Hospital oferece tratamento para anorexia infantil

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Publicado Terça, 08 de Janeiro de 2002 às 23:02, por: CdB

O Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo inaugurou há menos de um mês um serviço para tratamento de crianças com anorexia e bulimia. Doença psiquiátrica que pode provocar graves conseqüências e levar à morte, a anorexia até poucos anos era encontrada somente entre adultos, geralmente mulheres jovens, de classe média. Aos poucos, porém, o perfil dos pacientes com esse distúrbio foi mudando. A doença passou a atingir pessoas cada vez mais jovens até chegar a crianças, de ambos os sexos. Pacientes com esses distúrbios alimentares têm em comum uma obsessão por emagrecer. Os primeiros sinais são regimes constantes e a prática exagerada de exercícios físicos. Nos pacientes adultos com anorexia, jejuns são constantes. Já na bulimia, o mais comum é que o paciente intercale jejuns com refeições onde tudo é permitido. Com medo de engordar, essas pessoas geralmente provocam vômito, logo depois dos acessos de compulsão alimentar. Diante do aumento do número de casos infantis, o serviço multidisciplinar foi montado. Nele, crianças e seus pais são atendidos uma vez por semana. Até agora, quatro crianças já foram aceitas para o tratamento. "Sabíamos que a procura seria grande", afirma o coordenador do Projeto de Atendimento à Infância e Adolescência com Transtornos Alimentares, Táki Cordás. O psiquiatra conta que começou a ver os primeiros casos de anorexia em criança há cinco anos. Em alguns países, o mesmo fenômeno foi constatado. Para Cordás, não é difícil entender a razão. "Há uma grande pressão social para que as pessoas mantenham a forma física", diz. E isso atinge tanto meninos quanto meninas. O médico explica que muitos garotos que vão a seu consultório contam ter iniciado o regime para poder melhorar seu desempenho nos esportes. A erotização precoce também pode estar relacionada ao aumento do número de casos, principalmente no caso das meninas. "As meninas são incentivadas a se vestir como mulheres, a dançar como bailarinas e sonham em ganhar dinheiro como modelos, sempre muito magras". Questões genéticas também podem estar associadas. "Em algumas doenças, a manifestação dos sintomas pode aparecer mais precocemente de geração para geração". Os distúrbios alimentares entre crianças apresentam algumas peculiaridades. "Ao que parece, as crianças não têm uma imagem deformada do corpo tão acentuada quanto os adultos", diz Cordás. Além disso, a adesão ao tratamento e os índices de melhora são sensivelmente maiores. "Como a personalidade ainda não está totalmente formada, e a criança está sob orientação dos pais, fica mais fácil controlar o que ela come e como pratica exercícios". Quando a doença não é tratada precocemente, a criança pode apresentar osteoporose, baixa estatura, diminuição da fertilidade. Reconhecer uma criança com os primeiros sintomas não é difícil. "Hoje grande número de pré-adolescentes faz regime." Mas, no caso de distúrbios alimentares, o exagero é evidente. Cordás lembra o caso de uma paciente que exigia que sua comida fosse feita em uma panela à parte, longe dos outros recipientes para evitar que óleo respingasse na sua refeição. No tratamento, é dada grande ênfase à terapia familiar. Para alguns pacientes, o uso de remédios, principalmente antidepressivos, é indicado. Até alguns anos, a bulimia e a anorexia eram doenças encontradas na maioria das vezes em modelos ou bailarinas, profissionais que geralmente sofrem com o controle de peso constante. Um dos casos mais famosos é o da modelo Twiggy , que se notabilizou nos anos 60 pela sua aparência andrógina e, mais tarde, descobriu-se que apresentava a doença. Ao longo dos anos, a lista de pacientes famosos foi aumentando e se diversificando. A atriz Jane Fonda, a cantora Karen Carpenter (que morreu nos anos 70, vítima de anorexia), o cantor Elton John, a princesa Diana e a filha da rainha Sílvia, da Suécia, princesa Vitória. Um dos casos pouco lembrados é o da escritora Isak Dinensen, autora de "Festa de Babete", livro em que

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