Esquecer de si

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Publicado Terça, 29 de Janeiro de 2008 às 14:15, por: CdB
“O trabalho não é mais respeitável que o álcool e serve precisamente para o mesmo fim: distrair o espírito e fazer com que o homem se esqueça de si próprio”.
 
Começo a minha coluna de hoje com essa frase de Aldous Huxley, escritor inglês da década de 30 que escreveu o best seller Admirável mundo novo. Esse livro narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas.

Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais chamada "soma" (hoje temos o Rivotril, o Prozac, as cervejinhas, as cachacinhas entre outros, porém, com sérios efeitos colaterais).

Mais tarde, ele escreveu outro livro chamado O retorno ao admirável mundo novo que foi um ensaio onde ele demonstrava que muitas das "profecias" do seu romance anterior estavam se materializando graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.

O que somos nós hoje no século 21? Seres humanos em busca de harmonia e felicidade, desde a mais tenra idade. Esses sentimentos e sensações idealizadas através de contos de fadas, histórias infantis, filmes publicitários e longas-metragem, transformaram essa busca em algo “quase” insano e além de persistente, absurdamente massacrante. 

Uma vez conversando com o meu pai me deparei com o paradoxo do que é “ser feliz”. Eu poderia enumerar algumas e várias experiências felizes que aconteceram ao longo de minha vida, mas que não foram de forma nenhuma absolutas, no sentido de “eliminar” os maus sentimentos, as tristezas, as frustrações, as derrotas... Da mesma forma, o sentido de felicidade de meu pai divergia em gênero, número e grau do que eu considerava ser “a felicidade”. Por causa dela ou mesmo pela ilusão dela, nos drogamos legalmente ou ilegalmente, ficamos presos à comportamentos condicionados e também aprisionados, sem nos dar conta de que não existe de fato uma forma ou um padrão de “felicidade” único. O que existe é a felicidade de cada um na medida em que conseguimos viver com prazer, com sensação de fazer mais coisas legais do que não legais. Na medida em que conseguimos perceber a importância de ser quem somos.
 
Maria Beatriz Whitaker Penteado
biapenteado@uol.com.br
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Edição digital

 

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