'Inferno' para jornalistas, México já acumula 12 mortes neste ano

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Publicado Sexta, 19 de Outubro de 2012 às 09:30, por: CdB
'Inferno' para jornalistas, México já acumula 12 mortes neste ano

De acordo com relatório, os principais responsáveis pelas agressões são as autoridades

Por: Federico Mastrogiovanni, do Opera Mundi

Publicado em 19/10/2012, 15:25

Última atualização às 15:25

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Ramón Abel López Aguilar, diretor de site, foi assassinado com uma bala na cabeça na última segunda-feira (Foto: Divulgação)

Cidade do México – O México se confirma a cada dia como um dos lugares mais perigosos para jornalistas no mundo. Em 2012, o país se firma como o primeiro colocado no continente americano e o segundo mundial, perdendo somente para a Síria, que vive uma guerra civil. O último caso foi o do fotojornalista Ramón Abel López Aguilar, assassinado na segunda-feira (15) com uma bala na cabeça. López Aguilar dirigia um site de notícias na cidade de Tijuana, no Nordeste do país.

Segundo organizações de direitos humanos, a situação é extremamente grave e o governo mexicano não está fazendo o suficiente para garantir a segurança. Pelo contrário. De acordo com o último relatório da organização de proteção e apoio a jornalistas Articulo 19, feito entre janeiro e setembro de 2012, são os três níveis de governo (municipal, estatal e federal) os principais responsáveis pelas agressões contra a imprensa.

Mais de 40% das agressões são provocadas por funcionários públicos, policiais e militares. No relatório, a Articulo 19 adverte que nos últimos meses houve “lentidão excessiva ou uma intervenção nula nos corpos de segurança pública para frear a violência contra jornalistas, além da responsabilidade direta sobre alguns episódios, favorecendo um ambiente hostil contra os comunicadores”.

Enquanto isso, os números não param de crescer desde o começo do ano. O primeiro caso foi em 6 de janeiro, com o assassinato do colaborador do semanário La Última Palabra Raúl Régulo Garza Quirino, em Cadereyta, Estado de Nuevo León, território controlado pelo cartel dos Zetas. Miguel Óscar Pérez, diretor editorial do veículo, disse que a vítima nunca assinava suas matérias e que jamais cobriu temas ligados ao crime organizado, porque “não há nenhuma garantia à segurança”.

Divulgação

Em abril, Francisco Javier Moya Muñoz e Héctor Javier Salinas Aguirre foram mortos a tiros ao lado de outras 13 pessoas em um bar de Chihuahua. Oito dias depois, em 28 de abril, o corpo da repórter da revista Proceso en Veracruz, Regina Martínez, foi encontrado na cidade de Xalapa. A jornalista foi espancada e asfixiada no banheiro de sua casa.

A repercussão da morte, provocada pelo fato de Martínez ser muito conhecida nacionalmente, fez com que o governador de Veracruz, Javier Duarte, se comprometesse a encontrar os assassinos. Porém, os responsáveis continuam à solta.

No dia 3 do mês seguinte, quando é comemorado o Dia Mundial da Liberdade de Expressão, foram mortos quatro jornalistas e fotógrafos no Estado. Esteban Rodríguez, do jornal AZ de Veracruz, havia se demitido em agosto de 2011 e trabalhava como torneiro mecânico na época do crime. Gabriel Huge, que trabalhou por anos no Notiver, chegou a se autoexilar ano passado após o assassinato de uma colega, mas acabou sendo encontrado na volta. Guillermo Luna Varela colaborava com a agência de fotografia Veracruznews e Irasema Becerra, namorada de Luna Varela, era estagiária do jornal El Dictamen.

Um dia depois, o corpo de René Orta Salgado foi encontrado torturado e estrangulado em uma camioneta em Cuernavaca, Morelos. Já em 18 de maio, Marco Antonio Ávila García, sequestrado um dia antes, morreu em Ciudad Obregó, Sonora. Ele trabalhava com os jornais El Regional de Sonora e Diario Sonora de la Tarde. Antes do assassinato, havia publicado matérias sobre operações do narcotráfico na cidade.

Poucas semanas depois, em 14 de junho, Víctor Manuel Báez Chino apareceu morto em Xalapa. Báez Chino era editor da seção policial do El Portal de Xalapa, da cadeia Milenio, e integrava o conselho editorial do jornal eletrônico www.reporterospoliciacos.mx.

Veracruz

O relatório do Articulo 19 indica que alguns governos locais, especialmente o de Veracruz, supostamente vinculado ao cartel dos Zetas, têm se dedicado a criminalizar e responsabilizar as vítimas da violência. Um exemplo foram as declarações do procurador estatal Amadeo Flores Espinosa, que acusou os jornalistas do Estado de serem indiretamente “responsáveis pela morte dos colegas”, por terem escrito sobre o narcotráfico.

O caso de Veracruz é, de fato, emblemático. No relatório se lê que “jornalistas de diferentes veículos afirmam que a relação com o governo local se complicou sumamente com a chegada do governador Javier Duarte”. A Articulo 19 diz que “existe um excessivo controle sobre a informação que circula nos jornais”, em especial a relacionada com temas de segurança pública e delinquência organizada.

Segundo informações da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que tem atuação global, um total de 66 jornalistas foram mortos no mundo em 2011, 20% trabalhavam no México. 

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