Jogadores campeões terão aposentadorias especiais

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Publicado Quinta, 20 de Dezembro de 2012 às 09:24, por: CdB
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O time brasileiro campeão do mundo de 1962. Projeto do governo federal dará prêmio e aposentadoria a jogadores
A aposentadoria especial para os jogadores campeões mundiais pode passar a ser paga a partir do ano que vem. O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, irão assinar uma portaria interministerial, que concede auxílio especial aos titulares e reservas das seleções brasileiras campeãs das Copas do Mundo dos anos de 1958, 1962 e 1970. Eles receberão um complemento que lhes assegurará o teto da aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e um prêmio de R$ 100 mil. O benefício havia sido prometido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e foi inserido na Lei Geral da Copa, que foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em junho e define as regras da realização do mundial que ocorrerá no Brasil em 2014. Diferentemente dos futebolistas de hoje em dia, nem todos os que jogaram pela Seleção Brasileira nesses torneios tiveram ao menos uma situação confortável após o fim de suas carreiras. O atual volume de recursos aplicados pelas empresas no esporte, em forma de publicidade, praticamente inexistia na época. E a remuneração dos futebolistas dependia de seus clubes e do salário pago pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no período em que jogavam pela Seleção. Muitos dos que jogaram ao lado de Pelé, hoje enfrentam problemas de saúde e passam necessidades. - Era muito diferente naquela época. Não tinha essa publicidade. A gente só conseguia viver bem - contou José Macia (77), o Pepe, bicampeão mundial, à Rede Brasil Atual. Com 405 gols marcados em 750 partidas, ele foi um dos maiores artilheiros do Santos, perdendo só para Pelé. É considerado também dos maiores ponta-esquerda da história do futebol brasileiro e foi um exímio cobrador de faltas. Pepe seria titular das seleções de 1958 e 1962, mas pouco antes de ambos eventos, sofreu lesões, sendo legado ao banco e substituído por Zagallo. Jogou no Santos até 1969 e na Seleção até 1965. Desde então, como treinador, passou pelo próprio Santos, pelo Atlético Mineiro, pelo Ponte Petra, entre outros no Brasil, treinou times também em Portugal, Japão e Quatar e a Seleção Peruana. “Vivo bem em um apartamento aqui em Santos, mas nem todos os meus colegas daquela época tiveram a mesma sorte que eu. Muitos deles estão com problemas sérios de saúde. O Gilmar (goleiro bicampeão também) teve um AVC. Até o Clodoaldo tem que trabalhar bastante para viver bem. Minha aposentadoria mesmo não dá o teto. Esse benefício vai ajudar. E já havia sido prometido há um tempo, mas parece que agora vai sair, e fico com a sensação de que estamos sendo reconhecidos pelo nosso trabalho. E é bom receber esse prêmio antes de morrermos, afinal fomos campeões há muitos anos”, comentou Pepe. Clodoaldo Tavares de Santana (63) é um dos mais conhecidos corretores de imóveis de Santos, mas ele já foi um grande volante também do clube da cidade e marcou um gol contra o Uruguai na Copa do Mundo de 1970, quando fez parte da Seleção. Assim como Pepe, não recebeu qualquer convite para a cerimônia de hoje, nem tem ciência do que exatamente ganhará. “Estive com o ministro Aldo Rebelo esse final de semana em um uma homenagem que me fizeram aqui em Santos, e ele me disse que o benefício já está encaminhando. Tem jogadores de futebol que não têm aposentadoria. Quando a gente jogava, o recolhimento dos jogadores do INSS mudava muito. Não sei muito bem o que vai acontecer, mas de qualquer modo, tenho minha aposentadoria, por conta do esporte e pela profissão que executo na área imobiliária”, disse. Ele contou que, mesmo durante sua carreira no Santos, já trabalhava no setor imobiliário. “ Comecei a trabalhar com 11 anos de idade, e mesmo jogando, já gostava do ramo imobiliário. Adquiri um bom conhecimento na área de construção civil e , depois que parei de jogar, segui por esse caminho mesmo. E foi ótimo”, contou. Ele concorda que o benefício ajudará muitos ex-jogadores. “Mesmo a pessoa que ganhou pouco dinheiro teve uma estabilidade à época. Mas é um gesto bacana, de homenagem também”. O jornalista esportivo e pesquisador da história do futebol Celso Unzelte contou que, de fato, esses ex-futebolistas não ganhavam mal, mas acredita que o benefício da aposentadoria vai ajudar a maioria das equipes. “Por serem campeões do mundo, jogadores de Seleção, já eram privilegiados em relação à classe. Ainda assim, embora ganhassem bons salários para a média dos trabalhadores brasileiros, nem em sonho ganhavam o que ganham os jogadores de futebol hoje. A gente pensa logo nos titulares, mas os campeões são 22 em cada Seleção. E tem muita gente ali que está em dificuldade atualmente, e, para essas pessoas, vai ser muito importante”, comentou. Sobre qual era os salários desses jogadores, comparando com valores atuais , ele respondeu: “É muito difícil fazer esse tipo de comparação, mas você pode considerar que, com o que eles ganhavam na época, dava para comprar casa ou apartamento a prazo. Não era que nem hoje. E os interesses também eram outros. Eram pessoas mais simples, com interesses mais restritos”. No ano passado, houve uma polêmica entre os ex-jogadores Carlos Alberto Torres e Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, ambos campeões mundiais em 1970, respectivamente, como lateral-direito e meia. À imprensa, Tostão se opôs ao benefício, afirmando que dinheiro público não deveria ser gasto dessa forma. "É um demagogo, pode escrever aí. O Tostão não precisa ficar falando. Ele teve mais sorte que os outros, é médico. Mas tem gente que não foi preparada", disse Carlos Alberto, referindo-se a Tostão, em reportagem do portal UOL do ano passado. Em resposta, Tostão disse: "Demagógica? Não sou bilionário. Só entendo que o governo não pode pegar dinheiro e distribuir assim. E os campeões de outros esportes, as outras classes? Um artista que elevou o nome do Brasil também poderia pedir esse benefício”. Para Unzelte, o benefício é “o mínimo que podemos fazer para essas pessoas”. Não se trata de um gasto excessivo de dinheiro público. “Eles entraram pra história, são pessoas notórias. É claro que se colocarmos em um ambiente mais macro, vai se perguntar porque beneficiarmos jogadores de futebol e porque não atletas de outros esportes, mas aí também a gente entra em um ciclo vicioso e não vai chegar a conclusão alguma. Não é nenhuma mordomia, nem nada de outro mundo. Está se garantindo um teto do INSS. Aqueles que estiverem bem, se quiserem abrir mão do prêmio, podem doar”. Ele afirma que o reconhecimento a esses jogadores só está ocorrendo por conta da Copa do Mundo de 2014. “Esse é o momento em que o futebol vai ficar mais em evidência. Esse tipo de coisa, espontaneamente, não iria pra frente. Esse pessoal ganhou esses títulos há décadas, e só agora essa bola está sendo levantada. Tem de se aproveitar esse momento especial, que é a Copa do Mundo no Brasil, para fazer justiça, ainda que tardia". Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Previdência Social,  só indígenas agricultores e pescadores artesanais têm aposentadoria especial semelhante a essa. O dinheiro para o benefício na aposentadoria sairá do Tesouro Nacional e será administrado pelo INSS, mas o prêmio, que está isento do pagamento do Imposto de Renda, será garantido pelo ministério do Esporte, como prevê a Lei Geral da Copa. O ministério, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que durante a cerimônia em que o benefício será anunciado, também serão divulgados quantos e quais serão os jogadores – ou as famílias dos já falecidos – que terão direito ao prêmio. Esposas ou companheiras e filhos menores de 21 anos ou inválidos de ex-jogadores falecidos também receberão o benefício da aposentadoria.
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