Governo da Colômbia e as Farc assinam acordo histórico

Arquivado em:
Publicado Sábado, 26 de Setembro de 2015 às 13:45, por: CdB
Por Amauri Chamorro - de São Paulo: A paz não é apenas um diálogo. Paz não é apenas uma vontade. A paz não é apenas um pomba branca carregada nas lapelas dos paletós. Agora, a paz surge desde Cuba para nosso continente. Naquele 23 de setembro de 2015, em La Habana, Cuba, depois de 60 anos de guerra civil, mais de 6 milhões de refugiados, mais de um milhão de mortos, mais de 250 mil desaparecidos, genocídios, estupros coletivos, a Colômbia pode anunciar um acordo sobre justiça transicional, passo anterior à assinatura definitiva do acordo de paz entre o bicentenário governo conservador e as Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia/Exercito do Povo - Farcs/EP, que deverá ser realizado em até 6 meses.
farc-colombia1.jpgOs presidentes Santos, da Colômbia, Raúl Castro, de Cuba, e Rodrigo Londoño, líder das Farc, cumprimentam-se após assinatura do tratado de paz
A América Latina nunca teve uma real dimensão do conflito armado que estraçalhou a vida fora dos grandes centros urbanos colombianos. A guerra nasceu a partir do roubo de terras às famílias pobres, bem ao estilo grileiro do Brasil, quando grupos armados de fazendeiros massacravam vilas inteiras. Pouco a pouco as comunidades que moravam nas áreas rurais do país começaram a se armar para se defender dos ataques. E foi assim que nasceram as Farc/EP. E foi assim que enfim nasceu uma guerra, afinal, havia dois lados. Antes não era nada, pois quem morria eram os invisíveis. O realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez nasce a partir dessa lógica ultraviolenta colombiana, que se mistura com a alegre e rica cultura de uma terra que tem um mundo inteiro dentro de suas fronteiras. E, no final do dia, por mais triste que fosse, o colombiano sempre terá um sorriso de esperança para te oferecer. Estados Unidos, Álvaro Uribe, Caprilles, Bolsonaro, Calderón, Pastrana, os gusanos e toda a doentia direita continental não querem a paz. Celac, Unasur, Cuba, Venezuela e o Presidente Juan Manuel Santos se juntaram para viabilizar um processo tão transcendental para o continente, que podemos afirmar que a América Latina a partir desta data, consolida o caminho em direção à sua segunda e definitiva independência. Principalmente por demonstrar ao mundo que é possível a convivência entre os diferentes. O Presidente Santos é de uma das mais tradicionais, conservadoras e oligarcas famílias colombianas. Ele foi ministro de defesa do presidente que tem em suas mãos os mais atrozes crimes de guerra que um chefe de estado poderia ter. O Presidente Santos representa um modelo de governo que acentua a injustiça e a pobreza colombiana. Porém, à essa altura do campeonato não importa mais o motivo que o fez escolher pelo diálogo para alcançar a paz. Este acordo o transforma num dos mais importantes estadistas da história americana. Há algumas décadas, as Farc/EP começaram a se distanciar das suas lutas pela reforma agrária e a participação da ruralidade nos processos que definiam o futuro do país. Assassinatos, sequestros e violência de gênero, principalmente contra o próprio povo pobre, já eram sintomas de que a legitimidade de usar a força para se defender e mudar o mundo eram uma realidade mais do que distante. Agora se inicia um longo, tortuoso e muito mais difícil processo do que foram as negociações. As instituições pseudo-democráticas do sistema judiciário colombiano, devem ser vencidas para criar marco jurídico que viabilize a aplicação do acordo. Publicamente, ministros das mais altas cortes e o fascista procurador Alejandro Ordoñez já disseram que vão tentar a todo custo impedir a aplicação do acordo. A ultradireita do ex-Presidente Uribe trabalhará noite e dia para que a Colômbia não tenha paz. Não apenas por eles discordarem dos termos da paz, mas também pelo dinheiro que deixarão de ganhar com o miséria da guerra. Assim como os EUA, alguns membros ilustres da elite latino-americana aprenderam a lucrar com a violência. Esperamos que essa lógica de massacrar o oponente não se repita, assim como foi com o histórico partido colombiano de esquerda “Unidad Patriótica”, que teve os seus 3 mil filiados assassinados em apenas dois anos. Quando o partido desapareceu, mais uma vez se enterrava a possibilidade da esquerda disputar democraticamente o poder. Como não justificar o uso das armas? A Colômbia nunca teve uma ditadura, mas os seus governos democráticos eleitos mataram mais do que todas as ditaduras sul-americanas juntas. É necessário dar ao povo algo que nunca teve: a opção de escolher o caminho que ele quiser. Esquerda ou direita, não importa. O caminho deve ser o voto, não mais o fuzil. Felicitações ao presidente Santos, às Farc/EP e, principalmente, ao povo humilde colombiano. Viva a América Latina, viva a Pátria Grande de Bolívar. Amauri Chamorro é comunicador e estrategista latino-americano.
Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo