Hillary chega ao Brasil com pacotes de bondades e maldades na bagagem

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Publicado Terça, 02 de Março de 2010 às 08:26, por: CdB

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em Brasília depois de visitar o Chile, dará início à agenda oficial no país a partir desta quarta-feira. Na reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, devem ser discutidos temas como o embargo norte-americano a Cuba e a ajuda humanitária ao Haiti. Hillary vai discutir ainda os preparativos da viagem ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prevista para este ano.

Nesta terça-feira, Hillary Clinton visitou o Chile, onde se reuniu com a presidente Michelle Bachelet e o presidente eleito Sebastian Piñera. Já em Brasília, a secretária visita o Congresso Nacional pela manhã e depois participa de reuniões com Lula e com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Malvinas argentinas

A nova etapa da disputa entre Argentina e Inglaterra pelo controle das Ilhas Malvinas foi o principal tema da reunião da presidente da argentina, Cristina Kirchner, com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, realizada nesta segunda-feira à noite.

Segundo o embaixador argentino nos Estados Unidos, Héctor Timerman, o governo Barack Obama se ofereceu para intermediar as negociações com os ingleses.

– (Hillary) Clinton deu a mensagem sobre a possibilidade de os Estados Unidos agirem como intermediários. Acredito que a melhor solução é uma negociação pacífica no âmbito das resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) – afirmou Timerman, segundo a agência argentina Telam.

O novo conflito entre argentinos e ingleses foi gerado pela decisão da presidente Kirchner de limitar o acesso de embarcações estrangeiras em águas da Argentina. A determinação ocorreu no momento em que empresas de exploração de petróleo da Inglaterra anunciaram que iniciaram uma etapa de prospecção nas Ilhas Malvina. Durante a reunião do Grupo do Rio, no México, os presidentes latino-americanos, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se manifestaram favoravelmente à iniciativa argentina.

Mas o embaixador afirmou que o caminho para o fim do conflito é a negociação diplomática e uma das alternativas é designar os Estados Unidos para a intermediação.

– É uma aspiração de que os Estados Unidos atuem como intermediários para dizer à Inglaterra que cumpra com as resoluções da ONU e sente para negociar de forma pacífica – afirmou.

Argentina e Inglaterra disputam o controle das Ilhas Malvinas desde o século 19. Em 1982, houve um confronto armado na região, do qual os ingleses saíram vitoriosos. Atualmente, vivem na área cerca de 3 mil pessoas, que recentemente optaram pela soberania inglesa.

Análise da visita

Segundo o jornalista Breno Altman, diretor do sítio Opera Mundi, especializado em assuntos internacionais, "o giro sul-americano da secretária de Estado norte-americana é um daqueles fatos ordinários  que devem ser lidos para além de sua aparente normalidade. Salvo se algo escapar do roteiro original, manterá um discurso público amigável e tratará de problemas delicados com punhos de renda".

"Afinal, a ex-senadora por Nova Iorque joga um papel estratégico no núcleo duro da Casa Branca. Essa relevância vai além do peso relativo da pasta que dirige: na fórmula de governabilidade sobre a qual se apóia Barak Obama, o Departamento de Estado foi cedido à fração democrata mais afeita ao establishment norte-americano e seus poderosos interesses", escreveu Altman, em artigo divulgado nesta terça-feira, intitulado "Os fuzis da senhora Clinton".

Desde o início do mandato de Obama, segundo o jornalista, "a influência de Hillary, e dos interesses que representa, só fez crescer. O presidente Obama, atolado na crise econômica e no fracasso da reforma sanitária, perdeu qualquer ímpeto renovador na política internacional. Refém da maioria conservadora de seu próprio partido, na prática delegou à ex-primeira dama o comando da política externa de seu governo".

"Pois é nessa condição, de delegada plenipotenciária, que Hillary organizou seu primeiro périplo sul-americano. Vem com algum cuidado, para sentir o pulso da região e diagnosticar possibilidades. Não traz na bolsa projetos acabados, ainda que seu marido tenha sido o principal mentor da falecida Alca. Mas tem um firme propósito: desbravar novos caminhos de hegemonia em uma região na qual os Estados Unidos perderam muito espaço nos últimos dez anos", avaliou.

Na avaliação de Altman, "aparentemente o alforje da secretária de Estado traz bondades e maldades. Seus gestos associam propostas bilaterais de assistência econômico-social com ameaças desiguais e combinadas contra governos que auspiciam escapar à área de hegemonia norte-americana. Os objetivos aparentes: fortalecer os países aliados (especialmente Peru, Colômbia e Chile), neutralizar as nações mais frágeis, isolar o arco bolivariano comandado pela Venezuela e obrigar o Brasil a negociações em separado e pautadas principalmente pelos interesses de seus grupos empresariais".

"Não se trata, parece evidente, apenas de uma estratégia comercial e financeira. Os Estados Unidos estão relançando sua capacidade de ação militar e de inteligência no continente. O Departamento de Estado também trata de reativar seus laços com grupos políticos e econômicos nacionais, bastante enfraquecidos na era Bush, em um esforço para construir alianças que possam se contrapor ao avanço das correntes de esquerda e nacionalistas", prosseguiu.

"A verdade é que o giro progressista no continente, depois da derrota dos golpistas venezuelanos em 2002, pode se desenvolver em um cenário de recuo da presença norte-americana. A viagem da senhora Clinton, no entanto, eventualmente signifique uma aposta na reversão desse quadro. Se assim for, os governos populares terão que se mover em um terreno de crescentes conflitos e tensões, no qual a aceleração e a radicalização da unidade regional serão indispensáveis para a continuidade do curso aberto com a eleição dos presidentes Hugo Chávez e Lula", concluiu o jornalista.

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