Livro questiona posição dos EUA sobre diplomacia

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Publicado Quarta, 18 de Abril de 2012 às 07:44, por: CdB
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Livro publicado nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha sobre a política do governo Barack Obama em relação ao Irã afirma que Washington subestimou a capacidade diplomática do Brasil e da Turquia de conseguirem fechar um acordo sobre o programa nuclear de Teerã. Segundo o livro A Single Roll of the Dice ("Uma Única Jogada do Dado", em tradução livre), do analista americano de origem iraniana Trita Parsi, em maio de 2010, Washington contava com o fracasso da missão diplomática do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, a Teerã. Eles viajaram ao Irã a pedido de Obama, que queria que o governo iraniano concordasse com um plano de troca de combustível nuclear. O autor argumenta que, paralelamente à missão de Lula e Erdogan, Washington estava costurando uma aliança internacional para impor novas sanções contra o Irã. Segundo o livro, que foi publicado no mês passado, a Casa Branca aguardava apenas mais uma resposta negativa de Teerã para anunciar novas sanções, mas foi pega de surpresa pelo sucesso da missão brasileira e turca, que conseguiu fazer com que o Irã concordasse com um programa de troca de combustível nuclear. Surpreendidos pelo resultado, os Estados Unidos teriam lançado uma campanha na mídia contra Lula e Erdogan, para desautorizar o acordo firmado com Teerã. Sanções ou acordo Nos últimos anos, o Irã vem desenvolvendo tecnologia atômica para aumentar a oferta de energia no país. Segundo o seu governo, o programa tem apenas fins pacíficos, mas as potências internacionais – sobretudo os Estados Unidos – acusam Teerã de estar desenvolvendo armas nucleares. O governo americano lidera esforços para evitar que o Irã domine o ciclo completo da produção de energia nuclear. Em 2009, Obama enviou uma carta aos chefes de Estado de Brasil e Turquia, pedindo ajuda para mediar uma solução. O Irã havia aumentado a sua capacidade de enriquecimento de urânio. As potências ocidentais queriam que o Irã aceitasse enviar 1,2 tonelada seu urânio para ser enriquecido no exterior. Desta forma, o país não teria o domínio completo do ciclo de produção nuclear. No entanto, segundo o novo livro, os americanos estavam mais interessados em impor novas sanções ao Irã, do que em obter concessões do governo de Teerã. "A estratégia americana essencialmente se resumia a passar ao Brasil e à Turquia uma mensagem dupla: esforços para convencer Teerã a concordar com uma troca de combustíveis eram recomendáveis, mas também era importante impor novas sanções", escreve o autor, em um capítulo dedicado apenas ao episódio envolvendo Brasil e Turquia. Em maio de 2010, após o empenho pessoal de Lula e Erdogan, o Irã concordou em enviar 1,2 tonelada de seu urânio para ser enriquecido no exterior, sob supervisão da Turquia, em um acordo que foi batizado de Declaração de Teerã. "Contra todas as previsões, Turquia e Brasil conseguiram em poucos meses, através de intensa diplomacia, o que as potências ocidentais não haviam conseguido em anos. " 'Vexame' para Washington O que era para ser um sucesso da diplomacia multilateral logo se provou o contrário, segundo o autor.  "Washington ficou surpreso com o sucesso da Turquia e do Brasil. Esperava-se que eles fracassassem", escreve o autor. O governo americano acusou o Irã de assinar o acordo apenas para ganhar mais tempo e evitar sanções. Já o Brasil e a Turquia foram acusados de serem ingênuos ao acreditarem na boa vontade de Teerã. O acordo também foi rechaçado por outros países, como França e Grã-Bretanha. "A desautorização imediata e dura da Declaração de Teerã enfureceu o Brasil e a Turquia. O investimento pessoal feito por Erdogan e Lula em obter a Declaração de Teerã fez com que a sua desautorização fosse nada mais do que uma rejeição da liderança de ambos. E veio acompanhada de uma campanha agressiva na mídia americana, acusando os dois chefes de Estado de vaidade, megalomania e sentimentos anti-americanos e anti-Israel." Parsi diz que o desentendimento entre Brasília e Washington fez com que o governo brasileiro vazasse para a imprensa a carta de Obama de 2009, na qual o presidente americano pedia que Lula e Erdogan fizessem com que o Irã enviasse 1,2 tonelada de urânio para enriquecimento no exterior. A carta, segundo Brasil e Turquia, era uma prova de que os dois países haviam fechado um acordo com o Irã sob a concordância da Casa Branca. Os Estados Unidos, no entanto, argumentaram que a capacidade de enriquecimento do Irã já havia aumentado desde 2009, e que qualquer acordo com o Teerã precisaria exigir mais do que apenas 1,2 tonelada de urânio. "Washington ficou surpreso com o sucesso da Turquia e do Brasil. Como consequência, Brasil e Turquia votaram em junho de 2010 contra a resolução 1929 no Conselho de Segurança da ONU, que impunha novas sanções ao Irã. Segundo Parsi, o resultado da votação foi um vexame para Washington. Nunca uma resolução contra o Irã havia recebido tantos votos negativos, nem mesmo na época de George W. Bush, um presidente que nunca se esforçara – como Obama – em melhorar a diplomacia com o Irã. Autor O livro A Single Roll of the Dice foi publicado pela Yale University Press no mês passado e recebeu resenhas favoráveis na imprensa americana e britânica, em jornais e revistas como Guardian, New Yorker e Economist. O autor do livro foi entrevistado no influente programa americano de sátira política The Daily Show with Jon Stewart. Trita Parsi é analista de relações internacionais e especializado em Oriente Médio e contribui com artigos para sites e jornais como Huffington Post, Financial Times e Wall Street Journal. Ele também é presidente do National Iranian American Council, uma entidade que tenta promover a aproximação entre iranianos e americanos. O grupo é bastante crítico em relação à política de direitos humanos do Irã. Para escrever A Single Roll of the Dice, Parsi entrevistou autoridades de quase todos os governos envolvidos na questão nuclear iraniana – como Irã, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Israel, Turquia e Brasil, inclusive o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
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