Mães de Tiananmen: governo fala em pagamentos, mas não desculpas

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Publicado Terça, 31 de Maio de 2011 às 07:05, por: CdB

Mães de Tiananmen: governo fala em pagamentos, mas não desculpas

PEQUIM (Reuters) - Mães de pessoas mortas durante os protestos pró-democracia há mais de duas décadas na praça da Paz Celestial, em Pequim, disseram nesta terça-feira que as autoridades já cogitaram pagamentos indenizatórios, mas não ofereceram pedidos de desculpas ou qualquer versão pública sobre a repressão.

Um grupo de 127 mães assinou uma carta redigida antes do 22o aniversário, no sábado, da repressão militar aos manifestantes na capital chinesa, dizendo que autoridades de segurança pública procuraram a família de uma vítima não identificada duas vezes desde fevereiro para falar em pagamento.

"Os visitantes não falaram em trazer a verdade a público, realizar investigações judiciais ou oferecer uma explicação para o caso de cada vítima. Em lugar disso, levantaram apenas a questão de quanto pagar", disseram as mães na carta.

Em 4 de junho de 1989, após semanas de protestos na praça da Paz Celestial (Tiananmen, em chinês), tropas apoiadas por tanques sufocaram as manifestações, suscitando condenação global.

O governo nunca divulgou uma contagem oficial dos mortos, mas estimativas de testemunhas e de grupos de defesa dos direitos humanos variam entre várias centenas e vários milhares de mortos.

Yang Dongquan, chefe da Administração dos Arquivos de Estado da China, disse a repórteres na terça-feira que o governo proibiu o acesso aos documentos daquele período pelo prazo de 30 anos.

"Ainda estamos no período de espera", disse ele durante uma rara visita de representantes da mídia estrangeira a seu departamento, cuja sede fica numa ruela secundária no centro de Pequim.

"Ainda não chegamos ao momento de abrir os documentos", acrescentou Yang. "As regras afirmam que são 30 anos de espera, pelo menos. Isso ainda poderá ser adiado mais, mesmo após os 30 anos, se as autoridades do arquivo o decidirem. É a mesma regra em todos os países."



Depois da repressão, o governo qualificou o movimento de conspiração "contrarrevolucionária", mas mais recentemente vem descrevendo os fatos como "distúrbio político".

As Mães de Tiananmen dizem que documentaram a morte de 203 pessoas na repressão, mas que muitas vítimas e suas famílias não foram identificadas.

O grupo vem fazendo campanha há anos para que o governo abra um diálogo e reconheça as vítimas publicamente, mas diz que suas queixas têm sido ignoradas, em sua maioria, apesar de indivíduos terem sido sujeitos a vigilância e "restrições pessoais".

"Em última análise, o que acontece é o seguinte: as almas dos mortos no 4 de Junho não será maculadas; suas famílias não serão desonradas ... todos os assuntos poderão ser discutidos, menos esses dois", disseram as mães na carta.

"Não tenho informações a transmitir a vocês", disse a porta-voz do Ministério do Exterior, Jiang Yu, a repórteres na terça-feira, quando perguntada durante em entrevista regular à imprensa sobre o pagamento de indenização às famílias.

"Quando ao incidente principal e outras questões relacionadas, o Partido e o governo da China chegaram a uma conclusão clara", disse ela.

O aniversário dos protestos de 4 de junho se dá no momento em que levantes populares vêm se espalhando pelo mundo árabe, levando o governista Partido Comunista chinês a ter receios quanto a qualquer sinal de instabilidade no país.

(Reportagem de Michael Martina e Ben Blanchard; reportagem adicional de Sui-lee Wee)

Reuters

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