Geração de sonhadores

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Publicado Sexta, 27 de Março de 2015 às 14:23, por: CdB
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A atriz e escritora Maria Lúcia Dahl, nossa nova colunista, lembra da geração de sonhadores da época da ditadura
Estive pensando muito na minha geração da qual fui tiete. Admirei e defendi ardorosamente toda a sua virada de mesa dentro de um contexto geral: político, social, sexual, bissexual, feminista, libertário e até na revolução total da moda, nas saias, cabelos, reflexo imediato do pensamento vigente. Mas agora, depois dessa mesma geração estar no poder, comecei a repensar nossas atitudes. Pra mim, 68 não tinha erros, embora fosse uma geração experimental, e nem toda experiência está fadada ao sucesso, embora eu continue achando muito melhor tentar do que ficar parado. Quando Vladimir Palmeira subia num galho de árvore, durante as passeatas, dizendo: “ nós vamos tomar o poder!”, eu me preocupava por que nos achávamos jovens demais, sem experiência nem prática. Então, quando, finalmente ela tomou o poder, pensei : “”Agora tem tudo pra dar certo. Está todo mundo mais sábio, mais velho, mais experiente e amadurecido em suas ideias.” O que não podia imaginar, era que, pelo menos, a maioria não pensava mais daquele jeito. Como posso admitir que alguém vá preso e torturado por um ideal, se, realmente não acredita mais nele? Ninguem é crucificado pra ficar rico, privando o povo de escolas, hospitais, aposentadoria, dignidade. Ou se está de um lado ou de outro. Nunca pensei que o jornalista e sociólogo, Joelmir Betting, pudesse ter razão quando disse” que a nossa, foi uma geração de presos políticos que viraram políticos presos” Será que só jovem tem ideologia e com a idade, troca-se ideologia por poder? Que a força da grana realmente ergue e destrói coisa belas?” Ou éramos apenas sonhadores como dizia o Bertolucci? Libertários na ficção, na imaginação e que a teoria, na prática é outra? Ninguem mais tem carisma nem ideologia nesse país. • Querem que eu vá à passeata à favor do impeachment da Dilma. Mas, me digam uma coisa: “tira a Dilma e bota quem, hein?” Como é que se pode acreditar num país onde o juiz criminal toma o carro do condenado, passeia com ele pelas ruas e não contente com isso, ainda pega o dinheiro roubado guardado no cofre do Juizado e usufrui dele da forma que quer? Isso é piada? Não acho que tenhamos sido apenas sonhadores. Nossa teoria estava certa e o sonho só acabou, como disse Lênin e depois Lennon, por que o homem continua bárbaro e não evoluiu um segundo da Idade da Pedra até agora, em matéria de consciencia. Quem espalha miséria, sofrimento, escravidão, receberá tudo isso de volta. Para que vivêssemos em paz, bastaria amar o próximo como a nós mesmos. Mas quem é o próximo, hoje em dia? Aquele que esperou horas, pra finalmente ser chamado na fila do banco: “ o próximo! ” Mas tudo o que não for verdadeiro, sairá, finalmente do fundo do poço, sobrando, felizmente, a esperança. Só basta saber o que fazer com ela, por que não foi o sonho que acabou, mas o homem que escolheu o pesadelo! Maria Lúcia Dahl, atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil. Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins
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