Para não ser obrigado a fazer a oração, o aluno deveria levar uma solicitação dos pais por escrito e, a partir desse momento, ficaria em uma fila separada dos demais
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro:
O juiz titular da 4ª Vara Cível de Barra Mansa, Antônio Augusto Balieiro, atendeu nesta semana a um pedido de liminar do Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe) e suspendeu a obrigatoriedade da oração do Pai Nosso em todas as escolas municipais de Barra Mansa, no sul fluminense. A decisão dá 24 horas para a prefeitura suspender a ordem e estipula multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.
A determinação havia sido publicada no último dia 4 pela Secretaria Municipal de Educação; que incluiu na rotina das escolas que os alunos deveriam formar filas, cantar hinos cívicos e rezar o Pai Nosso antes de entrar para as aulas.
Para não ser obrigado a fazer a oração, o aluno deveria levar uma solicitação dos pais por escrito e; a partir desse momento, ficaria em uma fila separada dos demais no momento da oração.
Escolas públicas
O juiz considerou que a ordem da Secretaria de Educação foge por completo à razoabilidade e citou uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal; que entendeu que as escolas públicas podem ter aulas de ensino religioso no modelo confessional sobre uma religião. Mas essas disciplinas devem ser facultativas.
– Toda a construção da referida decisão se pauta, justamente, na facultatividade da cadeira do ensino religioso – diz ele, que acrescenta: "assim, tem-se que, aqueles que não tiverem interesse em frequentar as aulas de ensino religioso; simplesmente não precisarão fazê-lo, sem constrangimentos ou separatismos".
Para o juiz, a formação de filas separadas para crianças que não seguem religiões cristãs ou não querem fazer a oração gera segregação religiosa; discórdia e preconceito. Além disso, o magistrado argumenta que o Estado não pode obrigar que crianças permaneçam em ambiente religioso com; o qual não se identificam ou não compactuam.
– Por óbvio, tal ordem de serviço tem cunho separatista, fomentador de discriminação e conflito; não encontrando qualquer respaldo nos princípios da tolerância e liberdade religiosa; que respaldaram a decisão da Corte Superior.
Em nota, a Prefeitura de Barra Mansa afirmou que a Procuradoria Geral do Município está analisando a decisão e vai recorrer. Segundo a prefeitura, a execução diária dos hinos cívicos está mantida.
Já o Sindicato dos Profissionais da Educação considerou a decisão uma grande vitória da unidade do sindicato em Barra Mansa; da educação e da laicidade nas escolas.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil na semana passada haviam criticado a ordem da Prefeitura de Barra Mansa; que citava a decisão do STF sobre o ensino religioso. A Secretaria Municipal de Educação havia alegado ainda que o Pai Nosso é "uma oração universal".
Ensino Religioso
Para o coordenador-geral do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (Fonaper), Elcio Cecchetti; a decisão da Secretaria municipal de Educação de Barra Mansa é inconstitucional e viola o caráter laico da escola e do Estado. Ele esclareceu ainda que a decisão do STF permite o ensino confessional na aula de ensino religioso. Mas não libera orações confessionais ou cultos nas escolas públicas.
O professor de Direito Constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Daniel Sarmento discordou que o Pai Nosso possa ser considerado universal. "O Pai Nosso não é neutro, é associado às religiões cristãs. A decisão viola não só a laicidade do Estado como a própria liberdade religiosa das crianças".