Espiritualidades e reencantamento do mundo

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Publicado Quinta, 10 de Fevereiro de 2005 às 09:52, por: CdB

O V Fórum Social Mundial (FSM) foi um acontecimento grandioso. O resultado em números foi bem superior aos Fóruns anteriores. Inscreveram-se 155.000 pessoas, de 135 países, envolvendo 6.588 organizações para participarem aproximadamente de 2.500 atividades. Entretanto, conforme o Comitê Organizador, o Fórum chegou a acolher 180 mil participantes. Merece destaque a presença dos jovens, que vieram em peso a Porto Alegre. Só no acampamento da juventude estavam 35.000 pessoas. Os jovens definiram a "paisagem humana" do V FSM, com presença majoritária em quase todos os eventos. Foi uma contribuição decisiva para o clima de abertura, liberdade, espontaneidade, generosidade e diversidade deste evento único. Observou-se a presença de uma juventude militante, que reforçou o sonho e a esperança em um mundo novo. Se o Fórum foi uma "ilha de invenção de utopias", como lembrou Maria Rita Kehl, ou a "prefiguração de um mundo à medida dos valores do humanismo", como acentuou Emir Sader, deve-se em grande parte ao vigor desta presença jovem. E os jovens estavam sedentos, em busca de novos horizontes e de um novo sentido para a vida. Daí seu êxodo para as oficinas e experiências que apontavam para caminhos distintos, que favoreciam novas fragrâncias. Todas elas estavam repletas de jovens peregrinos, muitos deles em busca de algo em que confiar. Mesmo aqueles que se definiam "sem religião", não estavam desprovidos de espiritualidade, ou seja, aderiam a formas não institucionais de espiritualidade como as esotéricas, de nova era, holísticas, da ecologia profunda e assim por diante. Basta ver as atividades paralelas que ocorreram no Fórum, seja no acampamento da juventude, seja nos espaços ao longo do Guaíba, com as rodas de música, com as cirandas e danças de diversas procedências, como as verificadas no curioso espaço ocupado pelos "Nômades Galácticos", que fizeram lembrar os anos 70, bem ao estilo de Woodstock.
Uma das novidades deste Fórum foi a inclusão de um novo espaço temático, dedicado ao tema da ética, novas cosmovisões e espiritualidades. Trata-se de uma demanda suscitada nos Fóruns anteriores. Em pesquisa realizada pelo Ibase com os participantes do III FSM, verificou-se que 62,2% dos entrevistados afirmou ter uma religião. Nas diversas oficinas realizadas no IV FSM, em Mumbai na Índia, a relação com as espiritualidades era igualmente um traço característico. Em consulta feita pela internet antes do V FSM sobre sugestões para os temas de oficinas, a questão da espiritualidade apareceu com ênfase. Um tema que emergia quase como clandestino nos primeiros Fóruns foi ganhando força e vigor até merecer um espaço singular no Fórum de 2005. E o interessante é verificar que esta questão das espiritualidades irradiou-se pelas inúmeras oficinas ocorridas em outros espaços temáticos.

As oficinas realizadas no espaço temático k, dedicado ao tema das espiritualidades, mostraram com muito clareza a íntima relação que vigora entre a vida espiritual e a transformação social. Foi apresentada e mapeada uma série de iniciativas concretas de práticas espirituais e religiosas de diversas procedências envolvidas em trabalhos sociais, projetos educacionais e ambientais de longo alcance. A experiência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e sua espiritualidade libertadora foram apresentadas num dos dias, bem como as teologias libertadoras e sua presença social. A ativista social americana Eve Marko relatou suas experiências no âmbito do zen budismo em favor de uma espiritualidade engajada, sobretudo o seu reconhecido trabalho no círculo internacional Peacemaker; o militante hindu Siddhartha, da organização Fireflies Ashram Dinnepalya (Bangalore), participou de diversas oficinas falando sobre o seu trabalho em favor da defesa e promoção dos direitos humanos; André Porto, da organização Viva Rio e URI (Iniciativa das Religiões Unidas) relatou os trabalhos sociais desenvolvidos pelas diversas tradições religiosas no Rio de Janeiro, em particular

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