No centésimo dia de governo de seu sucessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso continua reticente nas declarações sobre a política econômica que o PT vem conduzindo. Nesta quinta-feira, durante palestra em São Paulo, ele só arriscou dizer que a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou que agiu "responsavelmente" para voltar a atrair os investidores estrangeiros. A palestra era sobre "perspectivas da economia brasileira" e "governabilidade". No entanto, os cerca de 55 minutos de fala de FHC mal tocaram nas palavras "Lula" ou "Brasil". O cenário internacional e o ataque dos Estados Unidos ao Iraque monopolizaram o discurso. Após cerca de 45 minutos, FHC fez a primeira menção clara à administração de Lula. Ao contar a história do início do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 1945, o ex-presidente disse que, com o passar do tempo, a instituição perdeu importância. "O Fundo ficou fraco. E a prova disso foi que, no ano passado, o Fundo deu apoio fortíssimo ao modelo econômico brasileiro e os mercados não prestaram tanta atenção assim", afirmou. "No passado, caía tudo (risco-país e dólar, por exemplo) na hora. Aqui, não, os mercados responderam 'precisa ver como vem o novo governo'", acrescentou. Para Fernando Henrique, "só quando o novo governo começou a demonstrar que tinha capacidade de agir responsavelmente", os mercados começaram a dar sinais de confiança novamente. FHC só voltou a falar sobre o governo Lula após ser perguntado pelo mediador como a atual administração deveria se portar em relação ao conflito no Iraque. "Acho que a nossa diplomacia tem tradição nesta matéria que é consistente. Somos multilaterais, favoráveis à paz, sempre fazemos esforços para evitar a guerra. O governo atual está fazendo isso, está fazendo certo", disse. "Não faria diferente se estivesse na Presidência." Apesar do elogio, o tucano não deixou de provocar o petista, referindo-se a uma frase dita pelo presidente há cerca de duas semanas. Na ocasião, Lula disse que, na oposição, é possível fazer bravata, mas, na Presidência, não. Uma das críticas de FHC quando estava no poder era de que a oposição só sabia criticar. "Não temos cabedais para bravata, mas o Lula já disse que não está na posição de fazer bravata. Então para que bravata?", disse Fernando Henrique, tirando risos da platéia. "Agora, entre bravata e deixar de atuar e deixar de dizer o que pensa e tentar construir uma solução positiva, a diferença é grande." FHC ainda recomendou que o Brasil não se coloque na posição de "inimigo" contra "quem quer que seja". "Não pode ser uma posição cínica, tem de ser verdadeira, mas não uma posição de conflito."
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
FHC reconhece "responsabilidade" de governo Lula
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Publicado Quinta, 10 de Abril de 2003 às 08:50, por: CdB
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