acesso da Polícia Militar ao campus e processou 51 uspianos, entre estudantes e funcionários, em razão da ocupação da reitoria de novembro do ano passado. Os processos são baseados no regime disciplinar da USP de 1972 que, entre outras coisas, proíbe manifestações políticas dentro do campus.

Participação de religiosos

Já a Comissão Nacional da Verdade deve instalar um grupo de trabalho para investigar a atuação de religiosos que combateram ou se aliaram à última ditadura militar (1964-1985). A equipe deve ser coordenada por Paulo Sérgio Pinheiro e terá a participação de pesquisadores autônomos e teólogos.

Um dos primeiros depoentes deve ser Anivaldo Padilha, pai do ministro da Saúde Alexandre Padilha. Anivaldo teve que se exilar em 1971, depois de ter sido preso e torturado em razão da delação de pastores da igreja em que freqüentava.

Mais sobre o assunto:  Comissão da Verdade da USP propõe esclarecer violações promovidas pela Universidade
Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo