EUA querem negociar dívida da AES com o Brasil

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Publicado Sexta, 07 de Março de 2003 às 14:05, por: CdB

O vice-presidente-executivo da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Mark Smith, defendeu o diálogo aberto entre o governo brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a AES para a solução da crise gerada pela inadimplência de sua subsidiária no País, que controla a Eletropaulo. Para Smith, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gerou incertezas suficientes nos mercados internacionais em relação ao Brasil no ano passado, quando ainda era candidato. Agora, em seu ponto de vista, deveria apoiar a postergação do pagamento da dívida da AES levando em conta os riscos de uma reestatização do setor de energia elétrica no País. "O presidente Lula, que tanto assustou os investidores no ano passado e que, com isso, provocou a derrubada do mercado brasileiro, deveria se mostrar aberto a um diálogo franco sobre a questão da AES", afirmou Smith, que é responsável pelo Conselho de Negócios Brasil-Estados Unidos. "Deve-se levar em consideração o quadro de expectativas sobre o mercado de energia. O setor está quebrado. Mas é melhor que continue sob o controle da iniciativa privada a ser reestatizado", completou. As declarações de Smith foram feitas antes da divulgação dos resultados da reunião entre representantes da AES e do BNDES, ontem no Rio de Janeiro. Na ocasião, o banco oficial insistiu em não conceder o prazo de prorrogamento solicitado pela empresa. Mas, por conta de regras fixadas no contrato de concessão do financiamento, a AES Transgás terá mais 90 dias para executar o pagamento de US$ 330 milhões, vencido na última sexta-feira. Essa subsidiária detém ações preferenciais (sem direito a voto) da Eletropaulo. No caso da AES Elpa, que conta com ações ordinárias (com direito a voto), inadimplente em US$ 85 milhões, o prazo 90 dias começou a ser contado em 28 de janeiro. Smith, entretanto, deixou clara a insatisfação de investidores americanos com os rumos que tomou o setor elétrico no Brasil. Para ele, não há um sistema regulatório eficiente, que garanta ganhos aos investidores mas que também impeça a escalada de tarifas ao consumidor. Tampouco há regras claras sobre o financiamento. Conforme argumentou, representantes da AES encontraram-se apenas uma vez com autoridades do BNDES antes da ameaça de execução das garantias, apesar da empresa ter solicitado audiências. A reunião de ontem, para ele, deveria ter ocorrido bem antes. "As regras do jogo não estão claras, apesar do desafio do Brasil de atrair investimentos para o setor elétrico", insistiu. "No final das contas, será ruim para ambos os lados. A AES perderá sua parcela na Eletropaulo, e o governo brasileiro dispenderá dinheiro com a administração dessa mesma parcela." Entretanto, Smith não quis responder a questões sobre os dois alertas feitos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que a AES não remetesse capital à matriz americana sem antes saldar seus débitos com o BNDES. Os recursos foram vetados de retornar ao País, já que a matriz nos Estados Unidos está igualmente quebrada. Apesar da defesa da manutenção da iniciativa privada no setor brasileiro, como meio de evitar dispêndios de recursos públicos, Smith não mostrou-se sensível ao fato de que o BNDES, um banco oficial de fomento, desembolsou US$ 1,2 bilhão permitir a compra da Eletropaulo pela AES.

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