Escândalo abala Partido Conservador na Inglaterra

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Publicado Domingo, 25 de Março de 2012 às 13:59, por: CdB

Escândalo abala Partido Conservador na InglaterraO tesoureiro do Partido Conservador, Peter Cruddas, foi filmado secretamente por jornalistas enquanto pedia doações em troca de favores da coalizão conservadora-liberal democrata. Na gravação realizada com uma câmara oculta, Cruddas garante que em troca de um pagamento de 250 mil libras esterlinas, os doadores teriam acesso à “Premier League”, metáfora futebolística para se referir ao primeiro ministro David Cameron e a seu gabinete. O artigo é de Marcelo Justo.

Marcelo Justo - Direto de Londres

Londres - O primeiro ministro David Cameron qualificou como “totalmente inaceitável” a conduta do tesoureiro do Partido Conservador, Peter Cruddas, filmado secretamente enquanto pedia doações em troca de favores da coalizão conservadora-liberal democrata. Na gravação com câmara oculta, Cruddas garante que em troca de um pagamento de 250 mil libras esterlinas, os doadores teriam acesso à “Premier League”, metáfora futebolística para se referir ao primeiro ministro e seu gabinete, enquanto que 100 mil libras abririam a porta “aos últimos postos da Premier League”, supostamente deputados e secretários de Estado.

A revelação custou o posto a Cruddas que renunciou neste domingo à função de tesoureiro do Partido Conservador. O primeiro ministro prometeu uma investigação interna para “assegurar que isso não volte a ocorrer”. Mas o passado condena os conservadores: há 15 anos estiveram envolvidos num escândalo similar, que significou o começo do fim do então primeiro ministro John Major.

Dois jornalistas do dominical Sunday Times apresentaram-se a Cruddas como investidores de um fundo com sede no paraíso fiscal de Liechtenstein. Na câmera oculta, o agora ex-tesoureiro do Partido Conservador assegura enfaticamente que as 250 mil libras dariam acesso a encontros com o primeiro ministro a quem poderiam expressar suas preocupações com a política governamental.

Além disso, Cruddas prometia que esses temas encontrariam bom trânsito junto ao comitê que formula a política em 10 Downing Street, residência oficial do primeiro ministro. “Se não estão contentes com algo, os escutaremos e levaremos sua preocupação ao comitê de política de Downing Street. Sempre fazemos isso”, disse Cruddas.

A lei britânica sobre doações partidárias exige que aquelas acima de 7.500 libras sejam declaradas publicamente e autoriza a realização de jantas e festas para a arrecadação. O grande problema revelado pela matéria do Sunday Times é a promessa feita por Cruddas de influir na política governamental por meio do acesso ao primeiro ministro, a seu gabinete e ao Comitê de Política.

Um exemplo deste acesso foi a promessa feita por Cruddas em relação à companhia estatal de Correios, Royal Mail, uma das poucas joias da Coroa que segue nas mãos do Estado e que há algum tempo está na mira dos conservadores. O “fundo de investimento” de Lichtenstein, Zenith, queria adquirir a Royal Mail, um tema sobre o qual Cruddas assegurou aos “investidores” que poderiam conversar com o primeiro ministro e fazer chegar ao Comitê de Política.

Em sua renúncia, Cruddas desmentiu que seja possível esse tipo de acesso e o Partido Conservador assinalou que as próprias regras partidárias impediriam que uma doação desta natureza se concretizasse, mas que haveria uma investigação para determinar se é necessário ajustar os mecanismos internos para assegurar uma maior transparência e clareza sobre o tema.

O dano político está feito. O foco agora será colocado nos doadores do Partido Conservador e nos vínculos que têm com o mundo do dinheiro. Os trabalhistas exigiram uma investigação independente e perguntaram que doadores se beneficiaram com a medida que reduziu impostos para os mais ricos, divulgada no anúncio do orçamento quarta-feira passada. O caso lembra outro ocorrido em 1994, quando o jornal The Guardian denunciou que os deputados conservadores tinham aceitado dinheiro em troca de levantar questões no Parlamento sobre temas de interesse empresarial. Neste contexto, o primeiro ministro terá que suar muito a camisa para evitar que se consolide uma conclusão inevitável: que o Partido Conservador é incorrigível.

Tradução: Katarina Peixoto


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