Homem que vendeu rim se apresentará à PF

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Publicado Sexta, 05 de Dezembro de 2003 às 08:57, por: CdB

Um homem que comercializou um de seus rins deve se apresentar na próxima semana à Polícia Federal (PF) em Recife, Pernambuco. Segundo o advogado Cláudio Tenório, o segurança A.J.S., que é seu cliente, retornou há poucos meses da África do Sul, onde se submeteu a um transplante.

A informação foi confirmada por parentes do segurança que residem no bairro de Areias, onde, segundo moradores, moram vários transplantados que venderam seus órgãos. Ontem, duas pessoas foram presas no país africano acusadas de envolvimento no tráfico de órgãos de seres humanos.

Tenório conta que o caso de A. ocorreu de uma forma distinta. "Uma pessoa amiga dele manteve o contato. Todas as despesas foram custeadas para ele fazer a doação", revela. O advogado ressalta que o segurança não recebeu dinheiro. "Houve uma promessa de pagamento no início. Mas ele (A.) acabou fazendo amizade com a mulher americana para quem ele ia doar. Ela prometeu arrumar emprego para ele nos Estados Unidos e ele aceitou fazer de graça", argumenta. O transplante aconteceu há, aproximadamente, seis meses.

Na residência de A., uma parente sua, que preferiu não se identificar, confirmou o relato do advogado. "Ele fez uma viagem recente para doar um rim. Foi uma das namoradas dele quem disse para nós. Ele não conta nada da vida dele para a gente", diz, informando desconhecer onde A. está residindo. Também sem se identificar, moradores da área confirmaram a viagem feita por A. e acrescentaram várias outras pessoa, principalmente do Barro, terem se submetido ao mesmo processo.

Para o superintendente da PF em Pernambuco, Wilson Damázio, se apresentando espontaneamente A. tem boas chances de não ter a prisão preventiva decretada. "Esse é um dos fundamentos da preventiva, evitar que as pessoas envolvidas fujam. Se apresentando a pessoa pode evitar isso", pontua.

A PF estava investigando o tráfico de órgãos de seres humanos há nove meses. A partir de denúncias anônimas, a polícia iniciou as investigações, que culminou na prisão de onze envolvidos, sendo nove brasileiros e dois israelenses, na última terça-feira.

Pelo menos 30 pessoas foram aliciadas no Recife e levadas para um hospital na cidade de Durban, África do Sul, onde tinham um dos rins retirado. Cada pessoa recebia, para vender o órgão, entre R$ 15 mil e R$ 40 mil. O agenciador ganhava aproximadamente R$ 10 mil.

CPI investigará esquema
O pedido de criação da CPI do Tráfico de Órgãos Humanos foi lido ontem em Plenário pelo primeiro vice-presidente da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE). Requerida pelo deputado Neucimar Fraga (PL-ES), a CPI será instalada após os líderes indicarem os representantes das bancadas partidárias.

"O objetivo da CPI é garantir transparência aos processos de doação de órgãos, para resgatar a credibilidade da população, que se encontra abalada após a veiculação de tantas denúncias que confirmam a existência de uma máfia que atua no tráfico internacional de órgãos", justifica Fraga.

"Uma quadrilha internacional de tráfico de órgãos humanos está atuando no Brasil. Com tantas denúncias, a população não acredita mais na política de doação de órgãos para transplante", argumenta Neucimar Fraga. Ele chegou a estas conclusões após coordenar o Grupo de Trabalho da Comissão de Segurança Pública que levantou informações sobre o tráfico de órgãos humanos. Após sete meses de investigação, o Grupo reuniu grande número de denúncias e propôs a criação da CPI.

Ele informou que o objetivo maior da CPI será colaborar para a criação de uma nova política nacional de transplante de órgãos. Algumas pessoas aguardam até quinze anos para receber órgãos transplantados, enquanto outras, desrespeitando a lei, são atendidas com rapidez.

"Estes órgãos que são retirados de forma irregular para atender as pessoas que estão fora da fila. É por isso que a fila não anda. Existe acusação de que médicos estão acelerando a morte de alguns pacientes para fazer a retirada de órgãos, através d

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