Um diálogo previsto entre as Farc e as Nações Unidas no Brasil, apoiado pelos Estados Unidos, está sendo muito bem visto pelo governo da Colômbia, por considerá-lo uma possibilidade de buscar uma saída para o conflito armado. O governo do presidente Alvaro Uribe tinha reclamado da ONU acelerar sua gestão no caso.
Embora existam dúvidas sobre o alcance da reunião no Brasil, com data ainda não marcada, Bogotá a considera uma consequência do seu pedido de maior envolvimento da comunidade internacional na busca de uma saída para o conflito.
- Esta aproximação com a ONU é muito positiva, o governo do presidente (Alvaro) Uribe sempre manteve a porta aberta para esse diálogo - disse hoje o embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Luis Alberto Moreno.
O apoio que Washington deu ontem à reunião também foi destacado por Moreno, que igualmente considerou "útil" a participação do Brasil para ajudar "a facilitar esses encontros". Já a ministra das Relações Exteriores, Carolina Barco, frisou hoje que "o governo da Colômbia vê com muito bons olhos a possibilidade de o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, intervir no confronto, para buscar uma saída".
Barco confirmou que os termos do encontro seriam definidos durante uma reunião entre o presidente colombiano Alvaro Uribe e o colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil sempre expressou interesse em apoiar o governo da Colômbia, é um país amigo e logicamente o assunto será tratado na reunião" entre os presidentes dos dois países, afirmou a chanceler.
- Apoiamos o esforço da ONU de estabelecer um diálogo com as Farc, na expectativa de conseguir uma paz duradoura na Colômbia - havia dito ontem Robert Zimmerman, porta-voz do departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental.
No entanto, hoje, um porta-voz do departamento de Estado que pediu para não ter o nome divulgado assinalou que os Estados Unidos não manterão nenhum contato com as Farc enquanto o grupo não entregar à justiça os autores do assassinato de três etnólogos americanos em março de 1999. O Brasil, por sua vez, tornou pública a disposição a ser sede do encontro como "território neutro" mas não como mediador do conflito, segundo o chanceler brasileiro, Celso Amorim.
O encontro entre as Farc e a ONU será tema obrigatório - segundo um porta-voz da chancelaria brasileira - na reunião entre Uribe e o colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que estará no país no dia 16 de setembro, durante a comemoração dos 40 anos da Organização Internacional do Café (OIC) na cidade colombiana de Cartagena.
Desde que assumiu a presidência no dia 7 de agosto de 2002, Uribe insiste no papel de bons ofícios da ONU para buscar uma aproximação com as Farc e reiteradas vezes pediu à entidade acelerar sua gestão, chegando inclusive a criticá-la por sua "inação". No entanto, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) tinham rejeitado a atuação da ONU até que, há pouco mais de um mês, propuseram um encontro com o secretário-geral, Kofi Annan, para expor seu ponto de vista sobre o conflito interno.
O encontro no Brasil é a resposta da ONU à solicitação das Farc, que, entretanto, deixaram claro que não vão buscar nenhuma aproximação com o governo de Uribe, em comunicado divulgado no dia 24 de agosto passado junto com o também rebelde Exército de Libertação Nacional (ELN).
Na Colômbia, além do governo, analistas, parlamentares e outros líderes políticos acolheram favoravelmente a iniciativa da reunião no Brasil, mas persistem sérias dúvidas sobre as intenções que têm as Farc de se aproximar das Nações Unidas. Analistas e dirigentes políticos estimam que o grupo rebelde só se interessa por apresentar, no Brasil, sua proposta de trocar vinte políticos e 40 militares por 300 guerrilheiros presos.